Por daniela.lima

Rio - Os LPs, aquelas antigas bolachas de vinil, estão voltando, não é de hoje, e atraindo uma grande procura especialmente pela garotada. “Pensei que daria um documentário, mostrar um pouco da história das capas de discos brasileiros”, entusiasma-se o designer gráfico Jorge Caê Rodrigues. 


Em 2000, ele fez no mestrado um estudo sobre as capas de disco durante o período da Tropicália (o movimento artístico capitaneado por Gilberto Gil e Caetano no fim dos anos 60), que acabou se desdobrando em seu livro ‘Anos Fatais’, lançado em 2007. Um filme, com um recorte mais abrangente, se transformou naturalmente no próximo passo. ‘Veja o Disco, Ouça a Capa’ é o título provisório. As filmagens já terminaram, agora é edição e montagem, para lançamento em 2015.

Ed Motta exibe sua coleção de discosJorge Ferreira / Agência O Dia

'É um trabalho bancado pelo governo federal e será exibido em escolas e passado na TV, em canais por assinatura”, explica Caê. “Entrevistei três tipos de profissionais: designers, artistas e colecionadores. Inicialmente, pensei em fazer algo mais em cima da visão do designer. Porém, com os depoimentos, surgiram nomes novos e acabou crescendo, virou um documentário sobre a produção gráfica no Brasil”, detalha.

Capistas importantes como Aldo Luiz (que foi da gravadora Polygram, hoje Universal, e tem uma produção enorme), Ricardo Leite, Rogério Duarte, Lincoln, Cafi, Elifas Andreato e Gringo Cardia, além do cantor Ed Motta, do jornalista Rodrigo Faour — que possuem notáveis coleções de LPs — e do legendário produtor musical André Midani aparecem em depoimentos no filme.

“Fora do Brasil, o assunto tem uma bibliografia grande”, compara Caê. “Temos dois momentos importantes em termos de design de capas de discos aqui: a Bossa Nova, com a gravadora Elenco e o artista gráfico César Villela, que traz uma mudança radical. E depois na Tropicália, com a figura do Rogério Duarte, que faz capas não apenas como uma embalagem, mas também como uma continuação da obra musical”.

O longa vai contar histórias de várias artes famosas. Afinal, como é criada a capa de um disco? É o músico quem escolhe o artista para ilustrar seu álbum? “Às vezes sim, mas muitas vezes não participa de nada, não tem nem a chance de opinar”, revela o designer/diretor. “O Caetano sempre quis que seu disco fosse feito por um determinado artista. Na capa nova do ‘Abraçaço’, ele até faz uma homenagem discreta a Rogério Duarte. Ele colocou lá uma foto do rosto dele, que fez a arte de seu primeiro disco. Outro de Caetano Veloso, o LP ‘Joia’ tem uma história bem curiosa. Trazia um desenho da família nua, uma imagem de liberdade muito avançada para 1975 e que teve que ser substituída por uma capa branca, somente com as pombas da original. Foi aberto um processo, o Caetano, sua mulher, o Aldo Luiz e até o cara da gráfica tiveram que depor”.

O diretor Jorge Caê Rodrigues com o produtor André MidaniJorge Ferreira / Agência O Dia

O primeiro disco de Fagner, ‘Manera Fru Fru, Manera’, também sofreu censura “A gravadora implicou porque tinha um anúncio de cigarro, mas aí o Cafi, autor da capa, bateu o pé e ficou assim”, conta Caê.

O início da transição do LP para o CD foi muito difícil, os designers ficaram um pouco perdidos com aquele espaço micro para criar da mesma forma que faziam com os vinis.

“Mas, com o tempo, os profissionais começam a descobrir outras possibilidades. O Gringo Cardia e o Ricardo Leite são nomes importantíssimos, que vão encontrar novas soluções gráficas nesse pequeno espaço. E voltam a surgir capas incríveis, como a do disco ‘Sexo’, do Erasmo Carlos, do Ricardo”, destaca. “O André Midani acha que as capas vão desaparecer em um futuro próximo, que a música vai tomar outra direção, que só vai sobreviver o download. Por isso acho que o filme será importante, não só pela questão da memória da música, mas também pela história do design brasileiro”, orgulha-se.

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