Capa do álbum 'O Baile das Andorinhas', de Leticia Persiles - Divulgação
Capa do álbum 'O Baile das Andorinhas', de Leticia PersilesDivulgação
Por O Dia

Rio - Em meados dos anos 1930, andava pelo sertão nordestino a cangaceira Maria Gomes de Oliveira, que teve o nome de Maria Bonita popularizado após sua morte, em 1938, com 27 anos. Agora, em 2020, a atriz e cantora Letícia Persiles lança o álbum 'O Baile das Andorinhas', gravado em 2019, no estúdio Pavão Preto, em Itaipava. Letícia apresenta, ao longo de nove faixas, seu olhar artístico sobre a mulher de vida breve e intensa que, segundo a cantora, rompeu com os padrões do cangaço.

"Ela mostrou para outras mulheres que existe um mundo a ser ocupado por elas e que elas devem, sim, exigir sua liberdade de escolha. Não que após Maria as mulheres tenham ganhado autonomia total. Claro que dentro e fora do cangaço as mulheres continuaram sendo oprimidas, abusadas e sofrendo todo tipo de violência dos homens. Mas considero que Maria deu um grande passo por ela mesma e consequentemente também por todas nós", diz.

'Baile das Andorinhas' é o segundo álbum da artistas, que tem no currículo 'As Cartas de Amor e Saudade', lançado em 2013. Para chegar até a obra que fala sobre Maria Bonita e a mulher cangaceira, a carioca Letícia precisou estudar o sertão baiano, a cidade de Poço Fundo, no Sergipe, onde Maria morreu, e até conheceu Dulce, considerada a última cangaceira viva.

Outra ajuda foi do livro 'Maria Bonita', do autor Antônio Amaury Corrêa de Araújo, do qual a cantora adaptou um trecho para a faixa 'Lídia' do disco. A cantora acha difícil escolher o que mais chamou a atenção na trajetória do álbum. Para ela, são fascinantes "a riqueza de características das personagens; as histórias impressionantes de cada uma daquelas mulheres; o quase realismo fantástico daqueles acontecimentos; o caráter de revolta popular".

Leticia Persiles lança álbum inspirado em Maria Bonita - Divulgação/Fabio Audi

Como o álbum é independente, Letícia afirma que criou as músicas e arte do disco sem a pressão de prazos. A facilidade com o tempo ajudou na pesquisa e nas percepções dela, que primeiro entendeu os cangaceiros como um grupo de refugiados e depois mergulhou nas mulheres. A compositora revela qual é, para si, a importância de contar essa história.

"É preciso reescrever muitos capítulos da nossa história para que tenhamos mais mulheres reconhecidas por seus feitos e assim reafirmarmos a importância da luta feminista hoje e da quebra da hegemonia masculina. Além de que entender a complexidade e sofisticação do Movimento do Cangaço é desconstruir a imagem difundida ainda hoje de que a região Nordeste seria mais atrasada ou culturalmente menos desenvolvida", comenta.

Apesar de ter lançado o álbum da forma que idealizou, Letícia pontua algumas frustrações do período de isolamento social. Não poder se apresentar e não ter contato direto com o público são fatores novos a partir da pandemia. Mas, para ela, o artista independente sofria antes mesmo da crise sanitária.

"Deve-se lembrar que, antes da pandemia do coronavírus, já estávamos enfrentando uma pandemia de um outro tipo de vírus, o vírus das ideias anticiência, antieducação e antimanifestações artísticas. Para esse vírus ainda não há notícia de algum tipo de vacina", diz.

 

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