Ele tem conhecimento de causa para falar do grupo: Melnick garante ser a única pessoa a testemunhar todos os 2.263 shows do Ramones, desde a estreia no CBGB (clube em Nova York), em 16 de agosto de 1974, até o último show, em Los Angeles em 6 de agosto de 1996. E conta um pouco do que viu no livro ‘Na Estrada Com Os Ramones’ (Edições Ideal, 231 págs., R$ 40), escrito com Frank Meyer: as prisões, as brigas, as separações, as reconciliações, as namoradas, os hotéis e as farras.
Empresário do Ramones lembra histórias do lendário grupo em livro
‘Na Estrada Com Os Ramones’ fala sobre as prisões, as brigas, as separações, as reconciliações e as farras da banda
Rio - No Rock in Rio, no ano passado, eclodiu a moda de camisetas com a famosa estampa com o brasão da águia do Ramones. Entretanto, os fãs do grupo norte-americano de punk chiaram, dizendo que muitas pessoas que estavam embarcando nessa mal sabiam citar um disco ou mesmo uma única música da banda.
“Por mim, tudo bem que qualquer pessoa use camisa do Ramones. Se conhecerem a banda, melhor ainda, mas só de divulgar o nome do grupo pode ser que desperte em alguém a vontade de escutar um disco ou comprar um livro”, arrisca Monte A. Melnick, que foi empresário do Ramones por 22 anos.
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“Uma vez, estávamos dirigindo já há seis horas, cruzando o Texas em uma van, quando paramos finalmente em um posto de gasolina. Os caras do grupo saíram para esticar as pernas, com aquelas caras esquisitas, exaustos, quando uma senhora bate em minhas costas e diz: ‘Que bonito que o senhor está tomando conta desses jovens retardados...’. Respondi: ‘Sim, madame, este é o meu trabalho’”, diverte-se Monte A. Melnick, que fez de tudo um pouco acompanhando a banda.
Na verdade, os integrantes da banda estavam longe de serem retardados. Eles criaram moda e estilo musical próprios (“Não se engane, eles eram ótimos instrumentistas e tocavam de uma forma única”, ressalta o autor), copiados até hoje, e são apontados como a primeira banda da época a vender bonés e camisetas nos shows. “O glam rock (gênero popular nos anos 70, no qual os músicos abusavam do glitter e lantejoulas) estava fraquejando, então o Ramones decidiu usar os hoje célebres jeans e jaquetas de couro, que já faziam parte do vestuário natural deles”, contextualiza Melnick.
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Os fãs brasileiros não têm do que se queixar, e deveriam entender a tal modinha das camisetas. Afinal, o Ramones fez mais sucesso no Brasil do que em sua terra natal. “Tocávamos em grandes estádios aí e, quando voltávamos, os shows eram menores, em pequenos clubes. Quando vimos a grande resposta que os fãs brasileiros davam para a gente, não deu outra: passamos a ir todo ano ao país”, explica.
'Eu fui'
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O músico e produtor Kassin, baixista e cofundador da Orquestra Imperial, foi a um desses shows do Ramones no Brasil. Talvez o mais emblemático deles por aqui, em 1992, no Canecão. Ele conta aqui as lembranças daquela experiência inesquecível, quando chegou até a ir ao camarim da banda.
“Foi estranho, não sou de acordar cedo, mas nesse dia teve uma carreata às 7h da manhã. Era domingo. Eu devia ter recém-completado 18 anos, queria ir ao show do Ramones mas não tinha dinheiro. Acordado pela carreata, de mau humor, fui ler o jornal e vi uma promoção: “As duas primeiras pessoas que ligarem a partir das 8 horas ganham ingressos para o show no Canecão.” Liguei, atenderam e ganhei! Acho que foi a única promoção que ganhei na vida. Chegando lá, fui convidado para ir ao camarim antes do show, eles precisavam tirar uma foto com quem ganhou a promoção. Engraçado que a outra pessoa que ganhou não foi, então fui sozinho.
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Começou o show, uma maravilha indestrutível a memória do Ramones ao vivo, sem dúvida um dos melhores que já vi. Mas, de repente, no meio da maravilha, uma bomba, bem perto de mim. O barulho assustou, e até sentir o efeito do gás lacrimogêneo demorou um pouco. Enquanto isso, a banda tocava, ‘1 , 2, 3, 4’... As pessoas começaram a correr, tumulto, gente caindo no chão... ‘1 , 2 , 3, 4’, outra música... Achei uma parede e uma mesa, apoiei os pés da mesa na parede e fiz uma barricada. Fiquei com medo de ser pisoteado.
‘1, 2 , 3, 4’, outra música... Começava a ficar impossível de continuar acompanhando o show e me dirigi à saída. ‘1, 2 , 3, 4’, a banda não parou de tocar! Saí do Canecão e ainda estavam tocando, até que pararam. O show ficou paralisado um pouco, prenderam alguns skin heads e, alguns minutos depois, o show continua e volta todo mundo para dentro.
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Quando acabou, lembro que encontrei o jornalista (que me levou) e fomos conversar com a banda, que estava absolutamente calma, como se nada tivesse acontecido. Dia seguinte, a manchete no jornal, ‘Bomba em show do Ramones’, trazia a minha foto com eles. Em uma era pré-internet, chegaram a me perguntar se eu havia entrado para a banda. Os Ramones fazem falta.”