Por paloma.savedra

Rio - ‘Lidar com a passagem do tempo é difícil. Essa história de que chegar na terceira idade é estar na melhor idade é uma mentira. Estou envelhecendo e sinto que, agora, quem tem interesse em mim são as indústrias farmacêuticas.” Werner Shünemann não deixa o bom humor de lado nem mesmo na hora de falar da distância que vem mantendo do espelho nos últimos anos. “Esse objeto virou algo perturbador pra mim.”

Aos 56 anos, o Osvaldo da novela ‘Babilônia’ admite que tem se cuidado mais. “Sou vaidoso e a verdade é que chega um determinado momento na vida que não dá mais para acreditar em milagres. A gente precisa dar uma forcinha". Oposto de seu intérprete, o ex-presidiário Osvaldo da trama das 21 horas não nutre nenhuma vaidade e está longe de ser um galã.

Werner Shünemann posou na praia da Barra da Tijuca para a entrevista do DIABruno de Lima / Agência O Dia

“Entrar numa novela já na reta final é difícil, pois os outros atores já estão com seus personagens desenvolvidos. Então, rola uma desvantagem. Por outro lado, a gente surge com uma carga nova. E o Osvaldo é um personagem que tem me agradado muito. Ele é um cara espaçoso, uma verdadeira ventania, que chega e mexe com as coisas. Houve esse momento em que ele se fez de bom moço, um homem supostamente regenerado. Mas agora está claro que ele quer vingança. O Osvaldo não aceita ter perdido o posto de todo-poderoso do Morro da Babilônia e, de quebra, não ter mais nada com a Valeska (Juliana Alves). Ele quer tudo de volta”, explica Werner.

Para o ator, apesar do jeito grosseiro e intempestivo, Osvaldo ainda ama Valeska. “Ele fala que a Valeska é propriedade dele e que em mulher de bandido ninguém mete a mão. É o conjunto dos valores da bandidagem, né? Mas eu acho que, no fundo do coração do Osvaldo, ele gosta dela. Só que ele é um cara ciumento e possessivo.”

De acordo com o ator, esse jeito ciumento do personagem deve servir de alerta para o público. “O ciúme do Oswaldo é patológico. Um desvio da mente. Eu acho que a nossa sociedade tem tolerância demais com o ciúme. Pior, acredito que a nossa cultura incentiva esse tipo de sentimento. Ás vezes, as pessoas falam: ‘Ah, meu namorado não sente ciúmes de mim, acho que ele não me ama’. Ou então: ‘Ciúme apimenta a relação’. Isso é um absurdo. Se eu estou com uma pessoa e os outros olham, eu me sinto lisonjeado. Eu sou sortudo por estar com essa mulher. Sempre acreditei que quem ama deixa livre. Quando eu vejo esses casos de pessoas que cometem crime passional, eu penso que isso vem dessa cultura do ciúme tão erroneamente incentivada por nós".

Sem medo de dar sua opinião, Werner também se declara totalmente a favor da descriminalização das drogas. “Para mim, essa é uma questão para refletir. O meu personagem quer ter poder novamente, para isso ele sabe que precisa de dinheiro. Sendo assim, o que ele vai fazer? Voltar para o tráfico de drogas. Sou a favor de descriminalizar as drogas. Deixá-las como algo ilícito só serve para aumentar o poder do tráfico". 

O ator também pede uma atenção maior para a segurança pública e o sistema penitenciário brasileiro. “Temos prisões lotadas e prisioneiros vivendo em situações indignas. E o pior, eles misturam pequenos meliantes com grandes bandidos naquele lugar horroroso. Tem que rever isso. Outra coisa: o estado gasta uma fortuna com segurança e o crime segue evoluindo. Quer dizer, é dinheiro público jogado no lixo.”

Outro tema que assusta o ator tanto quanto o crescimento da violência é a homofobia. “O Brasil está pior com essa questão dos costumes. Hoje, a sociedade retrocedeu. O mundo está em outra batida e a gente está completamente atrasado. Tudo está mais careta, preconceituoso, retrógrado e reacionário. Você pode não gostar de homossexuais. Se sentir ofendido ao vê-los se beijando. O que você não pode é querer impedir a pessoa de expressar o que ela sente. Se um beijo gay te incomoda tanto, então vira de costas. Eu tenho 56 anos e, quando eu tinha 15, 16 anos, já existiam gays, travestis, e eles não morriam da forma e na quantidade que eles morrem hoje. Sinceramente, a gente se perdeu no meio do caminho.”

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