Em seu segundo mandato à frente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio RJ), Antônio Florêncio de Queiroz Junior acumula, ainda, a presidência do Conselho Regional do Sesc RJ e do Senac RJ. Com as eleições municipais deste ano, ele acredita que “quem quer que seja eleito em outubro, seja governista ou de oposição ao governador, ou ao presidente da República, o importante é que haja diálogo e compromisso com uma administração que impacte positivamente a qualidade de vida dos nossos cidadãos”.
Como o senhor encara o impacto da situação da segurança pública no Rio de Janeiro sobre o varejo e turismo?
Temos que ver essa questão sob duas perspectivas que se complementam: de um lado, o que acontece no momento atual, amparado em bases estatísticas, dados científicos. Mas há uma segunda perspectiva que é também fundamental, tão importante quanto: a percepção de segurança. A sensação de segurança passa por policiamento presente, passa pelo comércio funcionando, cidade movimentada, ruas iluminadas, árvores podadas, uma coisa leva à outra. Os moradores precisam seguir suas vidas com liberdade, circular em segurança, o Estado tem que garantir que o direito de ir e vir seja exercido de maneira plena. Se funciona para quem vive aqui, certamente vai funcionar para quem nos visita. Isso vale tanto para as principais áreas turísticas, pontos turísticos, quanto para a logística de circulação do turista, como é o deslocamento para RIOgaleão.
Este ano temos eleições municipais. Qual é o impacto para o setor produtivo e para a economia?
Prefeitos e vereadores, sendo os agentes mais próximos dos cidadãos, têm papel fundamental na formulação de políticas públicas e na tomada de decisões que afetam diretamente a economia local, incluindo o comércio e o turismo. Os poderes têm seus limites, mas a gestão municipal tem grande influência sobre o ambiente de negócios na cidade. Por exemplo, decisões relacionadas à burocracia para a abertura e operação de negócios, tributação local como o IPTU e o ISS, limpeza e iluminação urbana, assim como investimentos em infraestrutura de forma geral impactam significativamente o comércio e os serviços. Uma gestão que favoreça um ambiente de negócios mais ágil e menos burocrático tende a incentivar o empreendedorismo, o que é vital para o comércio de bens, serviços e turismo, para a geração de emprego e renda. Ações isoladas não são tão eficientes quanto medidas mais coordenadas, políticas que caminhem num mesmo sentido. Por isso, eu considero que o ideal é haver um alinhamento de propósitos entre os três níveis federativos. Cada um desses entes - Município, Estado e União - é independente entre si. E que bom que é assim. O que o setor produtivo vê como positivo é o alinhamento e cooperação entre esses níveis, uma harmonia que se dá na troca genuína de ideias, de expectativas, de experiências, de projetos comuns. O diálogo de políticos com o empresariado é fundamental para o crescimento da economia. Portanto, quem quer que seja eleito em outubro, seja governista ou de oposição ao governador, ou ao presidente da República, o importante é que haja diálogo e compromisso com uma administração que impacte positivamente a qualidade de vida dos nossos cidadãos.
Quais as perspectivas para o turismo e o comércio no Rio de Janeiro em 2024?
Estamos muito esperançosos com 2024 e parte desse ânimo tem a ver com uma medida que finalmente será colocada em prática no Brasil, que é a adoção do programa Tax Free, uma bandeira da Fecomércio RJ. Ao que tudo indica, o Rio de Janeiro será o pioneiro no país. Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Fecomércio, em 2023, a projeção é que isso estimule os turistas estrangeiros a gastar R$ 2 bilhões a mais do que eles já gastam no país atualmente. E o que é o tax free? Trata-se de um sistema de devolução de impostos (no caso, do ICMS) que são pagos na aquisição de mercadorias por turistas estrangeiros. Para o comércio do Rio será uma novidade muito positiva. Um estímulo já bem estabelecido, por exemplo, na Europa e mesmo em países vizinhos, como Argentina e Uruguai. Representa um antigo pleito e que foi aprovado, em setembro, no conselho que reúne os secretários de Fazenda de todos os estados do país. A expectativa é que seja implantado ainda no primeiro semestre, começando no Rio de Janeiro.
E quanto ao turismo de negócios e eventos? Como o Rio pode aproveitar esse segmento de maneira eficiente, pensando também no impacto positivo para o comércio?
Esse é um segmento importantíssimo para dar sustentação ao setor de comércio e serviços por alguns fatores. Um deles é que esse tipo de turismo ajuda a gente a driblar a questão da sazonalidade, que, mesmo numa cidade ou num estado como o Rio de Janeiro, também acaba tendo um impacto. Ou seja, um calendário de eventos relevante, suportado por uma excelente rede hoteleira, dá força para uma previsibilidade que, do ponto de vista do comércio, é essencial no sentido de planejamento, de investimentos, até mesmo de contratações temporárias. Outro aspecto é a diversidade de público que o corporativo e eventos propiciam. Uma grande feira de tecnologia atrai um público distinto, em grande medida, do que um grande festival de música. Mas o consumo está latente em ambos os segmentos. Não necessariamente dos mesmos produtos. Ou seja, um calendário de eventos abrangente ajuda a diversificar o fluxo de visitantes e o consumo em nossa cidade. Acredito que, ano após ano, isso tem ficado mais intenso. E cada vez mais vamos posicionando o Rio para além do destino de turismo focado em lazer e natureza. Esse mercado está aquecido e o Rio tem todas as condições de manter essa chama acesa.
O governo federal acabou adiando a exigência de visto para turistas vindos dos Estados Unidos, Canadá e Austrália. Imagino que o setor esteja mais aliviado, mas como a exigência de visto pode de fato impactar o turismo?
Todos sabemos da importância enorme que o turismo tem para o Rio de Janeiro. Então, sim, vemos com bons olhos o adiamento dessa política, mas consideramos que é muito importante que esse adiamento se transforme em política permanente. Não tem que ter esse visto. É preciso colocar na balança dois pontos justos: de um lado, a diplomacia, o princípio da reciprocidade, mas de outro também a lógica da geração de renda, de empregos. Não podemos dificultar a vinda de visitantes estrangeiros. A burocracia tem que ser no limite da segurança, do cumprimento das leis, mas não representar um entrave para iniciativas que buscam transformar o turismo em riqueza para o país e para as pessoas.
Em janeiro foi realizada, nos Estados Unidos, a NRF Retail Big Show. Que lições o varejo brasileiro pode tirar deste evento?
É a feira mais relevante do mundo para o setor do varejo, e uma oportunidade única para captar as tendências do mercado. A gente faz esse exercício há alguns anos e acabamos de proporcionar ao varejista aqui do Rio experiências e conhecimento sobre tendências para o desenvolvimento do negócio, de sua atividade e os melhores caminhos para alcançá-lo. Na edição deste ano, ficou claro, por exemplo, o papel que a inteligência artificial vai ter para agilizar processos, para facilitar vendas. A ideia, portanto, é usar esse background, essa inspiração obtida em eventos como a NRF para possibilitar que o nosso mercado se adapte a isso da maneira mais célere e efetiva possível.