José de Abreu - Jose de Abreu
      Caption
José de AbreuJose de Abreu Caption
Por O Dia

A coluna entrevistou o presidente do Brasil. Não, pera. Estamos falando do chefe de estado auto-proclamado na sátira 'José de Abreu Presidente' que recentemente viralizou na internet e repercutiu até no exterior. Oposicionista declarado ao governo de Jair Bolsonaro, o ator José de Abreu viu na sátira uma oportunidade do brasileiro voltar a sorrir diante do que ele classifica como "tragédia de governo". Ele conta que começou a brincadeira de forma despretensiosa e que não imaginava ganhar o apoio de grandes líderes do PT, como o ex-presidente Lula. Escalado para 'A Dona do Pedaço', a próxima novela das 21h, da TV Globo, o ator comenta ainda a carreira, vida pessoal e manda um recado ao verdadeiro presidente do Brasil.

Em 'A Dona do Pedaço' você vai ser o pai adotivo de uma influenciadora digital, que é a personagem da Paolla Oliveira. Como você avalia a força das redes sociais?

Realmente eu acho que as redes sociais não deixam de ser outro veículo de comunicação. E se transformaram em um veículo muito forte. Acompanhei a carreira da Kéfera, que foi evoluindo a partir da internet. E hoje ela está na Globo fazendo seu papel de atriz muito bem. E eu acho que a internet é um caminho novo. Eu fui um dos primeiros a conseguir uma senha para entrar na rede, uma senha do Ministério das Comunicações, e depois eu entrei no primeiro provedor que tinha no Brasil, que se chamava Alternex, do IBASE do Betinho. E na época eu já vislumbrava algo assim: do escritor para publicar seu livro, do músico para fazer seu clip, um trabalho direto com o público, mas eu não imaginava, é claro, que seria isso que é hoje. Quando eu fiz ‘História de Amor’, do Manoel Carlos, lembro do Zé Mayer me chamar de ‘Zé Windows’, porque eu comecei a montar computador para os amigos.

Então dentro do Projac você foi o precursor do computador para os amigos?

Fui! Eu consertava, montava... Inclusive montei muitos e ainda instalava o Windows. E acabei virando o 'interneteiro', né?

O que a gente pode esperar de seu personagem?

Eu estou adorando, sabe? Ele é um dono de uma imobiliária, tem uma família bem constituída, e eles não conseguem ter filhos, pois o personagem da Natália do Vale tem problemas que não permitem que ela tenha filhos. Então eles acabam adotando a personagem da Paola Oliveira. Eles encontram ela na rua sozinha, passaram a cuidar dela e acabaram trazendo ela para São Paulo, e daí dá um pulo na novela, pois eles conseguem a adoção dela, a Paola Oliveira já está famosa por causa da internet. Meu personagem é legal. Ele é muito paquerador, ,meio safadão... (risos)

Então tem tudo para bombar, certo?

Eu adoro fazer vilão! Mas meu personagem não é vilão porque não é maldoso. Só que ele é aquele tipo de homem que não pode ver um rabo de saia.

Você e seu personagem tem algo em comum?

Ah, não tem. Eu sou muito fiel. Já fui safadão quando era jovem, depois eu entrei no eixo. E o mundo mudou, hoje é outra vibe!

Você esteve um tempo na Europa. O que foi fazer lá?

Há cinco anos eu comprei um apartamento em Paris, e o Consulado da França me deu um visto especial que eles dão para atores, chamado 'Talento e Competência', que dá direito a trabalhar lá. Então eu pedi um dinheiro emprestado para a Globo, fui para Paris, e dei entrada em um apartamento lá. Consegui a entrada com um banco de lá, que é como se fosse a Caixa Econômica Federal daqui, com juros muito baixos. Com isso eu comprei um apartamentinho lá.

Você chegou a morar lá?

Fiquei um ano morando lá, depois voltei ao Brasil e fiz 'A Regra do Jogo', e voltei pra lá de novo. Mas como eu sinto muito frio em Paris, acabei indo parar na Grécia, onde eu tenho uns amigos. Fique por lá quase um ano em uma ilha grega, onde eu escrevi a minha auto-biografia de 800 páginas, que deve sair em dois volumes e chama-se 'Abreugrafia'.

Que chique! Escritor na Grécia...

Pois é. Acabei entrando em uma que eu era escritor, barbudo e cabeludo... (risos) Lá é maior barato. E ainda arrumei uma namorada lá, uma inglesa que mora na Grécia há trinta anos, e ela mora em Atenas. Ela passava todo o fim de semana comigo e às vezes eu ia para Atenas e passava o fim de semana lá.

Mas agora você está solteiro?

Eu estou solteiro, mas eu falo com todas as mulheres que já tive. Não tenho este problema. Fiquei pouco tempo lá, porque eu fui para os Estados Unidos e fiquei dois meses em Los Angeles. Depois fui para o México com um filho, e depois fui para a Espanha com o outro filho e terminei na Grécia.

Pelo visto você adora viajar...

Eu adoro! Inclusive eu não tenho mais casa. Agora eu moro no Airbnb. Aluguei minha casa em Paris e aluguei minha casa do Rio. Agora eu fico trocando de bairro, cada hora eu moro em um lugar diferente pelo Airbnb. Isso e ótimo porque eu canso da Barra e vou para o Leblon. Canso do Leblon e vou para Copacabana. Depois eu vou para o Recreio e é uma delícia.

Você esperava tanta repercussão da sátira 'José de Abreu Presidente'?

De maneira nenhuma. Fiquei muito assustado porque é uma repercussão imensa, né? E não para. Em todo lugar que eu vou as pessoas dizem "presidente, posso tirar uma foto?". Porque aqui no Rio ninguém tira uma foto com ator. Só turista pede. Mas com o presidente está todo mundo tirando foto. Fiquei até assustado!

Você se arrependeu?

De jeito nenhum! É uma coisa super gostosa e um amor incrível. As pessoas estão adorando a minha presidência. É só coraçãozinho vermelho na internet. Está tudo muito lindo. E é uma coisa de carinho. A sensação que eu tenho é que furou uma bolha em que as pessoas estavam muito tristes. Com essa coisa do Bolsonaro, milicianos, perseguição aos gays, e no Carnaval todo mundo mandando ele tomar naquele lugar... E eu acho que tudo isso veio por causa dessa presidência que eu faço de comédia e as pessoas mesmo sabendo que era falso, deu uma esperança de que poderia ser verdadeiro. E está virando uma lenda!

Você teve medo de ser preso no seu retorno ao Brasil?

Não é isso. É que houve uma comunicação extraoficial e me disseram que a Polícia Federal poderia ficar revistando minha mala e a Receita Federal também. E poderiam querer me prender sei lá porque, ou colocar algo na minha mala. O fato é: sabe quem estava na porta do avião para me pedir a primeira foto? Um policial federal! Ele disse "eu adoro você. Você esta fazendo uma coisa genial! Tira uma foto aqui comigo?". Logo em seguida tinham 12 seguranças da Receita Federal para me proteger. Eu falei que só queria ficar em segurança e poderia sair sozinho. Foi incrível, foi um respeito muito legal.

Então aquele comunicado extraoficial foi só para te intimidar?

Não é intimidar. Eu estava pensando, e liguei para os advogados, e eles consultaram alguns juízes de direito, e não havia a menor possibilidade de eu ser preso, pois eu não cometi crime nenhum.

Já pensou em seguir carreira política? Ser presidente do Brasil por exemplo está em seus planos?

Jamais! Só o oficio de ator e pronto. Dentro desta tragédia que estamos vivendo aqui no Brasil, eu tenho vários amigos gays que estão apavorados! No fim da novela 'Segundo Sol', um gay que trabalha na Globo falou pra mim: "Zé, eu moro em uma favela que só tem miliciano (Rio das Pedras). Eles estão dizendo que vão matar todos os gays e que eu tenho que aprender a andar que nem homem". E ele começou a chorar. Isso pra mim é um negócio louco. Assusta essa violência que o Bolsonaro pratica com arminha na mão, dando trela para miliciano. Só se fala nisso, é muito ruim isso. E a morte de Marielle e o cara mora do lado da casa dele... E eu fui em cinco países e as pessoas não acreditam porque o Brasil aceitou esse baixo astral. Somos um povo feliz, alegre e festivo. Como é que elegem um cara desse?

O que diria ao Jair Bolsonaro?

Vai embora pra casa. Bolsonaro, vai brincar de arminha na sua casa, ao lado de seu vizinho miliciano, porque a presidência não é pra você. Você não tem capacidade nem pra ser síndico de condomínio, que dirá presidente da república de um país tão maravilhoso quanto o Brasil. Vai se benzer, vai aprender a amar. Essa família (Bolsonaro) é ódio. Esse deve ter sido um pai super ausente porque os filhos fazem o que querem. São todos adultos, mas parecem um monte de criança tirando ministro, colocando ministro. Mas o que que é isso? Isso é falta de decoro! O Brasil não merece uma coisa dessa que estamos vivendo. Estamos em uma situação tão misógina que estamos falando de política na coluna 'Leo Dias'.

O ex-presidente Lula se mostrou apoio ao presidente 'auto-proclamado'. Como você encarou isso?

Não esperava. Não foi só o Lula, foram todos. Lula, Dilma, Haddad e todos os políticos que tem uma percepção de mundo entenderam a força que tinha essa minha brincadeira. Acho que a comédia abriu um buraco nesta tristeza que estamos vivendo e todos se apegaram nesta minha brincadeira como uma fonte de prazer, uma fonte de amor e voltaram a sorrir... Não foi algo pensado. Eu dei uma entrevista ontem para o 'The New York Times' imensa. A entrevista será uma porrada para esse governo lá fora.

Pode adiantar o que você disse pra eles?

Eu disse mais ou menos o que eu disse pra você, só que com outro peso lá fora, entendeu? É porque lá fora eles estão me considerando um gênio da política, embora eu seja um ator.

Você pode gostar
Comentários