Martinho da Vila Leo Aversa / Divulgação

Rio - Martinho da Vila está com novo projeto na área. Em "Violões e Cavaquinhos", o sambista vai mais longe ao defender sua fé na vida e no que virá. O compositor apresenta novas músicas e revisita clássicos, acompanhado de instrumental enxuto e com participações do rapper L7nnon e das cantoras Preta Gil, Alegria Ferreira e Mart'nália. Em entrevista ao DIA, o cantor deu detalhes sobre seu trabalho, falou sobre os convidados especiais e explicou a relação com os filhos que estão presentes no disco.

Aos 86 anos, o sambista revela que o álbum é um plano antigo. "Agora a Sony Music me pediu o disco, lembrei dessa ideia e desenvolvi". Ao ser questionado sobre de onde sai a disposição para continuar fazendo música, ele brinca: "Tem que fazer, né? Barco parado não faz viagem", disse, aos risos.

O álbum reúne 12 faixas, sendo quatro inéditas. Martinho diz não ter uma preferida, mas confessa que algumas estão no seu coração. "Eu gosto do disco. Tem algumas faixas que eu gosto de maneira um pouco especial, como 'Mulheres', que foi gravada só com cavaquinho. E 'Gbala, Viagem ao Templo da Criação', que é um samba-enredo e foi gravado no violão".

Parcerias

O cantor reuniu em sua nova produção algumas participações especiais de artistas de diferentes gerações e estilos musicais variados. "Foi interessante. Eu e a Preta Gil, minha camarada, regravamos 'Disritmia / Ex-amor', que já cantei muito e pensei em fazer algo diferente. Eu quis chamar a Preta, e ela ficou feliz com o convite, foi lá e gravou maravilhosamente. Ela canta muito", elogia.

"O L7 eu não conhecia. Surgiu a ideia de chamar alguém com quem eu não havia feito nada e sugeriram ele. Só tinha ouvido falar, depois fui ver algumas coisas e gostei muito. Chamei e ele ficou todo feliz. L7nnon é um cara ótimo e bonito. Regravamos 'Canta, Canta Minha Gente' e pedi para ele fazer uma paradinha diferente e ele mandou ver", contou.
O cantor não deixou a família de fora. Além de Alegria e Mart'nália, que gravaram música com o pai, a família Ferreira tem outros representantes em "Violões e Cavaquinhos". Analimar, filha de Martinho, assina a direção de coro. Já Martinho Filho é um dos produtores do disco.

"Eu gosto de trabalhar com eles, ter por perto. Eu sempre fui contra os pais que querem que os filhos os sigam e os coloquem para fazer o mesmo trabalho. Sempre disse que eles não tinham que fazer isso. Eu falei, mas eu me enquadro nisso, porque desde cedo coloquei eles para fazer coro comigo, depois foram participando. São todos muito talentosos", comentou.
Vida eternizada

Recentemente, o músico lançou uma biografia. Ele revela como é ter a vida eternizada em um livro. "Fiz a biografia no período da pandemia. Eu já tenho algumas escritas por outros escritores, mas tem coisas que eles não colocaram porque eu não falei, já que na época não me ocorria. Então, resolvi fazer mais completa. E, para ficar diferente, fiz como se estivesse conversando comigo mesmo, misturando ficção e realidade".

Martinho diz que pretende descansar agora, mas não descarta um novo projeto no futuro. "Eu sempre não quero fazer mais. A gente fica fazendo muito e acaba se repetindo, novas ideias não surgem toda hora. Só que quando surgem, eu caio dentro".

O artista conta que ainda tem muitos shows para fazer, mas já pensou em diminuir a quantidade. "É outra coisa que eu pensei, em dar um tempo, fazer menos... Nunca fui de fazer muito show corrido, mas quis diminuir mais ainda essa margem. Tem um músico que falou assim para mim: 'A gente ganha não é para fazer show não, é para viajar. O show mesmo a gente pode dizer que atrapalha'", diz Martinho, aos risos. "Mas, às vezes, eu vou [fazer shows]. Estou cheio de propostas e estou pensando".

Com mais de 50 anos de carreira e grande referência do samba, Martinho aconselha os jovens músicos. "A primeira coisa que eles têm que fazer é estudar. Tem que estudar o que faz, procurar se conhecer. Precisa conhecer sua garganta, suas possibilidades, até onde pode ir e as notas que pode alcançar."
 
*Reportagem da estagiária Letícia Montrezor, sob supervisão de Nara Boechat