Por karilayn.areias


‘Relatos Selvagens’ chega hoje às telas do Rio embalado por um número histórico. Na última semana, o filme em episódios que traça um retrato irônico e amargo da Argentina contemporânea bateu o recorde de público do país, com aproximadamente dois milhões e meio de espectadores, superando o até então imbatível ‘O Segredo dos Seus Olhos’, dirigido por Juan José Campanella, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

Ricardo Darín protagoniza um dos episódios de ‘Relatos Selvagens’ Divulgação

Exibido na Mostra Competitiva do Festival de Cannes deste ano, ‘Relatos Selvagens’ teve uma recepção calorosa e despertou o interesse do mercado internacional. Experiente diretor de séries para a televisão, Damián Szifron, em seu primeiro longa-metragem, leva a tarimba dos relatos de comunicação imediata para os seis episódios que compõem o filme que combina ação, violência gráfica, comentário social, humor e cinema da melhor qualidade. Fosse Tarantino o presidente do júri em Cannes, a Palma estaria nas mãos dos ‘hermanos’.

O roteiro consegue driblar o clichê da irregularidade dos filmes em episódios. À exceção do estrelado por Ricardo Darín, uma pertinente crítica ao sistema de controle de trânsito, porém de final questionável, os demais episódios sustentam-se pelo impacto imediato e pela capacidade de convencer o espectador do potencial de pequenas histórias, como o conto anedótico que antecede os créditos. A crítica à Argentina contemporânea aparece de forma subliminar na violência gráfica e mais explicitamente nos episódios que criticam os costumes locais, a intransigente burocracia, a corrupção endêmica e a crise de valores morais capaz de transformar um atropelamento fatal num debate sobre ética e diferença de classes.

Produzido por Pedro Almodóvar e seu irmão, ‘Relatos Selvagens’ tem uma impressão visual próxima a dos filmes do espanhol, com um requinte de linguagem cinematográfica expresso através de subjetivas inesperadas, grandes planos, travellings circulares, esmero fotográfico e decupagem bastante elaborada. A trilha de Gustavo Santaolalla dá o refinamento definitivo a este filme que tem no último episódio sua ‘pièce de résistance’. Uma festa de casamento chique que aos poucos revela o espetáculo da decadência das convenções sociais. Nelson Rodrigues aplaudiria.

AÇÃO!

* ‘Libertem Angela Davis’, da documentarista texana Shola Lynch, é um bom programa às vésperas das eleições. Angela, professora e intelectual da linha da Escola de Frankfurt, estremeceu os alicerces acadêmicos norte-americanos no final dos anos 60 ao se declarar comunista e favorável às ações dos Panteras Negras, grupo anti-racista. O filme concentra-se no julgamento da acusação, de nítido viés político, de que a ativista seria cúmplice de um sequestro seguido de mortes que mexeu com a opinião pública nacional.

Apoiado num amplo material de arquivo, ‘Libertem Angela Davis’ propicia um debate sobre a luta pelos direitos civis e consolida a opinião de que, mesmo imperfeita, a democracia ainda é o melhor dos regimes.

Você pode gostar