Espetáculo
Espetáculo "Memória d' Alma" Camila Marchon
Por BRUNNA CONDINI

Rio - Baseada em histórias reais, a peça 'Memória d'Alma' estreia nesta sexta-Feira no Teatro Cândido Mendes, em Ipanema, com Juliana Teixeira e Niaze Neto nos papéis de mãe e filho. Os dois passam suas histórias a limpo em um embate emocionante dentro de uma cela na prisão.

"Eu não me via interpretando uma mulher tão distante de mim. Mas o texto e a personagem me contaminaram de uma forma muito forte, assim como a necessidade de falar sobre assuntos como assédio moral, religião e abuso", conta Juliana, que dá vida a uma católica fanática.

Em cena, mãe e filho relembram episódios marcantes de assédio, crueldade, omissão e o abuso que o menino sofreu do pai. "Ser mãe facilitou muito porque o sentimento é universal, mas os assuntos que abordamos no espetáculo são difíceis e reais. O que mais me motivou foi poder falar do tema, para ver se através dessa consciência a gente consiga melhorar esse quadro de abuso sexual de menores no Brasil", analisa a atriz, que é mãe de João Carvana.

PRODUÇÃO

A peça com texto de Fabiano Barros é dirigida por Guilherme Scarpa e Camilo Pellegrini. A profundidade da dramaturgia do autor pernambucano arrebatou Scarpa e Juliana, tanto que decidiram bancar do próprio bolso a montagem, sem esperar por editais, e reuniram uma equipe de peso para o projeto, que tem a trilha assinada por Danni Carlos. "O texto mostra um drama familiar muito potente e faz uma denúncia sobre um assunto que não pode mais ser silenciado, varrido para debaixo do tapete. É uma história que revela a hipocrisia, a doença, e crimes que acontecem diariamente, não só em regiões inóspitas do país, como em grandes capitais", diz Guilherme.

Juliana observa que o "momento terrível para a cultura do país" uniu ainda mais os artistas. "Essa instabilidade econômica e política trouxe generosidade por parte dos artistas, que merece seguir de exemplo para que a sociedade de um modo geral possa se unir. Os obstáculos aguçam a criatividade", comenta.

"Estou muito feliz em ter um parceiro corajoso, querendo também fazer teatro e falar sobre nosso tempo e nosso país, entreter com teatro, mas também fazer pensar. É um privilégio ter pessoas que comungam dessa mesma filosofia. E o momento, apesar de terrível, propiciou essa generosidade e esse encontro de artistas que querem fazer", emenda a atriz.

Ela também salienta a importância de projetos que deem visibilidade a questões importantes, como em 'Memória d'Alma'.

"Infelizmente, o abuso sexual de menores é uma realidade na sociedade atual, não somente no Brasil, quando agora assistimos ao caso da denúncia do treinador da seleção de ginástica artística masculina brasileira, mas também no cenário internacional, com o caso do médico que foi condenado por abusar das ginastas americanas. É preciso falar, discutir e denunciar. Isso pode não curar as feridas, mas evita que outros casos aconteçam e fortalece aqueles que querem denunciar", diz.

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