Por daniela.lima

Rio - ‘50 Tons de Cinza’ estreia no país e na época erradas. Numa nação em que a prática da ironia, da sátira e da galhofa é traço cultural e que recebe em fevereiro o Carnaval — quando desfilam blocos como Mulheres Rodadas e Volume Morto (para homens acima dos 50) —, o longa de Sam Taylor-Johnson (‘O Garoto de Liverpool’) soa como piada involuntária. Ou anacrônica. Ou ambos.

Christian Grey (Jamie Dornan) quer convencer Anastasia Steele (Dakota Johnson) a ser sua escrava sexualDivulgação


Pois vejamos: a heroína é uma universitária virgem; o príncipe consorte apresenta a amante à família num jantar e ainda em um evento como sua namorada; ele usa o telefone em vez de mensagem de texto. É ou não é datado?

No primeiro filme desse pornô soft em três episódios, baseado no best-seller de E. L. James, que vendeu mais de 100 milhões de cópias no planeta, Anastasia Steele (Dakota Johnson, de ‘Cinco Anos de Noivado’) conhece o jovem empresário Christian Grey (Jamie Dornan, de ‘The Fall’) e passa a ser cortejada por ele, que tenta convencê-la a ser sua escrava sexual, com direito a sessões de tortura soft.

Daí para a frente, as cenas de sexo se alternam com as de ostentação à la Eike Batista: passeios de helicóptero e planador, jantares, carros esportivos dados de presente. Cafonice em último grau. Os diálogos são toscos, constrangedores e infantilizados. Assim como o herói Christian Grey, um sujeito que sofre de perversão narcísica (uma característica dos tempos e amores líquidos, como batizou o sociólogo Zygmunt Bauman), manipulador e priápico. Seu único traço de generosidade é dizer isso a suas presas.

Verdade seja dita, a escalação de elenco foi um gol. Ela, mais que ele, convence no papel da jovem que resguarda sua virgindade “para alguém que a mereça”. Ainda que o longa/livro enfureça engajadas feministas, seu sucesso planetário dá o que pensar. Afinal, o que querem as mulheres?

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