Prefeitura de Cabo Frio teria desviado verba da Saúde para pagar salários, diz site de notícias
Matéria divulgada nesta quinta (5) diz que "o dinheiro deveria ser empregado em tratamentos de câncer e cardiológicos. Além disso, "R$ 55,4 milhões para pagar a folha integral do pessoal da saúde — o que é vedado pelo Ministério da Saúde — e para comprar 300 mil aventais"
Magdala Furtado e o presidente Lula, após reunião no Palácio do Planalto, em abril deste ano - Reprodução/Rede social
Magdala Furtado e o presidente Lula, após reunião no Palácio do Planalto, em abril deste ano Reprodução/Rede social
Cabo Frio - Nesta quinta-feira (5), o UOL divulgou matéria dizendo que o município “usou milhões de reais repassados pelo Ministério da Saúde para pagar salários ao longo deste ano. O dinheiro deveria ser empregado em tratamentos de câncer e cardiológicos. Recursos foram liberados sem análise técnica, em até 24 horas e em processos que ferem a legislação e princípios da Constituição”. Além disso, “R$ 55,4 milhões para pagar a folha integral do pessoal da saúde — o que é vedado pelo Ministério da Saúde — e para comprar 300 mil aventais.
Os recursos deveriam ser usados em tratamentos cardiológicos, oncológicos, ortopedia, colostomia, diabete, hipertensão e exames radiológicos.
“O UOL seguiu o dinheiro e descobriu que nenhum centavo foi destinado para isso”.
REPASSE A JATO
Em dezembro de 2023, o Ministério da Saúde enviou R$ 55,4 milhões para Cabo Frio. O repasse saiu a jato.
O aval para a verba foi dado cinco dias após a prefeita Magdala Furtado (PV) se reunir com a ministra Nísia Trindade — dez dias depois, o dinheiro já estava na conta do município.
A portaria autorizava apenas R$ 4,6 milhões — R$ 51 milhões a menos do que foi enviado.
Desde o início do mandato, Lula se reuniu individualmente com oito prefeitos, e Magdala era um deles. Um dia após o encontro, ela trocou o PL (de Bolsonaro) pelo PV e ganhou o apoio do PT para a reeleição.
A prefeitura usou o valor para comprar 300 mil aventais e pagar integralmente a folha de pessoal da saúde.
Pelas regras do ministério, o dinheiro só poderia ser usado para pagar funcionários que atuam em exames e cirurgias de média e alta complexidades (399 pessoas).
O volume de aventais impermeáveis, previsto para três meses de uso, custou R$ 1,1 milhão e foi adquirido da DPNT Comércio e Distribuição, “empresa prateleira” que registrou 19 atividades na Receita.
A prefeita Magdala inchou a área da saúde do município de cargos comissionados (sem concurso).
Levantamento ao qual o UOL teve acesso mostra que 4.453 pessoas compunham o quadro de funcionários da saúde quando Magdala assumiu, em julho do ano passado.
Segundo a prefeitura, constam atualmente na folha de pagamento da saúde 4.814 pessoas.
Os salários estão sendo pagos com atraso.
R$ 20 MILHÕES EM CURATIVOS
A prefeitura também alocou verba do Ministério da Saúde para comprar R$ 20,4 milhões somente em curativos. O pregão prevê a compra de 240 mil gazes e 10.800 curativos.
Cabo Frio tem quatro hospitais de porte médio e duas UPAs e não é considerada uma cidade-polo que recebe pacientes de outros municípios.
O pregão foi aberto no dia 31 de julho, chegou a ser cancelado pela prefeitura, mas foi retomado a três meses da campanha eleitoral.
Uma das concorrentes contestou o edital da licitação e alegou que há restrição de competitividade.
Segundo a empresa, “diversos itens” do edital “estão claramente direcionados a determinadas marcas específicas”.
“Tal situação é evidenciada pela reprodução fiel das descrições utilizadas por fornecedores dessas marcas, restringindo, assim, a competitividade do certame”, afirmou.
A empresa também aponta para a “possível aquisição de produtos de baixa qualidade ou procedência duvidosa”.
A prefeitura justifica a compra de 240 mil curativos dizendo que existem “132 pacientes em tratamento de pele e feridas” e que há uma “demanda reprimida”.
A Secretaria de Saúde de Cabo Frio contestou o argumento da empresa e declarou que “não há qualquer direcionamento de marcas, mas, sim, especificações de requisitos mínimos”.
A pasta registrou ter feito “um vasto trabalho técnico para garantir a saúde do paciente”.
Prestação de contas O Ministério da Saúde informou que estados, Distrito Federal e municípios prestam contas das verbas repassadas por meio do chamado RAG (Relatório Anual de Gestão).
O documento “apresenta os resultados alcançados e é submetido à aprovação dos Conselhos de Saúde”.
“A cada quatro meses, os municípios devem apresentar relatórios detalhados ao Conselho Municipal de Saúde e à população, em audiências públicas, conforme a Lei Complementar número 141/2012”, informou a pasta.
A Saúde também disse que acompanha a prestação de contas dos municípios pelo Siops (Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde).
“Em eventual detecção de impropriedades ou irregularidades na destinação de recursos públicos federais, o Ministério da Saúde pode instaurar procedimentos de ressarcimento ao erário”, afirmou.
O ministério também afirmou que a fiscalização dos repasses é compartilhada pelo Poder Legislativo, Tribunais de Contas, o sistema de auditoria do SUS, o controle interno e os conselhos de saúde.
O QUE DIZ A PREFEITURA
Em nota, a Prefeitura disse que “todos os questionamentos sobre o uso da verba do Governo Federal enviada à Cabo Frio foram respondidos durante a CPI da Saúde realizada na Câmara Municipal. A verba poderia ser utilizada tanto para a folha de pagamento dos funcionários da Média e Alta Complexidade, como também para a compra de material hospitalar”.
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