Por nara.boechat

Rio - Nelson Gonçalves defendia a tese de que o cigarro melhorava sua voz. “Ele fumava desbragadamente, aí teve enfisema e um enfarte, continuou fumando, teve o segundo e morreu”, detalha Ronaldo Conde Aguiar, autor do livro ‘Os Reis da Voz’ (Ed. Casa da Palavra, 368 págs., R$ 64,90).

Livro de Ronaldo Conde AguiarDivulgação

Se o papo é o sucesso do rádio no Brasil nos anos 40 e 50, logo lembramos das cantoras Marlene, Emilinha Borba, Maysa e tantas outras, já devidamente listadas em ‘Divas da Rádio Nacional’, que o autor lançou em 2010. “Mas as histórias dos reis da voz têm um grau de complexidade maior. Muitos casos complicados com droga e bebida”, ressalta Ronaldo. “O Nelson Gonçalves, por exemplo, para se curar do vício da cocaína, se trancou no quarto durante semanas sofrendo a abstinência, que nem vimos no filme sobre o Ray Charles. O Orlando Silva também, fez grande sucesso como um dos maiores cantores de todos os tempos, mas a droga e a bebida obstruíram a carreira. No fim da vida, praticamente não tinha condição nenhuma de cantar”.

Francisco Alves, Cauby Peixoto, Tito Madi, Cyro Monteiro e Sílvio Caldas, entre outros, também têm seus altos e baixos (mais altos que baixos, registre-se) relatados no livro. Ronaldo Conde Aguiar não foi condescendente e contou todos os bafos dos reis da voz.

“Diziam que o Mário Reis morreu virgem. O negócio é que ele não era um cara mulherengo, como o Sílvio Caldas ou o Chico Alves. Era mais discreto. Há boatos até de um caso com a Carmen Miranda. Eu não acho que ele era homossexual, a história surgiu na época porque os cantores tinham um vozeirão e o Mário gostava de cantar com mais dolência, mais delicadamente. O estilo de cantar eternizado por João Gilberto, se acompanhando e fazendo uma divisão perfeita da linha melódica, vem dele, sem dúvida”, atesta o autor.

Entre tantos gogós privilegiados (e o livro traz um CD com gravações deles), Ronaldo Conde Aguiar elenca o seu preferido: “O maior cantor do Brasil foi Sílvio Caldas, porque ele cantava de tudo, baião, samba, marcha, seresta, tango, foxtrote, música de Carnaval. E ele também tinha outra qualidade: sabia escolher seu repertório como poucos”, elogia.

E hoje em dia, não vemos mais artistas com esses atributos? “Não temos mais cantores nem cantoras de qualidade. No máximo, a Nana Caymmi. Cantores, praticamente não temos, o último foi o Emílio Santiago.”

Ih, mas essa tese polêmica, por si só, já renderia mais uma publicação, hein? “Talvez eu coloque isso em um livro futuro mesmo: os cantores e cantoras hoje estão todos padronizados. Essas baianas, por exemplo, que cantam em cima de trio elétrico, não valem nada como cantoras. São capazes de fazer o público ficar pulando, mas isso é que é o problema: as pessoas estão se distanciando do que é a verdadeira música”, avalia.

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