Osmar Silveira interpreta o Narciso em 'Segundo Sol' - SERGIO BAIA/Divulgação
Osmar Silveira interpreta o Narciso em 'Segundo Sol'SERGIO BAIA/Divulgação
Por Leo Dias

Os cabelos cacheados e o olhar de menino fazem a mulherada suspirar quando ele aparece em 'Segundo Sol'. Osmar Silveira, o Narciso, nasceu em Mato Grosso e se mudou pro Rio aos 18 anos em busca de uma oportunidade profissional. Saiu com a cara, a coragem e um certo aperto no peito por deixar a família. Na época, ele nem se achava bonito. Depois que trabalhou sua autoestima, se acha 'um cara bonito, mas nada além do normal'. Para ganhar seu lugar ao sol, vendeu alguns eletrodomésticos que tinha em casa. Hoje, vive exclusivamente do seu ofício.

Como está sendo pra você estrear na Globo no horário nobre?

Ao mesmo tempo que estou pulando de felicidade, sei da imensa responsabilidade que carrego. Estou trabalhando com um time que sempre quis trabalhar e toda vez que eu penso nisso me dá um frio na barriga. Tenho tentado entregar o meu melhor diariamente e nesses últimos dias tenho sentido o peso dessa responsabilidade pelo alcance das pessoas. Estou sendo abordado nas ruas, sendo reconhecido, então tem sido uma experiência nova, desafiadora e de muita aprendizagem.

Estar na novela das nove da Globo é um sonho realizado?

Sim! Desde muito pequeno sonhava fazer uma novela na Globo. Quando morava no interior do Mato Grosso, sentava na frente da TV e gostava de me imaginar no lugar daqueles atores, pensando como seria fazer uma novela e hoje estando nesse lugar eu me sinto realizando esse sonho.

Como surgiu essa oportunidade?

Eu estava terminando de gravar a novela da Record 'O Rico e o Lázaro', quando a produtora de elenco me ligou perguntando se eu poderia mandar o meu material porque eles estavam realizando uma pesquisa de elenco para a próxima novela das nove e assim eu fiz. Eles avaliaram, gostaram do meu perfil e me convidaram para viver o Narciso.

Qual seu maior desafio com Narciso?

Acredito que tenha sido me adaptar com a linguagem. Estava vindo de duas novelas seguidas com uma linguagem mais formal e precisei fazer alguns exercícios para transpor essa embocadura e trazer uma fala mais natural para o Narciso.

Esse personagem tem te ensinado muito?

Sempre aprendo com os personagens. O Narciso, apesar de nem sempre agir da melhor maneira, tem atitudes muito nobres, como não medir esforços para ajudar Manuela (Luísa Arraes), como vocês vão acompanhar nas sequências que estão por vir. Então esse lado humano e apaixonado que ele traz é bastante inspirador para mim.

Qual foi sua inspiração para dar vida ao Narciso?

Eu não acredito no ser humano feito só da maldade ou só da bondade. Acho que oscilamos entre esse polos e, partindo disso, eu tentei construir um Narciso que erra, acerta, sente raiva e ama.

Tem muita parceria em cena entre você e Giovanna Lancellotti?

É difícil não ter uma parceria com ela. Adoro a Giovanna, admiro demais o trabalho dela, sem contar na pessoa que é muito divertida , engraçada e contagia à todos. Ela também veio do interior como eu, é super humilde e isso torna o trabalho muito mais agradável. Adoro contracenar com ela.

Você foi o substituto do Emílio Dantas no musical 'Cazuza - Pro Dia Nascer Feliz'. Como está sendo para você estar na mesma novela que ele?

Tem sido inspirador. Sou um grande admirador do trabalho do Emílio, desde quando fazíamos 'Cazuza', sempre me inspirei muito no Cazuza que ele trazia, para compor o meu. E hoje encontrá-lo, depois de alguns anos, ambos mais maduros, em momentos diferentes de carreira, é muito gratificante. Continuo admirando e fã do trabalho que ele faz.

Você já foi bailarino. Por que desistiu da dança? Pensa em voltar?

Eu desde pequeno trouxe a dança, a música e o teatro comigo. Iniciei com o teatro, depois fui para o canto e em seguida a dança. Sempre gostei de dançar. A música alimenta a alma e é um excelente exercício para desestressar. Tive que parar porque sofri uma lesão na virilha e não consegui mais executar movimentos que eram importantes para a dança. Mas sempre que posso coloco o corpo pra 'balançar', claro que agora com uma nova consciência corporal limitada, mas nada que atrapalhe a diversão. Eu adoraria poder voltar, apesar de estar mais focado na área de atuação. Irei levar sempre a dança comigo.

Sofreu bullying por ter feito balé?

Sofri quando era mais novo no teatro, porque nem todos viam com bons olhos na cidade. Já na dança, como eu era mais velho, não que eu saiba. Pelo menos não chegou até a mim. Mas afirmo que foi fundamental para eu chegar onde estou hoje. Me ajudou a ter mais disciplina, alongamento, postura, e a passar em alguns testes de musical em que os atores precisavam dançar.

Você já trabalhou com outra coisa antes de ser ator?

Já. Mas tudo ligado a arte. Comecei minha carreira muito pequeno ainda, com oito anos de idade, mas aos 16 eu já dava aula para turma de atores iniciantes. Com 19 cursei psicologia e aos 22 me tornei coordenador de cultura da minha cidade, tomando conta de todos os eventos e projetos ligados à cultura no município. Minha grande paixão sempre foi a atuação. Hoje não me vejo fazendo outra coisa .

Pode contar um pouco das dificuldades enfrentadas até chegar à Globo?

As minhas maiores dificuldades foram logo quando cheguei aqui, ainda fazendo teatro, onde eu não era conhecido e a remuneração nem sempre cobria todas as minhas despesas do mês. Na época tive que vender algumas coisas de casa para ir me mantendo aqui e para não ter que voltar para o Mato Grosso. Então vendi TV, computador, coisas de valor que podiam me ajudar a vencer esses obstáculos. Mas depois de um tempo as coisas foram melhorando. Comecei a fazer musicais maiores e depois as novelas. Hoje eu vivo da minha arte com muito orgulho dessa trajetória que tive até aqui.

Já pensou em seguir uma carreira diferente?

Aos 16 anos eu dava aula de iniciação teatral para crianças e já estava terminando o ensino médio, então prestei vestibular para pedagogia. Fiz um semestre e tranquei. Depois, cursei psicologia mas faltando menos de dois semestres para concluir, abandonei o curso porque estava viajando em turnê com uma companhia de teatro, ganhando dinheiro e completamente apaixonado pela arte.

Como foi a reação dos seus pais quando você disse que precisava ser emancipado aos 16 anos para começar sua carreira de ator?

Eles me deram o maior apoio. Acho que nessa época eles já sabiam que não tinha jeito. Eu já tinha sido picado pelo 'bichinho da arte' e não tinha pra onde correr. Eles me deram todo o suporte que precisei.

Eles sempre te apoiaram nesse propósito?

Sempre. Desde criança sempre me deram apoio em tudo o que fiz. Minha mãe às vezes costurava figurinos para as minhas apresentações. Outras vezes eu desenhava os cenários e ela me ajudava a fabricar... Tive pais sempre presentes na minha educação, apoiando minhas escolhas e me acolhendo nas derrotas. Sou muito grato ao apoio que tive da minha família.

E o que eles disseram quando você decidiu vir morar no Rio?

Até hoje lembro de minha mãe na porta chorando. Apesar de eu na época já ser maior de idade, sou o filho caçula, e o último que restava em casa, então imagino a dor que ela sentiu nesse momento. Depois de algum tempo, todos aceitaram bem, mas sempre preocupados comigo, por estar sozinho em uma cidade tão grande. Minha adaptação aqui foi tranquila, logo fiz amigos e acabávamos uns cuidando dos outros, o que tranquilizou bastante a família.

Como foi essa mudança para você?

Foi um recomeço. Eu já havia protelado a minha vinda por algumas vezes, mas foi uma grande mudança largar família, amigos, casa, conforto, estabilidade para desbravar a 'Cidade Maravilhosa'. Penso que se não fosse assim, com a cara e coragem, talvez eu não tivesse vindo. Estaria lá até hoje fazendo as mesmas coisas.

Você é muito assediado na rua por mulheres e homens?

Na rua nem tanto, mas nas redes sociais acontece muito. As pessoas por estarem atrás da tela de um computador, elas tem mais coragem de uma abordagem mais incisiva. Mas não é algo que me incomode. Acho que sempre que é feito com respeito é válido.

E as pessoas na rua já te reconhecem por conta do Narciso?

Ser reconhecido tem sido o grande barato para mim. Não tinha experimentado essa sensação ainda. Com essa novela e a visibilidade que ela tem, sou sempre abordado pelas pessoas nas ruas seja no mercado, no elevador ou na academia. E estou achando divertidíssimo ter esse contato mais próximo com o público. Essa semana gravamos uma sequência em uma externa e fiquei muito feliz com a quantidade de pessoas que vieram até a mim pedindo uma foto e dizendo que adoram o personagem.

Você é vaidoso?

Bastante! Gosto de me arrumar, me cuidar e estar bem comigo mesmo. Gosto de estar bem apresentável onde estiver. Cuido da pele, do cabelo... Fazer essas coisas me dá confiança.

Você se acha bonito?

Por muito tempo durante a minha adolescência e parte da vida adulta eu não me achava bonito não. Aos poucos fui me aceitando e percebendo em mim coisas que nos outros eu admirava. Hoje, adulto e trabalhando a autoestima, me considero um cara bonito, mas nada além do normal. Foi um exercício que tive que trabalhar em mim: aprender a me admirar.

A Globo está com escassez de jovens galãs. Esse rótulo de galã te incomoda?

Não. Para mim é uma honra ser visto como galã. Mas a beleza nem sempre ajuda. Não quero ser reconhecido como um 'mocinho bonito'. Quero que as pessoas vejam que também tenho talento que vai além de minhas qualidades físicas, até porque em algum momento a beleza se vai. É preciso deixar claro que tenho qualidades artísticas que vão além disso.

Como costuma ser sua rotina?

Eu adoro rotina! Gosto de planejar tudo o que vou fazer. Normalmente acordo cedo, treino pela manhã, estudo minhas cenas , me arrumo e vou para a gravação. Quando saio eu venho para casa, às vezes cozinho alguma coisa para comer e por volta de meia-noite já estou dormindo. Gosto de manter essa rotina. Quando algo acontece que me faz sair disso eu fico meio perdido.

Está namorando, solteiro ou casado?

Solteiro.

Pensa em ter filhos?

Sim, sonho com isso . Mas é um sonho para daqui a alguns anos ainda. Hoje estou muito focado na minha carreira. Quero poder consolidar primeiro a área profissional e depois com as condições necessárias dar sequência nesse projeto , porque imagino que seja uma responsabilidade muito grande criar e educar um filho. Eu já sofro com meu cachorro para ficar o máximo de tempo com ele! Com um filho, a 'responsa' é maior.

Hoje você mora sozinho no Rio? Como é lidar com a distância da família que está no Mato Grosso?

Moro sozinho , no começo foi um pouco mais difícil, além a instabilidade financeira , tive que me bloquear emocionalmente, para não sofrer com a ausência da família e dos amigos , então acabei de fechando um pouco para não sofrer, e também não levando até eles meus problemas para que não sofressem também, com o tempo as rédeas foram afrouxando e emocionalmente mais seguro, as coisas foram voltando ao normal .

Sonha em contracenar com alguem em específico? Quem?

Fernanda Montenegro! Sou completamente apaixonado pelo trabalho dela. Seria um sonho poder fazer algo ao seu lado. Ela é indiscutivelmente a maior atriz que temos e para mim a mais inspiradora, está sempre se renovando , se reinventando . Se eu puder algum dia fazer algo com ela seria meu maior presente da vida !

Dá pra fazer amigos no Projac?

Da, sempre ! Não só fazer , como reencontrar amigos. São tantas pessoas envolvidas no processo de uma novela e todas sempre tão atenciosas, que não tem como você não ser cativado e querer criar laços. Eu normalmente sou tímido , mas aos poucos vou me soltando e acabo ganhando amigos pra vida nesses processos .

Qual é o seu sonho de consumo?

Poder comprar meu apartamento e no futuro poder dar as condições necessárias que a minha família precisar.

Qual foi a última coisa que você comprou?

Um tênis que estava namorando há muito tempo. :)

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