Susana Vieira em Uma Shirley QualquerDaniel Chiacos

Rio - Em um dia de ensaio, o teatro vazio é facilmente preenchido por sua gargalhada contagiante. Enquanto desce as escadas, Susana Vieira se adianta e logo pergunta: “Alguém viu o meu álcool gel?”. A preocupação com a pandemia está estampada, literalmente, na cara da atriz. Com duas máscaras no rosto, Susana abusa do higienizante para limpar sua cadeira, se senta a uma distância segura da equipe e começa a contar sobre seu novo projeto: a peça ‘Uma Shirley Qualquer’, que estreia nesta sexta-feira, em curtíssima temporada, no Teatro XP Investimentos, no Jockey Club. 
“Fazer essa peça foi uma volta à vida, na verdade. Estou considerando como se fosse uma volta à vida. Porque apesar de a gente ter continuado respirando, eu me senti muito isolada, muito sem função na vida. A função da vida é você trabalhar, ter uma família, passear, amar. Isso é que é a vida, viver é isso. E, de repente, tudo foi cortado”, lamenta a atriz, que revela ainda que sentiu medo de nunca mais poder voltar a atuar.

“Eu estava numa pasmaceira e num desgosto da vida, porque eu achava que nunca mais ia trabalhar. Essa doença é mortal e a doença nas pessoas de mais idade ou com comorbidades é muito mais mortal. Eu fiquei com muito medo de morrer e a minha perspectiva de vida era muito a curto prazo e só de tristeza. Eu não via nada alegre. O fato de não trabalhar na sua função traz angústia, tristeza, solidão”, reforça Susana que, agora aos 79 anos, já recebeu as duas doses da vacina mais a dose de reforço.

Tudo em cima
Mas de volta à rotina, mesmo que com cuidados, Susana faz questão de ostentar a personalidade pela qual ficou conhecida. Mesmo com o sorriso escondido pela máscara, a atriz impõe o alto astral ao falar de si mesma e de sua relação com o envelhecimento.

“Eu nunca pensei em envelhecer. Hoje, eu só estou alegre, feliz e bonita porque eu nunca pensei em envelhecer. Se você quiser saber da pior coisa que me chamaram no Instagram, é ‘velha’. Ninguém me chama de puta ou ladra. O único xingamento que eles acham a meu respeito é ser velha. Para você ver a cabeça das pessoas, onde a velhice é um xingamento. Mas eu me sinto linda, tô melhor do que muita gente com 70 anos. E eu não quero me manter jovem, quero me manter saudável. Eu sou jovem por essência. Eu sou engraçada e inteligente, desculpa a falta de modéstia, mas é isso. Acho que a vida com graça é muito melhor e isso é um estímulo para as pessoas”, declara Susana, que adianta: “Ah, eu não suporto gente chata, que está sempre reclamando e que só vê o lado ruim das coisas. Eu mando calar a boca ou saio de perto”, completa.

Mesmo assim, a atriz confessa já ter feito alguns procedimentos estéticos. “Quando eu fiz 50 anos, fiz uma plástica no Dr Ivo Pitanguy, que era o melhor do mundo. Ele fez um peeling em mim, no rosto, fiz o peito e fiz uma na barriga, que é aquela [cirurgia] que levanta e guarda tudo. Nunca mais ninguém encostou na minha cara. Mas o Dr Pitanguy era tão bom que com 50 anos você faz uma plástica e ela dura até hoje. Só que custou uma fortuna!”, brinca Susana.

Próximos passos

Com a peça em cartaz só até o dia 31, Susana faz uma ‘forcinha’ para prolongar a temporada. “Essa peça eu adoro, é uma peça que o Miguel (Falabella) traduziu e transformou na mulher brasileira. É uma peça que tem altos e baixos, que fala de uma mulher comum que vive um casamento de 25 anos que não tá dando certo. A plateia se identifica muito e eu tô doida para eles me convidarem para continuar nesse teatro mais um mês. Vou até fazer uma oração. Eu não tô fazendo nada na televisão e eu tô dando conta da peça, gente. Eu tô dando conta e tô bem de saúde”, defende Susana.

Mesmo assim, a atriz já tem planos para o ano que vem. “Tem o meu livro pra sair, em fevereiro. Está quase pronto, mas eu parei quando começou a pandemia. Agora tenho que contar esse um ano e meio, porque ninguém pode passar com essa parte em branco. E também preciso falar do quanto eu me redimi com essa peça. Se eu terminasse o ano sem fazer a ‘Shirley’ ou um outro trabalho, eu não sei como seria. Termino o ano redimida. É um cenário simples, duas cadeirinhas e o meu talento”.
Serviço
'Uma Shirley Qualquer' - de 01 a 31 de outubro
Teatro XP Investimentos (Jockey Club Brasileiro - Av Bartolomeu Mitre, 1110 - Leblon)
Sextas e sábados, às 21h, e domingo, às 19h
Ingressos: R$ 100,00 (inteira) / R$ 50,00 (meia)
Classificação: 12 anos