MC Fioti grava clipe no Instituto Butantan - Divulgação / Instituto Butantan
MC Fioti grava clipe no Instituto ButantanDivulgação / Instituto Butantan
Por LUANA BENEDITO
Rio - Quando Leandro Aparecido Ferreira, mais conhecido como MC Fioti, usou a flauta de Sebastian Bach, compositor de música clássica, para a produção de 'Bum Bum Tam Tam', ele não podia imaginar as proporções que a música tomaria. O funk quebrou recordes — com o paulista sendo o primeiro brasileiro a atingir a marca do bilhão de visualizações no Youtube — e recentemente, a canção se transformou no hino da esperança ao ser associada à vacina contra a covid-19, produzida pelo Instituto Butantan.

Às 12h deste sábado, o paulista lança a nova versão do hit, o 'Remix Vacina Butantan' no canal do produtor Kondzilla: https://www.youtube.com/KondZilla. Aos 26 anos, MC Fioti se diz surpreso com a repercussão, e grato por fazer parte deste momento histórico. "Desde o começo está tudo sendo bem gratificante, só tenho a agradecer a Deus, por estar fazendo parte dessa fase tão importante da nossa população. E a sensação é inexplicável, eu estou muito feliz", conta.


O funkeiro nunca tinha associado o nome da música ao instituto de pesquisa, mas depois de 'Bum Bum Tam Tam' viralizar com o anúncio da vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Butantan, ele decidiu fazer uma homenagem aos cientistas.

"Na hora, eu fiquei surpreso, fiquei me perguntando: 'Por que eu? O que está acontecendo?'. Mas comecei a me aprofundar, vi que estava acontecendo tudo aquilo e foi quando nós decidimos fazer a versão em homenagem", revela o cantor.


Publicidade
E com Fioti não há espaço para o negacionismo, ele garante que vai conscientizar seu público sobre a importância de se imunizar. "Na música, eu deixo bem específico, uma parte que falo assim: 'Autenticamente falando, se vacina aí, pô'. Ali já passo a mensagem que a salvação para nossa população é a vacinação." 
A descoberta da flauta de Bach e Dr. Dre como inspiração

MC Fioti foi citado na prova de linguagens na primeira fase do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no domingo (17). A questão abordava como o funkeiro conheceu Sebastian Bach já que a flauta de 'Partita em Lá Menor' serve de base para 'Bum Bum Tam Tam'.

O cantor diz que seu contato com Bach surgiu a partir do rapper americano Dr. Dre, de quem é muito fã. "Ele revolucionou o hip hop e até hoje revoluciona. Sou muito inspirado nele, porque ele canta, produz e compõe. Me vejo muito nele, porque sou isso também. Canto, produzo, eu mesmo escrevo minhas letras e eu mesmo gravo", destaca.

Inspirado no ídolo, Fioti começou a pesquisar sobre o trabalho de Dr. Dre e de onde o rapper tirava a base das músicas. "Nessas buscas, eu vi que ele tinha sampleado uma música de Bach", lembra.

Publicidade
 
Curioso, o paulista foi estudar quem era Sebastian Bach. "Porque se o Dr. Dre tinha sampleado Bach, ele devia ser alguém muito importante na música. Eu fui pesquisando até que encontrei a 'Partitura de Lá Menor' [escrita em 1723], que é flauta, que aí que surgiu a ideia de 'Bum Bum Tam Tam' original", recorda. Fioti, então, fez tudo sozinho em uma só noite: compôs, cantou e produziu.
Publicidade
'Ironia do destino', diz Fioti sobre ser tema do Enem

Criado no Capão Redondo, periferia da Zona Sul de São Paulo, MC Fioti não concluiu o ensino médio. Aos 16 anos, ele começou a trabalhar para ajudar a mãe nos custos de casa. "Minha mãe cuidou dos filhos sozinha. Nem meu pai, nem o pai dos meus irmãos, cuidaram da gente, nos abandonaram quando a gente era criança. Então, ela tinha que trabalhar dobrado", conta.
Fioti trabalhou como servente em obras quando ainda era adolescente, depois ele foi ser atendente em uma rede de fast food até o dia que conseguiu pedir demissão para viver da música.

No domingo (17), o jovem foi tema de uma questão do Enem e demonstra estar surpreso até hoje com a repercussão do seu trabalho. "É até irônico isso, porque eu vim da comunidade. Eu cresci na favela, então, são poucas oportunidades. Muitas vezes a gente tem que abraçar aquilo que está na nossa frente."

"Pra mim estar no Enem é algo tão surreal, tão importante e gratificante, que eu não sei nem o que dizer. Eu acredito que Deus tem uma história já escrita pra mim e no meio dessa história tinha que acontecer isso. Eu fiquei feliz porque querendo ou não, a gente incentiva mais", acrescenta o funkeiro.

E o funkeiro tem noção de que vai estar nos livros de história quando contarem sobre a pandemia da covid-19 no Brasil? "Nem parei pra pensar nisso ainda… Eu fico imaginando minha filha, ela tem um ano e três meses, fico imaginando ela amanhã estudando e vendo que o nome do pai dela estava envolvido. Mas não consigo processar ainda, porque a história ainda está acontecendo."