A longevidade no Brasil traz à tona mais um paradigma social. Com o aumento da expectativa de vida e as exigências crescentes para aposentadoria impostas pelo INSS, o tempo adicional vivido deveria refletir em mais saúde, perspectivas e integração.
No entanto, o etarismo — preconceito contra idosos — persiste, ignorando o envelhecimento coletivo de uma nação onde os mais idosos já representam a parcela mais significativa da população.
E não resta a menor dúvida de que as principais preocupações das pessoas em relação ao futuro estão relacionadas ao padrão financeiro e acesso aos seguros de saúde que vão tendo as tarifas majoradas de forma escalonada com o avanço da idade. Fora que boa parte possui os planos como complemento corporativo sem ou com custo simbólico enquanto estão na ativa, perdendo o benefício ao se aposentarem.
Contradições no mercado e no consumo Embora grande parte do consumo já esteja concentrada entre os seniores, com muitos assumindo o arrimo de família, o mercado publicitário ainda mostra um Brasil "jovem e irreal" ignorando ou subjugando a "economia prateada". Além disso, o aumento do tempo de trabalho, requerido pelo INSS, contrasta com a falta de oportunidades no mercado para pessoas acima dos 50 anos.
Preconceito etário Apesar de muito greenwashing ( quando se faz muita propaganda socioambiental mas que não corresponde a realidade), o mercado de trabalho, em geral, mantêm-se míope diante do valor da experiência das faixas etárias mais elevadas, principalmente diante do seu potencial acumulado e da qualidade e tempo de vida conquistados pelo Brasil.
Ao mesmo tempo, movimentos contra o etarismo investem na conscientização da sociedade e trabalham na autoestima, pertencimento, qualificação e na interação dos mais idosos, mas esbarram na resistência de preconceitos arraigados.
O impacto da longevidade: o que o ILP revela Nesse contexto, o Indicador de Longevidade Pessoal (ILP) surge como uma significativa ferramenta. Ele mede aspectos como saúde física, mental, interações sociais e planejamento financeiro, revelando pontos fortes e desafios. Correspondendo a sua posição de maior concentração econômica e de desenvolvimento, a região Sudeste se destaca.
“A população do Sudeste apresenta resultados expressivos em fatores essenciais para a longevidade, demonstrando uma base sólida para uma vida longa e com qualidade. No entanto, é crucial que a região também dedique mais atenção à saúde física, cuja pontuação ficou abaixo da média nacional. Fortalecer esse pilar pode ser o diferencial para maximizar os benefícios dos outros aspectos e promover uma longevidade ainda mais ativa e saudável,” afirma Alexandre Kalache, responsável pela pesquisa.
Entre os dados apurados no Sudeste
* Finanças: 44% dos entrevistados na região estão criando uma reserva financeira, indicando maior conscientização. Ainda assim, o dado contrasta com a realidade nacional, onde 60% afirmam não ter nenhuma reserva para a aposentadoria.
* Longevidade: Embora 90% conheçam o conceito de longevidade, apenas 41% no Sudeste compreendem seu significado exato, demonstrando a necessidade de maior disseminação de informações.
* Saúde e prevenção: Apesar de 44% buscarem atendimento preventivo, a maioria só procura auxílio médico quando surgem problemas, um reflexo de hábitos ainda distantes de uma cultura de prevenção.
“Apesar de um comportamento que não reflete a realidade da maioria da população da região, o dado é positivo, tendo em vista que 6 em cada 10 entrevistados do país afirmam não ter nenhuma reserva financeira para a aposentadoria”, afirma Estevão Scripilliti, Diretor da Bradesco Vida e Previdência, patrocinadora do Índice.
Urgências da informação e do planejamento
O estudo conclui uma dissonância entre a conscientização a maior expectativa de vida e práticas preventivas.
“Promover informações sobre longevidade é urgente, especialmente em um país com uma expectativa de vida crescente como o nosso. Além disso, é crucial que as pessoas entendam o verdadeiro significado desse conceito e reconheçam a importância do planejamento financeiro nesse contexto,” complementa Kalache.
Por um Brasil mais inclusivo Para que o país enfrente os desafios impostos pelo envelhecimento populacional, é necessário superar o etarismo, valorizar a experiência e adotar políticas que integrem saúde, educação financeira e inclusão social. Ferramentas como o ILP são valiosas, mas a mudança deve envolver toda a sociedade, refletindo em ações que promovam uma longevidade ativa e digna.
Para calcular o próprio Índice de Longevidade Pessoal, os interessados podem acessar o site oficial: indicadordelongevidade.com.br
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