O ator Alexandre Gomes no monólogo 'Ricardo III Um Homem do Seu Tempo' - Divulgação
O ator Alexandre Gomes no monólogo 'Ricardo III Um Homem do Seu Tempo'Divulgação
Por Gabriel Sobreira

Uma obra do dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616) ganhou uma versão periférica encenada desde ontem no Terreiro Contemporâneo, no Centro do Rio, com entrada mediante contribuição voluntária. O monólogo 'Ricardo III - Um Homem do Seu Tempo' conta a história de Ricardo III, que foi rei da Inglaterra entre os anos de 1483 a 1485. A trajetória dele é marcada pela ambição, corrupção, sede de poder, alianças políticas e parcerias. Tudo com intuito de se tornar rei da Inglaterra.

"Shakespeare era periférico. A elite o coloca em um lugar que não é real. Suas obras eram populares para aquela época e ao trazê-la para os dias atuais devemos manter sua essência popularesca, tornando-a acessível a todas as pessoas. Isso também é uma política de afirmação territorial, na qual montar um Shakespeare periférico é dizer que nós, periféricos, precisamos de acesso a outros espaços", afirma o ator Alexandre Gomes, que é dirigido por Wellington Fagner.

Para Gomes, Shakespeare tinha uma relação direta com a periferia da Inglaterra. Era o terceiro filho de uma família grande e filho de funcionários públicos, que na época tinham um salário baixo.

"Dizer que Shakespeare era periférico pode soar como sacrilégio aos ouvidos de muitos nos dias de hoje, mas acontece que a linguagem usada para escrever, na época, era acessível às camadas populares, suas encenações não eram de difíceis compreensão", explica o ator, que vai além. "Os textos escritos em verso, contendo pentâmetro e iâmbico, podem parecer de difícil entendimento nos dias de hoje, mas era tão popular como o cordel atualmente, ou o rap feito nos guetos e comunidades", acrescenta.

REJEITADO

O intérprete conta ainda que Ricardo era o irmão caçula de três, em uma linha de sucessão, que pela lógica, nunca chegaria ao trono. Além de ser rejeitado desde o ventre pela mãe, tinha o braço mirrado e uma grave escoliose. "Shakespeare ao escrever sua trajetória acentua sua deformidade, como símbolo da sua falta de caráter", destaca.

"Montar Ricardo III nos dias atuais, com uma linguagem periférica, é repensar as disputas de poder, as alianças políticas e a corrupção tão presente em nossos dias. Shakespeare é muito atual, a história parece que se repete, o espírito ganancioso e sedento de poder parece que vive entre nós nos dias atuais", defende Alexandre.

SERVIÇO

O monólogo 'Ricardo III - Um Homem do Seu Tempo' fica em cartaz até o dia 19 de janeiro no Terreiro Contemporâneo (Rua Carlos de Carvalho 53, Centro do Rio). O espetáculo é encenado sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 19h. E a entrada é mediante contribuição voluntária.

 

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