Por tabata.uchoa
Charles AznavourDivulgação

Rio - São números desconcertantes: 200 milhões de discos vendidos e mais de mil músicas compostas em quase oito décadas de carreira. Não à toa, Charles Aznavour, 88 anos, ganha mundo afora uma extensa lista de títulos, como ‘monstro sagrado da canção francesa’, ‘o último dos grandes’ e ‘o artista do século’. Hoje e quarta-feira, sua inconfundível voz rouca ecoará, no Theatro Municipal, clássicos como ‘She’, ‘La Bohème’ e ‘Ave Maria’. Em entrevista a O DIA, ele fala sobre música brasileira, diz que não sabe quando irá se despedir definitivamente dos palcos e arremata: “Não tentei fazer iê-iê-iê, rock ou rap”.

O DIA: Esta não é a primeira vez que o senhor vem ao Brasil. Como é a receptividade do público daqui?

AZNAVOUR — Fui cinco ou seis vezes ao Brasil, e sempre foi muito agradável. Acho que o Brasil tem uma população que entende o francês, e esses fazem parte do meu público. Outros vão por curiosidade.
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O que mais te chama a atenção aqui?
O país é extremamente belo, mas o que está no meu coração é a música que sempre me entusiasmou.
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Qual é sua relação com a música e artistas brasileiros? Em uma entrevista recente, a cantora Marlene disse que não esquece um coquetel que deu para você na casa dela...
Quando estive pela primeira vez no Brasil, Marlene, que conheci porque ela havia cantado no programa de Edith Piaf, no Bobino de Paris, por muito tempo, me disse: ‘Preparei uma surpresa para você. Vou te mostrar o que há de mais novo aqui’. Ela tinha preparado uma noite com Jobim, João Gilberto, Elizeth Cardoso. Em uma noite, conheci o Brasil. Havia também Agostinho Santos, que cantava maravilhosamente bem. Conheci outras cantoras, mas não pessoalmente: Maysa, Simone, todas as pessoas que cantam bem.
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No início da sua carreira, o senhor era criticado por ter um estilo que não era considerado comercial. Como lidou com isso?
Meu estilo se impôs. Eu não fiz nada. Continuei, não quis mudar, não quis ser diferente do que eu era. Não se pega um trem andando. Eu não tentei fazer iê-iê-iê, rock ou rap. Fiz o que fiz e isso se tornou uma espécie de clássico.
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Como mantém a boa forma vocal e física?
Quando você ama o que faz, não há dificuldades. Atualmente, tenho uma vida mais calma, não vivo mais a mil por hora. São outros prazeres e outras motivações.
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O que acha da cena musical contemporânea? Temos grandes artistas ou considera que nada pode ser comparado com o passado?
Não existe uma competição com a geração mais jovem. É a sobrevivência da nossa herança. Da minha parte, eu não tenho do que reclamar, pois eles me veem mais jovem do que eu realmente sou. Não sou refratário à novidade e sempre estive atento aos novos gêneros.
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O senhor já esteve no Brasil com uma turnê de despedida. Quando vai dar adeus aos palcos, definitivamente?
Eu não vou decidir quando parar. A música fará isso no meu lugar.
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Qual foi o momento mais marcante da sua carreira?
Foi quando, um dia, meus pais foram olhar um grande cartaz de meu espetáculo da altura de um prédio de cinco andares, perto do Moulin Rouge, e ficaram olhando alguns minutos, completamente fascinados e felizes.
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