Pedro Mariano - Divulgação
Pedro MarianoDivulgação
Por RICARDO SCHOTT

Rio - Emoção garantida para fãs de Pedro Mariano e de sua mãe, Elis Regina (1945-1982), no segundo DVD do cantor gravado ao vivo com orquestra, 'DNA' (Lab 344). Gravado, como o anterior, no paulistano Teatro Alfa, o novo lançamento do cantor traz Pedro dividindo o palco com a cantora, por intermédio de um telão. Os dois cantam 'Casa No Campo', de Zé Rodrix e Tavito, um sucesso lançado por Elis em 1972.

A pergunta que vem à cabeça é: como é que Pedro, mesmo com 23 anos de carreira, conseguiu segurar a emoção numa hora dessas? "Eu fiquei olhando para o teto, precisava me concentrar. Nem olhei para a plateia. Estava de costas para o telão. Se estivesse de frente não daria certo. Se eu visse um olho vermelho na plateia, se esbugalhando de chorar, entraria na mesma sintonia", brinca o cantor.

A ideia de regravar a música veio de seu próprio irmão, João Marcello Bôscoli, quando preparou o relançamento de 'Elis', disco de 1972 que tinha a gravação original feita pela cantora. E o primeiro a ser produzido e arranjado por seu pai, Cesar Camargo Mariano. Pedro ainda conta que 'Casa no Campo' remete a uma história de sua família.

"Minha mãe sempre me contava que em 1975 (ano de seu nascimento) houve um boom horrível de poluição em São Paulo, com várias crianças nascendo com problemas de saúde. E ela dizia: 'Não, eu não quero meu filho crescendo nesse meio'. Comprou uma casa na Serra da Cantareira (região florestal paulistana) quando ninguém ia lá. Ela até dizia: 'Enfim, tenho uma casa no campo'", recorda.

Para fazer o dueto, Pedro voltou às imagens de Elis três anos antes, lançando a canção de Zé Rodrix na TV. O vídeo usado em 'DNA' tem até a marca d'água da Rede Globo no canto direito. "Esbarramos em questões técnicas. Esse vídeo é o único que existe no mundo de Elis cantando a música. Depois transformamos tudo em arranjo de orquestra", relembra Pedro.

O repertório do DVD mistura inéditas como 'DNA' (Edu Tedeschi), 'Labirinto' (Jair Oliveira), 'Alguém Dirá' (Pedro Altério e Pedro Viáfora) e 'Enfim' (Daniel Carlomagno). E Pedro ainda solta outras regravações, como 'Êxtase' (Guilherme Arantes), 'Certas Coisas' (Lulu Santos e Nelson Motta) e 'Acaso' (Ivan Lins e Abel Ferreira). Canções de nomes como Tó Brandileone e Dani Black completam o repertório.

DÁ TRABALHO

Quem acompanha estilos musicais como sertanejo e pagode já se acostumou com DVDs lançados um atrás do outro, tendo mais importância que os próprios registros de estúdio. Na época em que Pedro Mariano começou a cantar, não tinha disso, não.

"Quando eu comecei minha carreira, DVD era quase um palavrão! Era uma despesa astronômica. Servia quase como um prêmio para o artista. As gravadoras falavam que artista lançava DVD quando completava dez anos de carreira", relembra. "E hoje é o contrário. Não dá para dissociar música de imagem. Se você lança um disco sem o registro de imagem, a chance de a música sumir na poeira digital é enorme. Mas o processo não foi barateado. Ele continua dando trabalho e sendo penoso".

Valeu a pena apostar em mais um DVD com orquestra? O disco deu trabalho, mesmo? "Bastante. É tão difícil que eu nem falaria em aposta", brinca Pedro, que assumiu a direção geral e a produção do lançamento, e se fez acompanhar por 24 músicos no palco, além do maestro Otávio de Moraes.

O primeiro DVD com orquestra, cujo lançamento já completou quatro anos, já rendeu uma turnê que rodou o Brasil e um trabalho social em que o cantor dava palestras sobre música para crianças de comunidades. E não renderia continuidade, já que Pedro estava com novas músicas e pronto para entrar em estúdio. Algumas coisas aconteceram no caminho: houve um novo aporte de patrocínio e o cantor decidiu aproveitar o clima da turma na estrada para levar para uma gravação ao vivo. A ideia, conta Pedro, foi aproveitar a oportunidade de fazer mais um trabalho assim, já que "não se sabe o que vai acontecer culturalmente com o Brasil a partir do ano que vem".

"É um projeto enorme e sempre há dificuldades de fazer a chama ficar acesa por mais tempo. É difícil, mas é desafiador. E depois que passa, dá aquela sensação de que foi fácil. Não tenho mais medo de produção complexa", conta o artista.

Pedro é sincero sobre o que acha da música que ouve ao ligar o rádio, hoje em dia. "Hoje tem essa tendência de as músicas terem letras mais minimalistas, ou de as produções serem minimalistas, beirando a preguiça", afirma. "Sempre achei que deveria haver música boa e música ruim, até porque isso tudo funciona num ecossistema em que o que eu acho bom não precisa obrigatoriamente ser o que você acha bom. Mas o nível técnico caiu muito na hora de produzir novas músicas. A geração que veio depois da minha queria produzir algo diferente, mas a geração de músicos que está na casa dos 20, 30 anos, tem uma preguiça digital que me dá desespero. Sou de uma época em que já havia ferramentas de estúdio, mas o processo criativo não era acelerado", completa.

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