MABBIFelipe Braga

Rio – Você sabia que o Rio de Janeiro possui uma data específica para celebrar o Funk? Desde 2016, uma lei estadual reservou o segundo domingo de setembro ao gênero musical que tem a cara do Rio. De origem popular, o funk rompeu diversos preconceitos e se tornou uma das músicas mais escutadas do país. Nos últimos anos, também vem ganhando projeção internacional graças ao trabalho de nomes como Anitta, Ludmilla e outros.
Cria de Duque de Caxias, DJ Zullu defende que o funk é mais que um ritmo, é uma oportunidade de transformar vidas e levar alegria para as pessoas. Ele começou a fazer funk com MC Roba Cena quando tinha apenas 13 anos. Dos bailes da região, chamou a atenção de famosos como o jogador Neymar e ganhou projeção nacional. Recentemente, lançou parcerias internacionais com artistas dos Estados Unidos, Argentina e Angola.
“O funk é a minha vida e paixão. Graças ao meu trabalho, posso ajudar uma galera mais jovem a também ter a oportunidade de aprender o que eu faço e ajudar a minha família. Quero que o funk transforme a vida de muita gente, especialmente dos jovens pretos e pobres que, muitas vezes, podem achar que não há alternativa além do crime”, pensa ele, que destaca o porquê do ritmo fazer tanto sucesso.
“O funk tem o poder de não deixar ninguém ficar parado. A pessoa pode ser gringa e talvez nem entender o que a música diz, mas elas dançam do mesmo jeito. É a energia, a alegria e os beats que contagiam, é uma música que deixa a gente para cima... Está sendo muito gratificante levar o funk para fora do país, para ainda mais pessoas conhecerem e gostarem”, completa.
E o funk realmente está indo para fora do país. Segundo o Spotify, o ritmo está entre as 200 músicas mais ouvidas em 51 países, com maior número de ouvintes nos Estados Unidos, Portugal e Argentina. Além disso, em julho deste ano, o Grammy Latino anunciou que passou a reconhecer o gênero brasileiro como música urbana, assim, pode ser indicado a mais categorias. A cantora MABBI celebra essas conquistas.
“O nosso funk tem ganhado projeção internacional e espaço. Hoje, nossa cultura pode ser cada vez mais vista. Anitta tem sido uma das grandes inspirações pra mim por ser tão determinada e conseguir trazer o espaço que temos hoje no funk”, acredita a cantora.
Carioca, MABBI começou fazendo covers, mas, agora, foca nos seus próprios lançamentos, aproveitando para falar sobre empoderamento feminino a partir do funk. “A minha arte foi a forma que encontrei de me expressar e defender todas as causas que eu acredito. Passei a minha vida inteira buscando o meu sonho de trabalhar com música e, agora, quero agarrar as oportunidades com toda dedicação e carinho que tem dentro de mim”, completa ela, que lançou “Bateu” no início deste mês, com direito a videoclipe gravado em Barra de Guaratiba, no Rio.
Versatilidade
O Rio e o Brasil abrangem muitos ritmos musicais e o funk aproveita disso para ampliar seus horizontes. Cria da Ilha do Governador, Zona Norte do Rio, o cantor PK cresceu ouvindo rap e funk. Começou a carreira nas batalhas de rima e, hoje, mistura os dois ritmos nas suas músicas, que são ouvidas por mais de três milhões de ouvintes mensais no Spotify.
“Sempre gostei de ouvir de tudo, a Ilha tem forte identificação com o samba tendo uma das escolas mais tradicionais, a União da Ilha, e nomes renomados dos primórdios do funk, como MC Cacau. O rap e o funk são os que mais têm rimas presentes e eu entrei na música a partir das rimas, por isso, sempre foram minha base”, explica ele.
O cantor também celebra as conquistas do funk. “É incrível para um gênero que foi e é tão descriminado. Um gênero que veio das comunidades conquistar esse espaço, mostra que merecemos ser respeitados e receber nosso devido valor”, diz PK, que lançou "Mundo Dá Voltas" com MC Pedrinho e DJ 900 recentemente.
Brasil e mundo afora
Apesar de ter conquistado primeiro os cariocas, o funk se expandiu pelo país. O paulista MC Zaac, por exemplo, começou a fazer som para a sua própria comunidade e explodiu com o hit “Bumbum Granada”, parceria com Jerry Smith, em 2016. “De ‘Bumbum Granada’ até hoje, com meu primeiro EP lançado, confesso que o funk mudou muito a minha vida, pois hoje eu vivo da música e é gratificante ver tanta gente feliz ouvindo meu som”, diz ele.
Zaac também é responsável por levar o ritmo a outros países. Músicas como “Vai Malandra”, em parceria com Anitta, e “Vai Embrazando” se posicionaram entre as mais ouvidas do Spotify em vários lugares ao redor do mundo. “É uma honra imensa poder levar a música para o mundo tanto com as minhas canções solo, quanto com os feats que fiz com gente incrível, como Anitta e J Balvin. Ver que nossa música está sendo apreciada em outros países é um termômetro de que o público está curtindo o que eu faço”, completa ao artista.