Martinho da Vila ganha homenagem no teatro - WILLIAM VITA
Martinho da Vila ganha homenagem no teatroWILLIAM VITA
Por BRUNNA CONDINI

Rio - São 80 anos e uma vida dedicada à música, à poesia e à luta nos movimentos negros. Martinho da Vila, que completou as oito décadas em fevereiro, vem recebendo homenagens desde o início do ano, mas agora vai ver sua história passar no teatro."A emoção na estreia vai ser a de passar um filme da minha vida na cabeça durante a peça", diz o sambista.

Com direção de William Vita, o espetáculo 'Martinho da Vila 8.0 Uma Filosofia de Vida', de Ana Ferguson, Luiz Marcelo Legey e Solange Bighetti, estreia hoje no Teatro Clara Nunes, no Shopping da Gávea. A vida do compositor será contada com base no livro 'Memórias Póstumas de Teresa de Jesus', publicado por ele, além de uma vasta pesquisa no acervo e entrevistas.

Ansioso, o artista conta que ainda não assistiu nada. "Não fui a nenhum ensaio. Dei uma lida no roteiro no início e achei muito bom. Quero que chegue a estreia".

Chegou. Hoje, ele e o público vão poder ver no palco trechos dos seus principais sucessos, como 'Devagar, Devagarinho', 'Disritmia', 'Mulheres', entre muitos outros. No cenário, projeções de fotos e os ambientes que retratam sua vida e carreira desde a década de 1940.

MARTINHO PERSONAGEM

Dando vida ao músico na ficção estão os atores Victor Hugo, Junior Vieira e Nill Marcondes, nas fases criança, jovem e adulta, respectivamente. Nill conta que quase perdeu a oportunidade de fazer o papel. "Vi que o William Vita (diretor) publicou sobre o espetáculo e fui dar os parabéns pelo projeto. Depois, ele disse que tinha pensado em mim, mas como eu estava em São Paulo trabalhando, não fez contato. Então, ele disse que o convite estava de pé... Topei na hora!", lembra.

"Serei apenas um dos contadores dessa linda história, que é e foi a vida dele. A primeira coisa que fiz foi desacelerar em tudo que faço e na forma de falar. Tenho assistido a muitos vídeos de entrevistas e também tivemos um encontro com o mestre", diz Nill.

O ator comenta que o contato com Martinho foi fundamental para sua composição. "Estava estudando o jeito, o tom da voz. Sentindo quem ele era. Quero me aproximar o máximo possível dessa pessoa que ele é, no momento da interpretação, mas não tem como fazer o Martinho. Já era fã como cantor e pessoa. Sei a luta que ele tem dentro da comunidade negra, a importância que ele tem como poeta, autor, escritor e não só como músico. Confesso que agora acho ele realmente um gênio".

E Nill deixa escapar uma dica dada pelo sambista: "Ele me contou que não tem vaidade. E às vezes, o ator tem muita vaidade. Eu pessoalmente não tenho, então vou trabalhar assim, nessa linha. Não quero exagerar".

No elenco, Babi Xavier faz a esposa Cléo, e Ana Miranda vive Dona Teresa de Jesus, a mãe do artista. E ainda mais seis atores.

DOUTOR HONORIS CAUSA

Do menino Martinho José Ferreira, que nasceu em Duas Barras, Rio de Janeiro, filho de Tereza de Jesus e Josué Ferreira, lavradores da Fazenda do Cedro Grande, até o celebrado e conceituado artista, foram 50 anos de trajetória. Ana Ferguson, uma das autoras, encantada com tantas facetas de Martinho, quis trazer as histórias não tão conhecidas do sambista para o palco.

"Depois que ele recebeu o título de Doutor Honoris Causa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em outubro de 2017, nos sentimos na obrigação de levar ao conhecimento do público toda uma história de vida ligada ao movimento negro e preocupação com a língua portuguesa nos países lusófonos", esclarece. "Além disso, falar da sua carreira artística de grande sucesso, ao longo de seus 80 anos", explica Ana.

EM CARTAZ

Além da vida do sambista, o fim de semana promete emoções variadas nos palcos da cidade. Destaque para a reestreia de 'Édipo e o Rei, um Acidente Mitológico', hoje, no Teatro dos Quatro. Faz uma paródia bem-humorada da clássica tragédia grega com Francisco Vitti no papel-título.

As estreias do suspense 'Enquanto Você Dorme', no Sesc Tijuca, que fala sobre as atrocidades que o ser humano é capaz de cometer, e a releitura de Marcello Caridade, do clássico de Jorge Amado 'Capitães de Areia', no Teatro Glaucio Gill, em Copacabana, mostram a diversidade do cardápio carioca no momento.

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