Monarco lança disco novo - Divulgação
Monarco lança disco novoDivulgação
Por RICARDO SCHOTT | ricardo.schott@odia.com.b

Rio - "Meu disco novo está muito bonito, viu? Mas eu sou suspeito para falar", brinca o sambista Hildmar Diniz, o Monarco, 85 anos. O portelense lança pela Biscoito Fino 'Monarco de Todos os Tempos', cheio de sambas inéditos, com produção do filho Mauro Diniz.

O compositor iniciou sua trajetória aos 12 anos, de uma maneira que nem ele consegue entender até hoje. Foi nessa idade que ele fez seu primeiro samba, quando já havia ganhado até o apelido. No fim da adolescência, já vivendo em Oswaldo Cruz, compôs 'Retumbante Vitória', que virou o samba de "esquenta" da Portela em 1952.

"Eu vejo isso tudo como dádiva divina. Foi coisa do Espírito Santo. Eu pouco frequentei escola e, quando garoto, já despontava algo estranho dentro de mim, sabe? Eu lembro até hoje que fiz um samba sem nem saber como era! Morava em Nova Iguaçu e já ouvia falar na Portela", recorda Monarco, um compositor para o qual temas como o amor e a figura de Deus sempre estarão presentes.

"Minha música fala muito em Deus. Quando eu faço minhas orações, canto até um trecho daquele meu samba, 'Dai-Me Força e Coragem', que tenho como se fosse uma oração minha. Quando vou rezar, não vou por outros lugares. Vou diretamente a Ele, e eu sei que Ele me dá inspiração", afirma.

Recentemente, Monarco levou a turma da Velha Guarda da Portela para o quadro 'Ding Dong', do 'Domingão do Faustão'. Ali, o veterano sambista mostrou dois clássicos turbinados por trilhas de novelas, 'Tudo Menos Amor', gravado por Martinho da Vila nos anos 1970 (entrou em 'Dona Xepa', de 1977) e 'Coração em Desalinho' (que regravada por Maria Rita, foi abertura de 'Insensato Coração, de 2011).

"Fiquei muito feliz de ele me dar aquele espaço, junto com a Velha Guarda. Esse reconhecimento vem antes tarde do que nunca. Não fui a ninguém pedir convite, e me chamaram. É como dizia Nelson Cavaquinho: 'Quem quiser fazer por mim, que faça agora'. Estão me dando as flores em vida. Não adianta esperar alguém partir e depois colocar as flores na sepultura", conta Monarco, um sujeito que não bebe, não fuma e não faz "farra". "Às 21h, eu tô na cama!", conta.

DISCO NOVO

No repertório do novo disco, sambas como 'Vem Meu Grande Amor', 'Agora É Tarde', 'Hora da Partida', 'Vieste, Beijaste, Fugiste' e até um pot-pourri com 'Não Te Perdoei, Nem Vou Perdoar' (com Alcino Correa), 'Meu Relógio Parou' (com Ivo) e 'Vai Vadiar' (também com Alcino, imortalizada por Zeca Pagodinho). Boa parte delas aponta para o lado mais dolorido das paixões, que Monarco nunca deixou de fora de suas músicas.

"O amor está sempre nas minhas músicas porque ele está sempre aí. Às vezes existem as separações. Eu enalteço um amor quando chega e falo do amor que vai embora", diz Monarco, dedicado a falar de desilusões amorosas em músicas conhecidas como a já citada 'Tudo Menos Amor', que marcou sua carreira. E iniciou a descoberta de seu repertório por sambistas de sucesso.

"Martinho gravou e de repente todo mundo começou a me gravar", conta Monarco, que em 1970 trabalhava como guardador de carros no estacionamento do 'Jornal do Brasil'. "Eu conversava muito com Sandro Moreyra, Oldemário Touguinhó, Juarez Barroso, Carlos Lemos, jornalistas da casa. Juarez me animava: 'Calma, Monarco, vai chegar tua hora. Você tem um baú recheado de pérolas!' Até hoje eu faço e vou guardando no baú, sem forçar nada", conta o sambista, até hoje assustado com o que consegue fazer ao compor.

"Tem palavra que eu coloco no samba que eu nem sei direito o significado. E as pessoas falam: 'Não mexe nisso aí, não, está certo!'", diz, rindo.

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