Rio - Desde 'O Último Homem', de Mary Shelley (criadora de Frankenstein), publicado em 1826, à atual série 'Years and Years', com Emma Thompson, passando pelo filme 'Contágio' (2011), dirigido por Steven Soderbergh, os vírus letais invadiram a ficção científica muito antes da covid-19 se espalhar pelo mundo.
Especialistas no tema e autores do livro 'La Science Fait Son Cinéma', Roland Lehoucq e Jean-Sébastien Steyer explicam que os vírus são tão atraentes em livros e filmes por causa de sua transmissão rápida e consequências devastadoras. "Nos aterrorizam e nos lembram sem cessar que o homo sapiens é antes de tudo um homo vulnerabilis", dizem.
A imaginação dos autores não têm limites. Os cenários podem ser um mundo zumbi, como em 'Guerra Mundial Z', de Marc Forster. "Normalmente, na ficção científica, a pandemia elimina a humanidade, mas não o resto do planeta, o que reflete uma ideia antiga: o ser humano é uma espécie como qualquer outra que desaparecerá a qualquer momento", diz Natacha Vas-Deyres, professora de Letras na Universidade de Bordeaux-Montaigne, na França.
A ficção científica também se baseia na ciência. Em seu livro 'Koors', o escritor Deon Meyer contou com os conselhos dos acadêmicos Wolfgang Preiser e Richard Tedder para explicar como um coronavírus mata 95% da população mundial.
Já para escrever 'Contágio', o roteirista Scott Z. Burns disse que trabalhou ao lado de Ian Lipkin, da Universidade de Columbia, e com o epidemiologista Larry Brilliant. O filme aborda a proliferação de um vírus letal, transmissível pelo ar, que mata em poucos dias. E o contágio começa a partir da viagem de uma americana a Hong Kong.
"Existe todo um conjunto de cenários produzidos pela ficção científica que há muito nos alertam para as possíveis causas do desaparecimento da humanidade e de nossa civilização industrial", explica Natacha Vas-Deyres.