'Grelo Falante' - Renato Mangolin
'Grelo Falante'Renato Mangolin
Por BRUNNA CONDINI

Há 20 anos, elas já colocavam o machismo pra correr e com humor corajoso davam voz ao feminino. Carmen Frenzel, Claudia Ventura e Lucília de Assis, integrantes do coletivo O Grelo Falante, voltam aos palcos nesta sexta, no Sesc Tijuca, no inédito 'O Grelo em Obras', espetáculo que celebra as duas décadas do trio.

"O grupo nasceu em 1998 como uma resposta às publicações femininas, machistas pra cacete, que ensinam as mulheres a agradarem o homem na cama, a sogra na mesa e os filhos na pracinha", lembra Carmen Frenzel.

"Depois desses anos, continuamos nessa luta assertiva pelo feminino, apesar de estarmos vivendo um tempo em que a discussão de gênero se ampliou. Já não cabe mais a distinção apenas entre o feminino e o masculino. Vivemos uma época em que o debate inclui inúmeros gêneros que, às vezes, não têm nem nome", completa Claudia Ventura.

Com direção de Fabiano de Freitas, o espetáculo é uma revisão da trajetória e também uma autocrítica ao conteúdo produzido ao longo desse tempo, dando voz ao momento atual. "Elas nunca pararam. Tiveram programa de rádio e de TV, e seu próprio jornal. Lançaram livro, filme, peça de teatro numa época em que o humor era dominado pelos homens", comenta Fabiano.

FALA, GRELO!

Se hoje, logicamente, os tempos são outros, o grupo acompanha essa evolução. E depois de 20 anos, o que o Grelo tem a falar? "Ele está perplexo com tantas mudanças. O Grelo também é um porta-voz das falas que não puderam ser ditas. Ele fala sobre o que não se fala", afirma Lucília de Assis. "E também quer ser um ouvinte. Quer pensar, conversar, trocar, poetizar. O Grelo quer muitas coisas. E pode ficar fanho, rouco ou surdo, mas nunca mudo", diverte-se.

A atriz salienta o pioneirismo do trabalho do coletivo. Que surgiu antes da necessária Lei Maria da Penha e dos movimentos 'Meu corpo, minhas regras' e 'Não é não!'. E diz que, apesar do trabalho desenvolvido nesses anos, ainda encontram (pasmem!) resistência no caminho.

"Somos, sim, ainda muito rejeitadas pelo nome O Grelo Falante. Como por exemplo, em portarias de instituições quando vão nos receber e somos anunciadas, e as próprias funcionárias falam 'Grilo Falante', porque resistem a falar Grelo", diz. "Até dizemos que quem tem problema com grelo é que precisa de um toque. O caminho é árduo. Achamos que o feminismo é uma luta e uma busca permanente. Não podemos nos entender como mulher se não encampamos a luta do feminismo. Não podemos não ser a favor da igualdade, seja ela em que âmbito estiver".

Lucília também comenta o recente assassinato da vereadora Marielle Franco.

"O extermínio dela devastou e alvejou em muitas almas. Marielle é uma força de muitas conquistas. E mais uma vez, ficamos à mercê da truculência, das forças a serviço do mal, da nossa miséria. Temos que cobrar a apuração dessa tragédia. Marielle presente no nosso espetáculo e presente sempre". E a atriz convoca: "Venham ver, ouvir, pensar, se divertir e polemizar com a gente, lá no Sesc Tijuca".

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