O grupo Fundo de Quintal é formado, atualmente, por Bira Presidente, Sereno, Ademir Batera, Marcio Alexandre e Junior ItaguaíDivulgação

Rio - Conhecido como um dos grupos de samba mais tradicionais do Brasil, o Fundo de Quintal celebra, neste ano, a chegada dos 45 anos de carreira. Atualmente formado por Bira Presidente, Sereno, Ademir Batera, Marcio Alexandre e Júnior Itaguaí, o quinteto se reuniu, no último dia 21, no palco do Parque Madureira, Zona Norte do Rio, para a gravação de um DVD em comemoração pelo marco especial.
Na liderança do grupo desde sua fundação, em 1976, o vocalista e pandeirista Ubirajara, mais conhecido como Bira Presidente, revelou o segredo para manter o grupo em atividade por quase cinco décadas: "É não fugir de assimilar aqueles grandes nomes de outrora que cantavam samba autêntico, samba de raiz", afirmou ele, que destaca mestres do gênero musical como Donga, Pixinguinha, Honório Guarda e Gastão Viana.
Em entrevista ao DIA, Bira ainda relembrou a trajetória do Fundo de Quintal, que nasceu de dentro do famoso bloco carnavalesco Cacique de Ramos, também criação do músico. "Eu procurei criar esse bloco não só como uma descontração, mas assimilar tudo que os grandes compositores faziam", contou o artista de 84 anos, que conheceu alguns dos representantes do gênero através de encontros organizados por seu pai, Domingos Félix do Nascimento.
Após tantos anos de estrada, o líder do grupo musical, que também é conhecido como uma das referências no pagode, não enxerga o fim do quinteto em um futuro próximo: "O show tem que continuar, como diz uma das nossas música. [...] Criamos tantos talentos que, hoje em dia, fazem carreira solo, mas o grupo tá presente", destaca o cantor. Entre os artistas que já passaram pelo Fundo de Quintal, vale citar nomes como Arlindo Cruz, Jorge Aragão e Almir Guineto.
Mudanças na formação
Em 45 anos de atividade, o grupo precisou alterar sua formação algumas vezes, inclusive após a perda de membros como Neoci, no ano de 1981, Mario Sergio, em 2016, e Ubirany, irmão de Bira Presidente e um dos fundadores do Cacique de Ramos e do Fundo de Quintal. Reconhecido como o responsável por introduzir o repique de mão nas rodas de samba, o músico faleceu no dia 11 de dezembro de 2020, por complicações da covid-19.
"Eu tenho o Fundo de Quintal como uma engrenagem: quando 'calha' de quebrar um dente, a gente procura colocar outro que venha fazer o mesmo sentido do primeiro. Essa é nossa a nossa ideologia", comenta Sereno, que também faz parte do quinteto desde sua formação original e inovou na cultura do samba com a invenção do tantã.
Gravação de DVD e retomada de shows presenciais
Um dos integrantes mais novos é Marcio Alexandre, que se juntou ao grupo em abril de 2016, após o falecimento de Mario Sergio, para tocar cavaquinho. O músico destacou a gratidão que sentiu ao subir no palco para a gravação do DVD em comemoração pelos 45 anos do grupo: "Por cada pessoa que passou pela história do Fundo de Quintal, por cada pessoa que vai no show, que comprava os discos, que, hoje, entram nas plataformas digitais e vão lá ouvir o som do Fundo de Quintal, curtir a nossa música, né?"
Outro membro mais recente é Júnior Itaguaí, que substituiu Ronaldinho, em 2017, no banjo. O artista comemora a retomada dos shows presenciais e comparou a experiência com o período em que o Fundo de Quintal se apresentou apenas em lives na internet: "A grande diferença é que o presencial, com a plateia na sua frente, [tem] aquela interação. Uma troca de energia é muito mais prazerosa com certeza, não tenho dúvidas."
Tocando bateria com o Fundo de Quintal desde 1991, Ademir Batera conta que o grupo se agarrou à fé para enfrentar a pandemia do coronavírus. "Foi complicado, passamos por um momento de perdas né, mas sempre acreditando em Deus. [....] Então, a gente tem que sempre agradecer por tudo e 'vambora'", declarou o músico.
*Estagiário sob supervisão de Juliana Pimenta.