Diva (Neusa Borges) conhece Flor (Bruna Marquezine) em 'América' - Márcio de Souza/TV Globo
Diva (Neusa Borges) conhece Flor (Bruna Marquezine) em 'América'Márcio de Souza/TV Globo
Por Gabriel Sobreira

Rio - Neusa Borges, 77 anos, já teve nove maridos, mas não quer saber mais de casamento. "Tenho uma 'prestação de serviço'. Estou velha, mas não estou morta. Todo mundo diz que sou uma negra bonita, bem cuidada, nunca fiz plástica", gaba-se ela, aos risos. "O sexo na maturidade é mais gostoso. A gente fica mais consciente das coisas. Quando se é jovem, muito 'porra louca', pensa que está aproveitando, mas a maturidade te leva para um nível mais bonito", acrescenta a atriz catarinense, que mora há 30 anos em Salvador (BA).

EXPERIÊNCIA

Gosta de homens mais novos? "Não gosto muito de 'INSS', não (risos). Mas também não gosto de molecagem. Amor não tem idade, e prestação de serviço também. Sem problemas em ficar com um homem de uns 30 e poucos anos. Hoje em dia, eles nos ensinam algumas coisas, e a gente ensina também", diverte-se ela.

SEM PRÊMIOS

Ano que vem, a veterana atriz comemora 50 anos de uma carreira bastante premiada. "Mas joguei tudo fora. Estatueta não paga supermercado ou aluguel. O que vou fazer recordando com prêmios? Pra que quero guardar isso? Vou ficar olhando isso dentro de casa fazendo coisa nenhuma", confessa, às gargalhadas.

Sempre bem-humorada, a Neusa só fica chateada quando o assunto é trabalho. Ela está sem emprego na TV há quatro anos, sem contar uma participação em 'Escrava Mãe', da Record, em 2016. "Achei que a Record fosse me chamar novamente para algo. Eles fazem várias novelas bíblicas. É tudo 'Viva Jesus' e não entra preto? Pedi tanto para o (Fernando) Rancoleta (diretor de elenco) me ajudar. Mas eles não têm personagens", lembra a atriz.

O mesmo acontece com a Globo, que na próxima segunda-feira estreia 'Segundo Sol', uma novela de João Emanuel Carneiro para a faixa das 21h, ambientada na Bahia, mas que traz poucos atores negros no elenco (confira na matéria ao lado). "Os autores não se lembram de mim. E não é por causa dessa polêmica, não, mas sempre quis trabalhar com ele (João Emanuel Carneiro). E com o Ricardo Linhares também", conta.

CONVITES

"Tenho recebido várias mensagens, e as pessoas na rua me perguntam o porquê de eu não estar nessa novela. Não fui convidada. Não me chamaram porque não me querem. Não fiz nada de mal para a Globo. Só dei para ela grandes personagens. As pessoas não teriam esse carinho comigo se eu não tivesse feito bons trabalhos", acrescenta ela, que em breve poderá ser vista nos filmes 'O Fio da Meada' e 'Borogodó', este último com Luís Salém.

"Me chamou para trabalhar? Pergunto: 'Vai pagar quanto?'", diz, muito franca. "Vou lá e faço o meu trabalho. Não vivo almoçando e jantando na casa de artista. Vivo para a minha família. Meus amigos não são do meio artístico. Na TV, são colegas", explica.

ALUGUEL ATRASADO

Para ajudar nas despesas de casa, Neusa tem há cinco anos o La Borges Brechó, mas está com o aluguel da loja atrasado desde o último dia 3. "Os artistas do Rio me ajudaram a montar o brechó. Mas também tenho que agradecer muito a Claudia Leitte e Ivete Sangalo, que me ajudaram este ano. Mas preciso de mais doações. Não só de artistas", observa a microempresária, que há seis anos sofreu um acidente vascular cerebral (AVC). "Estou ótima, obrigada", frisa.

"As pessoas dizem que faço falta na TV. Falta faz o meu trabalho. Estou desempregada há quatro anos. Vivo de aposentadoria. Aposentei-me com sete salários e ganho três. Dá para comprar remédio, fazer supermercado e pagar contas", diz.

PAPEL DO NEGRO

Na semana em que são comemorados os 130 anos da Abolição da Escravatura domingo, dia 13 , Neusa, que sempre foi uma militante do movimento negro, vê poucos avanços para festejar. "Qual o papel do negro na TV ou na sociedade? O negro continua vivendo na senzala e no tronco. Ganhei prêmios fazendo empregadas e babás com orgulho. Mas quando vão me dar um papel principal? O negro é último em tudo. Mas não podemos e não devemos jamais nos calar", defende.

A POLÊMICA DA NOVA TRAMA DAS 9
Roberval (Fabricio Boliveira): coordenada da matéria Neusa Borges
Roberval (Fabricio Boliveira): coordenada da matéria Neusa BorgesJoão Miguel Júnior/TV Globo
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Desde que a Globo lançou as primeiras chamadas de 'Segundo Sol', novela das 21h, que estreia dia 14, ambientada na Bahia, choveram críticas pelo fato de poucos atores negros aparecerem na história. Segundo o senso do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2013, 76,3% da população baiana é de negros. No material de divulgação da trama, enviado para a imprensa, dos 44 atores, sete são negros, incluindo duas crianças.
Na semana passada, parte do elenco se reuniu com Monica Albuquerque, diretora de Desenvolvimento e Acompanhamento Artístico, e cobrou uma posição do canal sobre as críticas online. Eles ouviram da diretora que as críticas estão baseadas sobretudo na divulgação da primeira fase da novela e que ainda tem muita história pela frente. "De fato, ainda temos uma representatividade menor do que gostaríamos e vamos trabalhar para evoluir com essa questão", admite a nota da Comunicação da Globo.
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"Acho importante ter um diálogo inteligente. E são coisas muito mais importantes para mim, mais do que 'quem matou quem?'. Eles (o púbico) estão querendo falar sobre representação, e isso envolve todo mundo que está aqui", destaca o ator Fabrício Boliveira (foto acima), o Romildo da novela de João Emanuel Carneiro. A Globo ainda informa que conversas como as que aconteceram entre os atores e a diretora Monica Albuquerque são comuns e, inclusive, encorajadas.
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