O ator Bemvindo Siqueira (E) em cena como Miguel;
e a jovem autora Maria
Queiroz Azevedo - FOTOS Divulgação
O ator Bemvindo Siqueira (E) em cena como Miguel; e a jovem autora Maria Queiroz AzevedoFOTOS Divulgação
Por BRUNNA CONDINI

Qual seu preço? Vale tudo para realizar um projeto? Uma história sobre o sofrimento de um diretor para conseguir um patrocinador e montar sua peça, decidindo até que ponto vai se submeter às suas interferências. Esse é o drama de Miguel, personagem de Bemvindo Sequeira, em 'O Fantasma Autoral', em cartaz até 23 de setembro, no Sesc-Tijuca.

"Pelo patrocínio, ele tem que fazer concessões gigantescas, que aviltam a profissão, o caráter dele e a própria obra. Mas é o retrato fiel do que passamos", afirma Bemvindo.

Na trama, ele é um diretor famoso, conhecido por montar peças só de autores mortos, mantendo-se fiel às obras. Mas tudo muda quando ele se vê sem dinheiro para produzir seu novo espetáculo 'Dois Perdidos Numa Noite Suja', de Plínio Marcos (vivido por Pedro Garcia Neto) e tem que contar com Bruno (Alexandre Lino), o patrocinador, que deseja fazer interferências para inserir a sua marca.

"Ele está na falência total. Mora de favor no teatro. Tem uma humanidade neste personagem, o conflito dele com o Plínio Marcos. O título é 'O Fantasma Autoral' porque o Plínio aparece e exige que o texto dele seja respeitado".

E o ator se diverte, revelando uma curiosidade. "Convivi com o Plínio, ele tinha esse gênio irritadiço. Não deixava passar nada. Vivia fora do sistema porque não fazia concessões", comenta. "Aceitei o projeto porque o personagem é riquíssimo. São 52 anos de profissão e 71 de idade. Você não tem mais saco para qualquer montagem, é preciso tesão, prazer. A Maria Queiroz Azevedo é uma autora jovem de grande talento, uma descoberta para a dramaturgia brasileira", diz ele, sobre o espetáculo que tem direção de Ernesto Piccolo.

ESTREIA NA DRAMATURGIA

A autora manauara, de 24 anos, escreveu o texto em três meses, mas tenta patrocínio há dois anos. "Sou a produtora também. É um mercado que você tem que ser persistente", diz.

E Maria Queiroz Azevedo entrega suas inspirações, tiradas da vida real. "Vi uma palestra do Aderbal Freire Filho e fiquei pensando na relação do diretor com um autor, especialmente com autores mortos", recorda. "O tema da peça, mercado versus arte, é a realidade que muitos artistas vivem. Todos já passaram por uma situação um pouco parecida com a de Miguel. Além disso, sempre penso nas alterações que possam fazer nos meus textos. Confesso que não é algo que eu goste, mas procuro pensar no projeto. De autor vivo as pessoas já gostam de modificar a obra, imagine de um autor morto? E aí veio a ideia do autor morto vindo contestar as modificações no texto", diz.

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