Agnes Nunes
Agnes NunesThe Nogueira
Por Filipe Pavão*
Rio - Agnes Nunes nasceu no interior da Bahia e cresceu no interior da Paraíba, mas a sua música desconhece barreiras e atravessa fronteiras. Depois de seus covers ultrapassarem milhões de visualizações na internet e fazer parcerias de sucesso com Xamã, Tiago Iorc e Chico Cesar, ela se prepara para lançar seu primeiro álbum solo aos 19 anos. Enquanto o projeto completo não sai, os fãs podem escutar 'Vish', composição que nasceu após uma decepção de amor adolescente e chegou às plataformas de streaming recentemente.
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“É a primeira música desse álbum que tem muitas versões de mim. ‘Vish’ é uma das minhas primeiras versões, na qual estou muito menina porque foi uma das primeiras músicas que fiz. Nasceu de uma desilusão amorosa. Estava bem triste com o término. Afastei a cama, sentei no canto da parede e comecei a escrever”, conta Agnes, que mescla nas canções as suas próprias experiências e a dos outros também.
“Esse relacionamento que baseou ‘Vish’ era um que eu procurava me encaixar muito. Eu fingia ser uma pessoa que não era eu. Tentava falar coisas mais rebuscadas que não estão no meu dicionário. E quando fui escrever a música, eu pensei: ‘vou ser eu, não vou fingir mais ser uma pessoa só para agradar alguém’. E fiz ‘Vish’ da forma mais pura e mais Agnes possível”, continua.
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Agnes compara a produção de um disco ao processo de uma gravidez. Durante a gestação do projeto, ela se recolheu em sua terra natal, a Bahia, para reconectar com suas raízes, o chão e as pessoas. Apesar de não haver data de lançamento ainda, ela revela que está quase no momento do “parto” e conta o que os fãs podem esperar do CD produzido por NeoBeats.
“Escrevi músicas sobre medos meus, alguns que já venci e outros que estou em processo, e também sobre a atual situação que a gente vive, porém de uma forma mais poética. Estamos precisando de uma coisa que abrace o nosso coração e nos acolha. Eu tenho essa necessidade e acho que o mundo também, de se sentir normal, de se identificar com os medos e falar com a outra pessoa que está passando por isso: ‘você não está sozinho, estou junto com você. Aqui está o meu abraço e meu suspiro’”, reflete Agnes.
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Música como superação
A ligação de Agnes com a música vem desde a “barriga de mainha”, mas se intensificou na infância e adolescência como forma de superar o bullying que sofria na escola. Quando tinha 12 anos e morava no interior do sertão da Paraíba, Agnes ia caminhando para escola e, nesse caminho, “escutava as coisas mais terríveis que uma criança negra podia escutar” por sua cor de pele e pelo seu cabelo black.
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“Eu achava que se eu tivesse um celular, eu não seria mais excluída pelas outras crianças. Aí, pedi um celular para minha mãe, mas ela me deu um teclado. E se não fosse esse presente, eu não estaria onde estou hoje. Eu chegava triste da escola, me trancava no quarto e só sabia tocar, toca e tocar até minha tristeza passar. A música foi muito importante para mim e me aproximou ainda mais da arte. Para mim, a arte sempre é a saída de tudo. A arte faz a gente pensar, repensar e dar sentido a algumas coisas”, reflete Agnes.

Inspiração para outras meninas negras
Como a própria se define, Agnes é uma “metamorfose ambulante” que vai da MPB ao R&B e, aos 19 anos, junta uma legião de seguidores. São milhões de seguidores nas redes e reproduções no YouTube. Seus vídeos já foram compartilhados por nomes como Caetano Veloso, Gisele Bündchen e Lázaro Ramos. Apesar da pouca idade e não esperar toda essa repercussão, ela fala sobre a importância de ser inspiração para outras meninas negras.
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“Acima de tudo, eu tenho muita honra por influenciar outras meninas. É uma responsabilidade muito grande. Quanto mais visibilidade eu tiver, mais força eu vou dar para outras meninas e mulheres. Para mim, uma pega na mão da outra e não deixa cair de jeito algum. É por isso que estou aqui. É uma das minhas principais missões fazer com que as mulheres e meninas se enxerguem maravilhosas do jeito que elas são, com a pele que elas têm, com o cabelo que elas têm, porque elas são lindas e maravilhosas de qualquer jeito”, finaliza Agnes.
* Estagiário sob supervisão de Tábata Uchoa