Letticia Munniz, body activist e modelo plus sizeCatarino

Rio - Ativista do movimento "body positive" — corpo positivo em tradução literal — e modelo plus size, Letticia Muniz, de 33 anos, tem se destacado ao participar da apresentação do programa "Domingão com Huck", da TV Globo. Em entrevista ao DIA, ela falou sobre os principais desafios de sua jornada no âmbito do entretenimento e admitiu que a falta de representatividade de corpos gordos na mídia a faziam crer que seu sonho era impossível de ser realizado.
Natural do Espírito Santo, foi na cidade de São Paulo que Letticia, aos 20 anos, deu o pontapé inicial na conquista de seus objetivos, quando começou os estudos nas áreas de rádio e televisão. Entretanto, apesar de ter concluído sua formação como comunicadora, a modelo ainda sentia-se insegura para atuar como apresentadora por conta de um problema intrínseco na sociedade: a gordofobia.
"Comecei a ter problemas com o meu corpo e com a minha imagem muito cedo. Não só porque era vendido pra gente (nas revistas adolescentes e em todo lugar) que isso [ter um corpo gordo] era um problema, mas também porque eu queria trabalhar na TV. Sabia que se não tivesse aquela imagem padronizada que as mulheres da TV e das revistas tinham, não conseguiria", relembrou.
"Passei 18 anos da minha vida de muito sofrimento, transtornos alimentares e compulsão alimentar. Não foi fácil. Até que um dia, quando eu já tinha uns 27 anos, achei no Instagram uma mulher que era muito parecida comigo. Uma modelo norte-americana maravilhosa chamada Ashley Graham e achei que nossos corpos eram parecidos. Desde aquele dia, minha vida mudou porque parei de achar bonito e de me inspirar só em mulheres magras e musas fitness. Entendi que o meu corpo era bonito e que eu também poderia ser", contou Letticia.
Após ter recuperado sua autoestima, a apresentadora passou a enfrentar um segundo desafio: conquistar seu espaço na indústria da moda. Segundo ela, este é um dos nichos que dificilmente dão oportunidades para pessoas fora dos padrões impostos pela sociedade, o que dificultou sua busca por trabalho.
"Em um desfile com 50 modelos, por exemplo, com certeza apenas duas ou três são gordas, no máximo", afirmou Letticia, que também aproveitou para exemplificar como corpos gordos são tratados em produções audiovisuais. "Em uma novela, se tiver uma atriz gorda, ela fará o papel de gorda. Ela nunca é a principal. Ela nunca é um par romântico. Se ela tiver uma história de romance na novela, é como se fosse uma história de superação. Tipo, olha, ela é gorda, mas ela consegue ser amada, ela também consegue ser feliz… O maior desafio é fazer as pessoas olharem pro nosso talento, não só pro nosso corpo, trazendo mais igualdade para os mais diversos meios", ponderou.
Inspiração para uma nova geração de jovens que pretendem enveredar pelo meio midiático, a apresentadora ainda deu alguns conselhos sobre como conquistar a simpatia do público. "É preciso estar antenado, saber quais são os assuntos do momento, mas não seguir trends apenas pelo engajamento, mas sim, para tocar as pessoas. Quanto mais sentimento se coloca, mais aquilo reverbera", indicou Letticia.
De acordo com a modelo, trabalhar com representatividade é, além de uma grande paixão, a oportunidade perfeita para auxiliar que outras pessoas deixem de demonizar a própria aparência. "Quando eu saio em uma capa de revista, quero que todas as mulheres possam entender que é completamente normal serem elas mesmas. O corpo delas não tem absolutamente nada de errado. Podemos todas ocupar o espaço que a gente quiser e ser quem a gente quiser. Não é nosso corpo que vai nos impedir", declarou.
"Meu objetivo com certeza é ser uma referência para os outros, inclusive crianças. É importante as pessoas, principalmente as mais novas, entenderem que existem corpos plurais e diferentes. Não existe um corpo padrão, isso é irreal, né? É um grande absurdo que tentem nos colocar dentro de uma mesma forma sendo que temos todos vivências e histórias diferentes. Independente de qualquer coisa, podemos realizar nossos sonhos e devemos lutar pelas nossas paixões", concluiu Letticia.
Reportagem das estagiárias Esther Almeida e Rebecca Henze sob supervisão de Tábata Uchoa