Maeve Jinkings e Fabio Assunção nos bastidores da supersérie - Reprodução
Maeve Jinkings e Fabio Assunção nos bastidores da supersérieReprodução
Por Gabriel Sobreira

No ar em 'Onde Nascem os Fortes', Maeve Jinkings, 40 anos, acredita que o ofício do ator é investigar o comportamento humano. Atualmente, a atriz interpreta Joana, uma personagem sexualmente ativa, que desperta paixões e desejos por onde passa, arrebatando desde o líder espiritual Samir (Irandhir Santos) até a religiosa Rosinete (Debora Bloch), a mulher de Pedro (Alexandre Nero), terá um sonho erótico com Joana na cama com Pedro.

"A Joana que a Rosinete imagina tem a ver com os desejos que a própria Rosinete reprime. E nesse imaginário da Rosinete, que é uma mulher que tem problemas em chegar ao orgasmo, Joana representa a potência dessa intimidade com a própria sexualidade", conta Maeve.

ORGASMO

Para a atriz, seu papel na supersérie da Globo mostra a liberdade da intimidade da mulher com o próprio desejo. "A gente é incentivada a se autorreprimir. Menos da metade da população feminina brasileira conhece o orgasmo. Isso não é defeito genético. Tem a ver com a formação da sua subjetividade na relação com seu próprio corpo. A mulher que se masturba é a mulher que tem uma sexualidade saudável. Mas a mulher é ensinada a ter vergonha do próprio corpo, a ter medo da sua sexualidade", afirma.

OLHARES

Desde sua estreia na TV, na novela 'A Regra do Jogo', em 2015, Maeve está se acostumando com os olhares dos fãs. "Quando fiz a Domingas (em 'A Regra do Jogo'), ela era reprimida, violentada pelo marido, não conhecia o próprio corpo. O olhar das pessoas quando andava na rua era quase maternal, frágil. Hoje em dia, tem um olhar mais de desejo, uma curiosidade. Como se as pessoas tivessem dificuldade de separar. Eu não sou Joana, nem Domingas", esclarece, aos risos.

"Se eu percebo desejo no olhar de alguém, não sinto culpa. Enxergo o erotismo como inteligência, algo tão bom quanto a capacidade técnica para algo. É para mim mais uma faceta das pessoas. Uma parte tão importante quanto outros aspectos que carregamos", atesta.

A TRAMA

Em 'Onde Nascem os Fortes', da Globo, Joana vai parar no Laje do Anjos, cuidado por Samir, depois que Pedro descobre que ela o espionava para Ramiro (Fábio Assunção). A relação da amante de Pedro com Samir fica cada vez mais intensa. "Ele (Samir) tem um olhar para ela além da carne, além do erótico. E a Joana vem dar a 'carne' para ele, que é quase um santo", reforça.

Com personagens fortes no cinema, como a Bia de 'O Som ao Redor' (2012), uma dona de casa que se masturbava na máquina de lavar roupa, ou a exuberante cantora de brega Jaqueline em 'Amor, Plástico e Barulho' (2013), Maeve traça um paralelo entre as duas e Joana. "A Bia se debruça no espaço privado. Um olhar do filme sobre essa mulher, o espaço da casa dela, que cuida dos filhos, o marido ausente. Uma coisa é você ter uma relação livre e saudável com sua própria sexualidade, se masturbar, fundamental para a mulher e qualquer ser humano esse conhecimento do seu próprio corpo. A Joana é outra, vai para o espaço público sublinhando os códigos do erotismo", compara.

"A Joana e a Jaqueline são superlativos. Uma coisa é você se sentir livre para exercer sua sexualidade no espaço público. Isso não significa que está sendo permissiva e que todos os homens têm acesso ao seu corpo. Significa que você está se permitindo e que só vai ter acesso a ele quem e se você deixar", defende.

FEMINISTA

Assumidamente feminista, Maeve, que nasceu em Brasília, diz que ainda falta muito para a mulher conquistar o protagonismo que merece. Segundo ela, são microrrevoluções que as mulheres conseguem. "Tenho consciência de que, quando digo que sou feminista, tem um peso. A maioria das mulheres tem medo dessa frase. Tenho certeza de que nenhuma delas vai escolher: não pode votar, não pode abrir conta do banco sem ter assinatura do marido, não existe sem casamento, não ter uma boa profissão e sim viver para o marido", enumera.

TEMER

Em ano de eleições, a artista se mostra insatisfeita com o atual cenário político. "(Michel) Temer tem um governo ilegítimo. Ele assumiu o poder ilegalmente, encontrou meios jurídicos que estão sendo estudados nas faculdades de Direito como abusos de poder questionáveis do ponto de vista ético. Ele representa o velho mundo, a alta classe que quer concentrar o poder, que tem uma dificuldade de enxergar as classes populares de uma maneira horizontal. Ele representa uma classe política que quer sufocar a ascensão dos movimentos populares, as invisibilidades das Marielles, Matheusas, o devir mudanças pelas quais as coisas passam desse mundo velho, que tenta nos sufocar", desabafa. "Tenho mais interesse nesse mundo mais complexo, plural, horizontal, do que ficar agarrada nesse velho mundo em ruínas", finaliza.

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