Denúncia do MP aponta que ex-procurador receberia R$ 150 mil mensais da organização de Sérgio Cabral - Divulgação
Denúncia do MP aponta que ex-procurador receberia R$ 150 mil mensais da organização de Sérgio CabralDivulgação
Por ADRIANA CRUZ

Rio - Acusado de integrar a quadrilha comandada pelo ex-governador Sérgio Cabral, o ex-procurador-geral do Ministério Público, Cláudio Soares Lopes, usou R$ 200 mil em dinheiro vivo para adquirir casa no balneário de Búzios, em 2011. O valor total do imóvel era de R$ 500 mil. Os R$ 300 mil restantes foram pagos em cheques. À época, segundo a denúncia do próprio MP contra Lopes, por formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva e quebra de sigilo funcional, ele já recebia mesada R$ 150 mil da organização criminosa de Cabral. Na negociação da residência, o ex-procurador-geral obrigou a vendedora a aceitar parte do montante em espécie.

Em depoimento ao MP, a vendedora contou que "quando o corretor entrou em contato (...), logo lhe informou que na proposta havia o pagamento de um valor significativo em dinheiro". Ela alegou que não poderia receber por questões de segurança e sugeriu que o negócio fosse fechado em uma agência bancária, na Barra. Disse ainda que Lopes levou o dinheiro, que foi depositado na conta corrente dela, assim como a parte do que foi quitado em cheque.

Durante a investigação, Lopes justificou a compra. "Adquiri uma pequena casa em Búzios, financiada pela Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo dos Integrantes do MP e da Defensoria Pública, com desconto em folha de pagamento e fruto da verba recebida pela Parcela Autônoma de Equivalência, que fui o primeiro procurador-geral a instituir e que pago em condições e valores sem paralelo no Brasil". Mas, ao depor em 28 de setembro de 2018, Lopes apresentou outra versão sobre o caso: "a parcela de R$ 200 mil, que foi paga em dinheiro vivo, foi fruto da atividade que exercida, desde 1991, no magistério, principalmente em cursos preparatórios".

Banho-maria

Por enquanto, a denúncia contra Lopes, Cabral, Wilson Carlos, ex-secretário de Governo, e Sérgio Oliveira, o Serjão, operador financeiro de Cabral, está em banho-maria. O desembargador Reinaldo Pinto Alberto Filho decidiu notificar os acusados para apresentar defesa em 15 dias. Só depois, Filho irá apreciar os pedidos de prisão preventiva e perda do exercício da função contra Lopes, a quebra do sigilo bancário e fiscal, inclusive, o da mulher de Lopes, Ana Beatriz, e o sequestro de bens e valores até R$ 7,2 milhões, dinheiro que teria servido à quadrilha. Lopes pediu que no caso de decretação da prisão haja substituição por outras medidas, uma delas é o uso da tornozeleira eletrônica.

Acusado de levar inquérito sobre Sérgio Côrtes para casa

Apontado como o responsável pelo vazamento de investigação do MP contra o ex-secretário estadual de Saúde Sérgio Côrtes, em 2010, Cláudio Lopes levou os documentos da investigação para casa entre 10 de outubro a 10 de dezembro de 2010. Ele ficou com o inquérito durante 57 dias, sem atender aos pedidos de devolução do procurador-geral em exercício, Carlos Navega, falecido. Neste período, Lopes estava afastado do cargo de procurador-geral, concorrendo à nova eleição para voltar ao posto.

Além disso, Lopes pressionava promotores da Coordenadoria de Combate à Sonegação Fiscal (Coesf) que trabalhavam no caso a dar informações a respeito. Antes de deixar a cadeira, no início de janeiro de 2013, ele arquivou o procedimento com base no parecer do procurador de Justiça Charles Van Hombeeck Junior, falecido, sem encaminhar ao Conselho Superior do MP, que chancela a decisão.

Lopes é apontado pelo ex-subsecretário de Saúde Cesar Romero como o responsável por vazar a Côrtes operação de busca e apreensão de provas, que acabaram destruídas na casa de dele, em 2010.

Visitas ao Palácio uma vez por mês

O motorista do ex-procurador-geral Claudio Lopes, confirmou, ao MP, que ia, no mínimo, uma vez por mês, tanto no Palácio Guanabara, como no Laranjeiras. E que, normalmente, Cláudio Lopes andava com uma maleta de couro e que as visitas eram rápidas e duravam, no máximo, 15 minutos.

Segundo o MP, o esquema de corrupção começou no final de 2008 quando Lopes era candidato ao maior posto do MP e teria recebido R$ 300 mil para campanha até dezembro de 2012, quando ele encerrou dois mandatos seguidos.

De acordo com os delatores Sérgio de Castro, o Serjão, e Carlos Miranda, Lopes e Wilson Carlos, operador da quadrilha, se encontravam nos palácios para o pagamento da mesada de R$ 150 mil ao ex-procurador-geral. Miranda sustentou que mesmo depois de assumir o cargo, ele continuou a receber o valor mensalmente.

Por determinação do procurador-geral em exercício Mesmo afastado de suas funções por 60 dias por decisão do procurador-geral em exercício, Ricardo Ribeiro Martins, Lopes não pode atuar na 6ª Câmara Criminal e nem como membro do Conselho Superior do Ministério Público por 60 dias, mas continua a receber salário líquido de R$ 26 mil, com direito a auxílio-moradia.

Colaborou Wilson Aquino

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