Beatriz e Antonio Fagundes em 'Dancin' Days' (1978)
 - Nelson Di Rago/TV Globo
Beatriz e Antonio Fagundes em 'Dancin' Days' (1978) Nelson Di Rago/TV Globo
Por Ricardo Schott | ricardo.schott@odia.com.br

Rio - Beatriz de Toledo Segall começou a estudar teatro em 1950 e estreou na TV poucos anos depois, numa das primeiras telenovelas produzidas pela Rede Tupi, 'Polyanna', de 1956. Só na Rede Globo, ultrapassou em muito a dezena de novelas. Fez todo tipo de trabalho, mas ficou marcada pelas personagens seguras e aristocráticas. Uma delas, graças a inúmeras reprises e ao culto na internet, tratou de marcar a vida da atriz carioca, que morreu ontem aos 92 anos. A vilã Odete Roitman, da trama 'Vale Tudo' (de 1988, reprisada atualmente no Canal Viva), marcou telespectadores por seu comportamento arrogante e frio, e suas frases extremamente desfavoráveis em relação ao Brasil você confere algumas delas ao longo deste texto.

TEATRO NA FRANÇA

Nascida em 25 de julho de 1926, Beatriz era filha do diretor do Instituto Lafayette da Tijuca. Fez sua primeira peça durante um trabalho escolar na Aliança Francesa. Ainda nessa época, chegou a fazer um trabalho semiamador com as também iniciantes Fernanda Montenegro e Nicette Bruno. Em 1946, tornou-se professora de francês e conseguiu uma bolsa para estudar teatro e literatura em Paris. Acabou indo mesmo contra a vontade da família.

Em 1954, Beatriz casou-se com Maurício Segall, filho do pintor judeu lituano Lasar Segall e da tradutora Jenny Klabin, com quem teve três filhos. Fez alguns trabalhos como atriz nesse período e retomou a carreira em 1964 a convite de José Celso Martinez Correa, no Teatro Oficina. Seu período de maior sucesso aconteceu quando já passava dos 50 anos e estreou na Rede Globo, na novela 'Dancin' Days' (1978), em que fez Celina, mãe de Cacá (Antonio Fagundes) e Beto (Lauro Corona). Interpretou depois Norah Silveira Brandão em 'Pai Herói' (1979) e, oito anos antes de Odete Roitman, em 1980, fez a megera Lourdes Mesquita de 'Água Viva'. Em 1981, durante passagem pela teledramaturgia da Band, fez uma personagem humilde, Iracema, em 'Os Adolescentes', de Ivani Ribeiro e Jorge Andrade.

ODETE DURANTE E DEPOIS

A Odete de 'Vale Tudo', escrita por Gilberto Braga, era uma mulher autoritária, presidente do grupo Almeida Roitman. Vivia em Paris, odiava o Brasil e estava acostumada a humilhar os funcionários e controlar a vida dos filhos, Heleninha (Renata Sorrah) e Afonso (Cássio Gabus Mendes). Foi morta a tiros por Leila (Cássia Kis), mas a assassina só foi revelada próximo ao fim da novela. O mistério gerou um dos mais movimentados "quem matou?" da TV brasileira.

Após Odete, Beatriz interpretou outros papéis importantes, embora não tenha conseguido com eles a mesma projeção. Fez a cientista Miss Penélope Brown de 'Barriga de Aluguel' (1990, personagem revisitado em 'O Clone', de 2001), a Stella Mendes Peixoto de 'De Corpo e Alma' (1992) e a Maria Antônia de 'Esperança' (2002). Sua última aparição em TV foi na série 'Os Experientes', de 2015, da Globo. Em 2014, afastada da TV, anunciou que começaria a dar aulas particulares de interpretação. Em entrevista ao canal 'Notícias da TV', disse também que a Globo nunca havia lhe dado importância. "Nunca fui contratada pela Globo. Sempre trabalhei por obra. Eles nunca me ofereceram, e eu não procurei", contou.

A atriz sabia da enorme repercussão da vilã de 'Vale Tudo', mas não gostava de estar eternamente ligada a ela. "É uma personagem que gosto muito de ter feito, mas tenho vontade de matar quem me pergunta 'Quem matou Odete Roitman?'", brincou, em entrevista à revista 'Quem', dando ainda sua receita para fazer um vilão. "É não fazer o vilão. O vilão nunca se acha vilão. Pergunte a esses políticos corruptos do Brasil se eles são vilões. Dirão que não. O vilão não se apresenta como mau, ao contrário", afirmou.

Beatriz estava internada há algumas semanas no hospital Albert Einstein, em São Paulo, com problemas respiratórios. Ela havia recebido alta no dia 21 de agosto, mas voltou a ser internada depois e, desta vez, não resistiu, morrendo no hospital ao meio-dia. A causa da morte não foi divulgada. O corpo da atriz foi velado no próprio hospital a partir das 19h e será cremado hoje, em Cotia, na Grande São Paulo.

"ÍCONE"

Vários famosos se despediram de Beatriz nas redes sociais. Daniela Mercury escreveu que "Beatriz Segall era uma diva muito amada e respeitada por todos que conheceram sua arte". Fernanda Paes Leme postou: "Perdemos um ícone". À GloboNews, Gloria Pires afirmou que Beatriz "foi uma diva, atriz potente, trabalhadora esgotável. Nunca entendi o porquê de seu sumiço da TV". Valesca Popozuda escreveu que "além de ter sido uma grande atriz, foi uma das mulheres mais lindas e doces que eu já conheci". O autor de novelas Walcyr Carrasco postou que Beatriz "fez grandes e importantes peças de teatro, inclusive na resistência à ditadura militar".

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