Rio - Ela é uma das responsáveis pelo sucesso da trama das 21h da Globo. É novata na TV, mas tem mais de três décadas de experiência como atriz. Claudia Di Moura, a amorosa Zefa de 'Segundo Sol', se orgulha da trajetória até aqui.
"São 53 anos muito bem vividos e 33 a serviço da arte, entre cinema e teatro, principalmente", contabiliza.
A baiana de Salvador, onde é ambientada a novela, conta que ainda hoje sente uma felicidade "indescritível" quando pensa na oportunidade.
"O convite veio da Vanessa Veiga, produtora de elenco, que me viu numa websérie baiana. Ela mostrou meu trabalho ao Dennis Carvalho e, em poucos dias, eu já estava no Rio me preparando para a novela", lembra. "Fiquei surpresa porque não tive, a princípio, a dimensão da personagem".
Mas estar na pele da compreensiva mãe de Edgar (Caco Ciocler) e Roberval (Fabricio Boliveira), frutos do relacionamento que teve com o patrão, Severo (Odilon Wagner), e toda trama que os envolve, tem despertado no público muita solidariedade e afeto por Zefa. E tudo isso se estende a Claudia. Embora, de cara, já se perceba as diferenças entre personagem e intérprete.
"As pessoas se surpreendem nas ruas, mas, aos poucos, a imagem da Claudia Di Moura vai se destacando mais, e o público vai lidando melhor com essa diferença. A repercussão tem sido grande. E carinhosa, felizmente".
CLAUDIA & ZEFA
Apesar das diferenças físicas imediatas, já que a imagem que vemos de Zefa fica a cargo da caracterização e da composição sensível de Claudia, a atriz destaca semelhanças entre as duas.
"Zefa e eu acreditamos muito no amor, mas fazemos isso de formas diferentes. Ela foi capaz de se sacrificar em nome desse sentimento. Já eu penso que uma relação de afeto precisa ser de mão dupla", analisa. "Para construir a Zefa recorri muito à imagem das mulheres mais importantes da minha vida, particularmente minha mãe, minha maior inspiração". A mãe dela era professora aposentada.
E tudo leva a crer que a calma e conformada cozinheira já começou a trilhar sua trajetória de redenção. "Torço para que ela se liberte do jugo machista de Severo, esse homem que a cerca e lhe poda as asas. Zefa é muito maior do que o que ele a faz pensar. Mas pouco a pouco ela está rompendo esses grilhões, o que me deixa muito feliz", afirma Claudia.
"Zefa também merece uma segunda chance, como todos. Ela tem batalhado contra tudo e contra todos, mesmo em silêncio, nos recônditos da casa grande, para alimentar de amor a sua família. Já passou da hora de ela receber de volta esse afeto que ela tanto devota".
CONTRA O PRECONCEITO
Claudia nasceu em Salvador, mas conta que viveu uma infância nômade: "Até a adolescência, na verdade, morei em várias cidades do interior, em virtude do trabalho de meu pai, que era delegado. De certa forma, isso me preparou para as viagens com o teatro, pelos festivais, e também me ensinou a ser livre".
Ela recorda que o ofício foi descoberto em resposta ao preconceito.
"Costumo dizer que o que me levou à carreira de atriz foi o preconceito da Igreja Católica", diz. E explica: "Na infância, eu queria fazer o papel de anjo nas montagens da paróquia, mas como não existe anjo negro, aparentemente, eu nunca era chamada. Como prêmio de consolação, acabavam me botando para recitar uma poesia. E era nessa poesia que eu destilava toda a minha frustração, tristeza, todas as minhas emoções. Daí, foi surgindo a atriz".
OUTRA VOCAÇÃO
Paralela à interpretação, ela tem a marca Claudia Di Moura Rouparia há 14 anos. Nela, a baiana exercita sua outra faceta, a de estilista.
"É um orgulho, uma realização. Foi meu amparo financeiro em muitos momentos. Em outros, era mais investimento que retorno. Muitas vezes, foi pura doação", confessa. "Não posso dizer que tenha sido uma alternativa à carreira de atriz porque as duas atividades são paixões e vocações", conclui.
Viúva há sete anos e mãe de Dayse Maria, de 38 anos, Iasmim, de 28, e Ana Vitória, 22, a intérprete de Zefa está solteira e encara de forma realista os desafios para viver da profissão. "O artista que no Brasil pode viver exclusivamente de sua arte é um privilegiado, uma exceção. Em sua maioria, e na maior parte do tempo, os atores não são valorizados pelo seu ofício. Se a cultura no Brasil não fosse tão frequentemente tratada com descaso, a situação poderia ser diferente", reflete.
Mas Claudia está feliz com o momento e faz planos. "O Rio de Janeiro tem uma beleza monumental, asfixiante. Não só as riquezas naturais, mas a cultura também. Pretendo consolidar minha história aqui, além de multiplicar o meu trabalho como estilista", diz.