Kim (Lucilla Diaz) no monólogo 'Kim - O Amor é a tua cura' - Daniel Lopes/Divulgação
Kim (Lucilla Diaz) no monólogo 'Kim - O Amor é a tua cura'Daniel Lopes/Divulgação
Por Gabriel Sobreira

Rio - Kim (Lucilla Diaz) é uma travesti repreendida pela sociedade por fazer a cirurgia de redesignação sexual procedimento cirúrgico em que as características sexuais são mudadas para o gênero que a pessoa se reconhece. No monólogo 'Kim O Amor é a Tua Cura', em cartaz até o dia 27 de maio, no Teatro Café Pequeno, no Leblon, Lucilla Diaz reforça que o espetáculo trata de aceitação, respeito e inclusão. "São vários os casos de travestis que se suicidam. É importante ressaltar que a segunda maior causa de mortes de pessoas trans é o assassinato social, que nada mais é que o suicídio", alerta.

REPRESENTATIVIDADE

Natural de Brasília, Lucilla, de 47 anos, confessa que não é fácil interpretar uma travesti e todos os dramas por quais ela passa. "As travestis sofrem a marginalização, a falta de oportunidades no trabalho, a violência a qual se expõem ao sair de casa. O Brasil é o país que mais mata travestis no mundo e se torna mais difícil ainda pelo momento político que vivemos, quando travestis e pessoas trans vêm reivindicando seu lugar na arte, a representatividade na arte".

Sobre o fato de a peça não ser protagonizada por uma travesti, a atriz acha que pode haver críticas, sim. "Pode e estou aberta para conversar sobre isso. Incluímos pessoas trans na produção, como Aurora Borealis, que é assistente de produção, e Dandara Vital, que é diretora assistente e faz participação especial na peça. Era meu sonho realizar este projeto, viver e contar esta personagem", diz ela, acrescentando que a equipe ainda tem um fotógrafo homem trans e um iluminador que é uma drag queen.

Os processos de composição da história e da personagem vêm de longa data. Nos 20 anos que Lucilla morou na Itália, ela conheceu Marco Calvani e Monica Scattini, autores de 'Unhas', obra que inspirou a adaptação da atriz.

"Mas só desenvolvi um discurso real sobre a vivência trans aqui no Brasil e com a equipe que hoje trabalha comigo. Fiz um seminário na Caixa Cultural sobre transfeminismos que é uma corrente do feminismo voltada especialmente às questões da transgeneridade. Pude aprofundar meu discurso e conhecer mulheres e homens trans maravilhosos, que se formaram, trabalham e são pessoas inspiradoras", explica.

"Além de um laboratório que faço aqui no Brasil há cinco anos, fiz amizades, criei laços e venho aprendendo muito com minhas amigas trans. Venho me 'trans-formando' em uma pessoa melhor", comemora.

PAPEL DA SOCIEDADE

A direção do monólogo é assinada por Alessandro Brandão, a drag queen Rouge de 'Pega Pega', exibida em 2017, na Globo. Segundo ele, a sociedade precisa ver que vem dela mesma a crueldade contra travestis. "Somos nós que impomos que elas precisam ser prostituas, pois não vou deixar uma travesti ser professora da escola do filho, não quer uma travesti sendo votada e virando vereadora. Então, a sociedade impõe à travesti esse lugar de exclusão. O que eu quero com esse trabalho é mostrar aos travestis que a culpa é da sociedade. Somos nós que não temos o olhar e nem o amor necessário para aceitá-las", diz o diretor.

ENVOLVIMENTO

Brandão tem uma forma de atrair a atenção do público para a causa. "Todo mundo já se sentiu excluído socialmente pelo menos uma vez na vida, seja pelo jeito afeminado, por estar acima do peso, por não ter a altura ideal, ou por ter o cabelo diferente. No espetáculo, a gente pega esses pontos que são comuns entre todos para trazer o público e fazer com que eles se identifiquem com a situação das travestis", explica.

Lucilla completa: "A partir do momento que você conhece a causa não tem como não se envolver, é algo que me toca profundamente", frisa.

Você pode gostar
Comentários