Adolfo Konder - Reprodução/Facebook
Adolfo KonderReprodução/Facebook
Por O Dia
O novo presidente do Detran, Adolfo Konder, enfrentou vários desafios em pouco espaço tempo. Candidato derrotado a prefeito de São Gonçalo, não esmoreceu e continua firme seu caminho; por breve tempo, foi presidente da MultiRio, agência multimeios geradora de produtos culturais, tanto audiovisuais, como impressos, totalmente voltada para a Educação da rede de ensino do Rio. Promovido, ocupou o mais alto cargo da Secretaria de Cultura. Na sua posse há um ano, o prefeito Crivella exaltou suas qualidades e demonstrou publicamente sua convicção que havia acertado na nomeação. Graças à sua capacidade de gestão e simpatia agregadora, Konder foi somando incumbências determinadas pelo prefeito, chegou até a integrar o Gabinete de Crise, criado pela Prefeitura do Rio, para ações de combate ao coronavírus. Por desvios da vida, o secretário de Cultura foi vítima da Covid-19, mas logo estava de volta. De forma surpreendente, ele recebeu o convite do governador interino, Cláudio Castro, e aceitou ser o novo presidente do Detran, autarquia central na máquina pública. Órgão cobiçado por partidos políticos. A permanência na função depende de uma complexa conexão de interesses. Nesta entrevista, pela primeira vez, Konder explica o que pretende fazer no Detran e quais são suas prioridades, agora respondendo a um outro chefe, o governador.

O senhor deixou a pasta da Cultura no município para assumir um dos órgãos mais poderosos do estado: o Detran. Qual será a sua prioridade? E o que o senhor encontrou?

Encontrei o cidadão que é usuário do Detran, ávido por agendamento dos serviços. Passamos vários meses com as atividades suspensas em função da pandemia e essa demanda represada acumulou com a demanda usual do órgão. Então, a primeira coisa é buscar soluções para atender a população como ela precisa. De imediato, determinei uma série de mutirões de serviços. Neste sábado, fizemos um piloto para 600 pessoas na sede, no Centro do Rio. Foi um teste para a operação. E vamos também começar a ampliar esta oferta de vagas para todas as regiões do estado até que essa questão do agendamento esteja regularizada. O meu objetivo no Detran agora é dar o que a população está pedindo: vagas para realizarem os serviços necessários. Resolvendo esse represamento, fruto da pandemia, partimos para uma segunda fase que é a modernização do órgão, feita através da revisão de contratos, do investimento em tecnologia e na descentralização dos serviços. Tornaremos o Detran mais digital para facilitar a vida das pessoas. O Detran precisa de agilidade para atender melhor o cidadão fluminense.

O Detran é visto por muita gente como cabide de emprego e local de influência externa de políticos. Como o senhor pretende enfrentar esta má fama?

O Detran atende milhões de pessoas em quase 500 postos espalhados por todo o estado. Essa capilaridade só é possível porque temos colaboradores que trabalham muito. É preciso frisar que temos um servidor aguerrido, que veste a camisa e vem trabalhar aos sábados, quando a população precisa, como aconteceu ontem quando convoquei esse mutirão de serviços. Gente que ama a instituição. Mas, se houver qualquer problema, também vamos apurar, intensificando as ações da corregedoria. Elas terão começo, meio e fim. E também vamos levar serviço. Isso é primordial. É o que a população mais quer neste momento. Em paralelo, vamos fazer com que o Detran se digitalize, para ser mais ágil e menos burocrático. O órgão precisa fortalecer sua imagem e vai. Conheço bem a realidade do Detran. Fui coordenador de cinco postos aqui há cerca de 20 anos. Entre eles, alguns principais, como o da Avenida Brasil e da Machado de Assis, no Largo do Machado. Sei a realidade de todas as pontas.

Existe um déficit na progressão funcional e no plano de cargos e salários. Esse tema será tratado de forma prioritária na sua gestão?

Os funcionários, servidores ou terceirizados, são sempre prioridade. Por isso, já tivemos na quarta-feira uma reunião com o sindicato dos servidores e estamos verificando hipóteses para melhorar as condições de trabalho. Vamos tratar de cada tema das demandas encaminhadas pelos servidores, estando mais próximos deles. Já estamos montando um grupo de trabalho misto, com colaboradores e direção para verificar suas demandas e encontrar formas de atendê-las. Os servidores estarão juntos no planejamento da gestão. O Estado do Rio, como todos sabem, está no Regime de Recuperação Fiscal. E essa questão da progressão está sendo discutida pelo conselho supervisor do Regime de Recuperação Fiscal e os órgãos técnicos do governo. Vamos acompanhar de perto.

As filas em frente ao órgão, na Presidente Vargas, são imensas. Quando tudo voltará ao normal?

Vamos começar com os mutirões, mas já estamos trabalhando para reabrir, ainda esse mês, dezenas de outros postos que continuam fechados por causa da pandemia. Tudo será sempre feito com cuidado com os servidores. Contamos também para breve com a ampliação do efetivo. Mas frisamos sempre que há muitos serviços que não precisam ser feitos neste momento, justamente porque, por estarmos na pandemia, eles foram suspensos, beneficiando o nosso usuário. Um desses serviços é a carteira de habilitação. A CNH que expirou do dia 19 de fevereiro para cá não precisa ser renovada. Todos esses documentos tiveram a sua validade prorrogada por tempo indeterminado enquanto durar a pandemia. Transferência de propriedade também está com multa suspensa. No nosso site, todas essas informações estão disponibilizadas. Basta verificar lá e verão que boa parte das pessoas, talvez, nem precise solicitar os serviços.

Qual foi a orientação que o senhor recebeu do governador Cláudio Castro?

A orientação do governador foi muito clara: atender satisfatoriamente a população. Trabalhar com transparência e desburocratizar. O governador também quer o Detran mais moderno para atender melhor o cidadão fluminense.

O cidadão se sente muito oprimido com a profusão de impostos e taxas de todos os lados. O Detran sob a sua direção pretende aliviar o bolso do proprietário?

Entendemos claramente a função social do Detran e damos assistência às populações em vulnerabilidade social. Por isso, vou reforçar as ações em comunidades e mutirões para atender a quem necessita. Ao mesmo tempo, estamos revendo contratos e estruturas e, se for possível, buscando diminuir custos.

Como reduzir o número de acidentes de trânsito?

Acreditamos muito nas crianças como fator reprodutor das mensagens educativas. Por isso, vamos intensificar a relação com as escolas e treinar este futuro condutor e pedestre para a direção defensiva e o uso prudente dos espaços coletivos. Também fortaleceremos ações que reforcem a mobilidade urbana na cidade e valorizaremos o uso de outros veículos como a bicicleta. Acreditamos que trânsito é educação. Depende de pequenos gestos, pequenos hábitos por respeito à própria vida e à do outro. Por isso vamos intensificar as ações da nossa coordenadoria de Educação. Não é uma coisa do outro mundo: silenciar as notificações do celular quando entrar no carro para não ter a tentação de teclar, não digitar enquanto dirige, parar antes da faixa de pedestres e respeitar o lugar para motos, quando houver. Parece óbvio? Mas não é. Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostram que houve 40% menos vítimas de acidentes no trânsito de janeiro a agosto deste ano, em relação ao mesmo período de 2019. Claro que as pessoas estavam em isolamento. Mas é possível manter esse índice na retomada ou até diminuir. A gente aprendeu na pandemia a colocar máscara para sair de casa, tirar o sapato antes de entrar na residência, passar álcool em gel. Foram pequenos hábitos que salvaram nossas vidas. Está na hora de levarmos esse aprendizado para outras áreas da nossa vida, inclusive no trânsito.

Como o senhor pretende construir um Detran melhor para os servidores?

O princípio de tudo é a Governança. Planejamento para curto, médio e longo prazo é fundamental. Vamos trazer os servidores para um modelo de novo Detran, que acho que eles também desejam. Tanto servidores quanto terceirizados precisam de um ambiente de trabalho que tenha comando, organização e previsibilidade. Eu já fui um deles e sei o que sentem. É preciso fortalecer o orgulho de ser colaborador do Detran, até para o funcionário atender melhor o cidadão. Vamos construir juntos o planejamento e o futuro do departamento. Criar melhores condições nos espaços de trabalho para que ele tenha mais qualidade e consequentemente mais rendimento e gere resultado na ponta. O norte é transparência e planejamento em conjunto para que o servidor tenha clareza do rumo da instituição.