Pedro Túlio Rocha, presidente da Sociedade de Nefrologia do estado do Rio de Janeiro e coordenador do Programa de Transplante Renal, entre outros hospitais, do São Lucas, em Copacabana, e Silvestre, no Cosme Velho, alerta sobre a doação de órgãos no Brasil. Apesar dos avanços nos últimos anos, que coloca o país em uma posição intermediária no cenário mundial, a doação enfrenta desafios. "Há incredulidade no sistema de saúde como um todo e infraestrutura hospitalar insuficiente em certas regiões", aponta.

SIDNEY: Qual é a situação atual da doação de órgãos no Brasil?

PEDRO ROCHA: O Brasil é o terceiro país em número de transplantes realizados no mundo, atrás apenas de Estados Unidos e China. Somos o maior programa de transplante público do mundo, o que é um grande orgulho. Apesar disso, a doação de órgãos no Brasil enfrenta desafios significativos, apesar dos avanços nos últimos anos. Passado um momento de grande declínio com a pandemia, já estamos em recuperação, porém ainda há um grande número de pacientes à espera de transplantes e a escassez de doadores se mantém como um dos principais obstáculos.

O que dificulta o aumento das doações?
Existem vários fatores que contribuem para isso. Entre eles, a falta de informação e conscientização da população sobre a importância da doação, incredulidade no sistema de saúde como um todo e a infraestrutura hospitalar, que pode ser insuficiente em certas regiões.

Atualmente, qual é a taxa de doação?

O Brasil tem cerca de 20 doadores por milhão de população, o que o coloca em uma posição intermediária no cenário global. Um aspecto a ser ressaltado é que temos diferentes realidades regionais. Enquanto estados como Santa Catarina e Paraná têm taxas acima de 40 doadores por milhão de população, semelhante a países da Europa, como Espanha, que são líderes mundiais, alguns estados do Norte e Centro-Oeste têm taxas inferiores a 5 doadores por milhão de população.

Existem parcerias para campanhas de conscientização?

A Sociedade de Nefrologia do Estado do Rio de Janeiro (SONERJ) está envolvida em várias iniciativas educacionais, tanto para profissionais de saúde quanto para o público em geral, visando aumentar a conscientização sobre a doação de órgãos. Também participamos de parcerias com outras sociedades como a de cardiologia e hepatologia, além de entidades de pacientes e fundações beneficentes como a Fundação do Rim, que auxilia crianças com doença renal crônica.

Houve algum avanço nos transplantes?

Recentemente, temos visto avanços tecnológicos que melhoram a preservação de órgãos através de máquinas, além do xenotransplante, que é a utilização de órgãos de porcos geneticamente modificados, terapia que sempre foi vista como promissora, mas estava sem grandes avanços há décadas. Nos últimos dois anos, casos iniciais foram realizados nos Estados Unidos, incluindo o capitaneado pelo Dr Leonardo Riella, nefrologista brasileiro radicado em Boston, nos Estados Unidos, que é considerado o primeiro xenotransplante bem-sucedido em uma pessoa viva.

Quantos brasileiros estão na fila à espera de um transplante?

Dados de 2024 da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) e do Sistema Nacional de Transplante (SNT) mostram que mais de 64 mil brasileiros aguardam por um transplante de órgão ou tecido, sendo cerca de 35 mil aguardando um rim, 1400 aguardando fígado, 350 aguardando coração e mais de 26 mil aguardando córneas.