"Eu sempre fui tímido, não conseguia cantar nada. Isso me empurrou para os bastidores. O Tim Maia me falava: 'Ô Tibério Gaspar, você tem uma voz forte, devia cantar'. Mas eu não tinha coragem. Uma vez ele me obrigou a cantar. Me chamou no palco num show dele no Circo Voador, nem lembro se nos anos 80 ou 90. E me forçou a cantar 'Sá Marina'", brinca Tibério, que acabou sendo o responsável pelo amigo se converter ao Universo em Desencanto, em 1974. Tim foi à casa dele e achou um dos livrinhos escritos por Seu Manoel Jacintho, criador da seita. E se tornou fanático pelo "novo conhecimento", a ponto de pintar todos os seus objetos de branco e gravar dois álbuns com o nome 'Tim Maia Racional'.
"O problema é que o Tim era um cara exagerado, tudo para ele era 'muito'", recorda Tibério, cujo pai, professor de física e matemática, fez o prefácio do primeiro livro de Manoel, a quem Tim chegou a considerar o "maior homem do mundo". "Meu pai o conheceu e ficou abismado. Era um homem enorme, que tinha uns 80 anos e um grande conhecimento de plantas, tocava violão de sete cordas. Pedi para conhecê-lo e levei junto o Antonio Adolfo, com quem eu já estava compondo".
Na mansão em tons marroquinos de Seu Manoel, em Belford Roxo, o dono da casa pediu para ir a um canto, orou, se concentrou e voltou com várias previsões para Tibério e seu parceiro. "Ele disse que eu e Adolfo iríamos compor uma música de projeção mundial. E isso aconteceu, com 'Sá Marina'. Disse que eu ia casar três vezes e teria um filho homem parecido comigo com minha última mulher, que ela teria olho claro... Isso tudo aconteceu, ele previu 20 anos da minha vida! Mas ele depois passou a ser envolvido por conversas erradas na família dele. Eu falava que Seu Manoel não podia transformar esse poder num modo de vida, de maneira medíocre".
O disco novo de Tibério tem uma parceria nova com Antonio ('Dono do Mundo'), algumas músicas compostas só por ele (como 'Vitória do Bem' e 'O Melhor Amigo') e parcerias como Nonato Buzar ('A Voz da América'), Aécio Flávio ('Dança Mineira) e Naire Siqueira ('Companheiro', que foi tema da novela 'Araguaia', da Globo).
"O pano de fundo do disco e do show é a tal da toada moderna, que nós criamos nos anos 60 e até agora não foi muito bem estudada ou avaliada. Eu nasci no Rio, mas passei um bom tempo indo ao interior, em Sapucaia. Minha formação musical veio de lá, de violeiros, sanfoneiros. E depois veio a bossa nova", diz Tibério. Mais: nos anos 60 participou - pela amizade justamente com Tim, Wilson Simonal e Adolfo - do começo do movimento black nacional, fazendo 'BR3', gravada por Toni Tornado. Uma música que o levou, segundo conta, a ficar no radar da ditadura.
"Dois jornalistas disseram que 'BR-3' era sobre drogas, que era sobre uma tal 'terceira veia', onde todo mundo se aplicava. Vê se pode? Não era nada disso e a música até fazia um protesto contra as drogas, falando de uma viagem que era o 'porto de um talvez'. Fui banido das rádios, fiquei sem trabalho. Ironicamente na época fugi para o Planalto Central", recorda.
O show de lançamento tem duas participações especiais e afetivas. Antonio Adolfo sobe ao palco e recorda sucessos da dupla com Tibério. E Wilson Simoninha, filho de Simonal, canta 'Sá Marina', feita pela dupla, e que fez sucesso na voz do pai Simonal.
"Eu também não tive coragem de ver nada relativo ao Simonal, nem vi o documentário ('Simonal - Ninguém Sabe O Duro Que Dei'). O Cláudio Manoel (um dos diretores, ex-integrante do 'Casseta & Planeta') me deu um DVD do filme, e vamos passar no show a parte em que ele canta justamente 'Sá Marina'. E depois entra o Simoninha. Vai ser emocionante", anima-se.






