Espetáculo 'Os Bruzundangas' em cartaz no CCBB Rio Sabrina Pivato da Paz

Rio - Está em cartaz, no CCBB RIo, o espetáculo "Os Bruzundangas". A peça é uma comédia satírica musical, em que quatro atores cantam, dançam e interpretam suas aventuras no país da Bruzundanga, através da ironia tipicamente carioca. A atração pode ser vista até o próximo domingo (19).
A peça se inspira no teatro de revista e trata-se de uma adaptação da literatura de Lima Barreto para o teatro, embalados por músicas originais, inspiradas em melodias tipicamente brasileiras, como o samba, o chorinho e o sertanejo. Em entrevista ao Dia, o ator e diretor Renato Carrera deu detalhes sobre o espetáculo e falou sobre os desafios dessa adaptação para os palcos.

A ideia de fazer a peça "Os Bruzundangas", parte de uma vontade de Renato de dar uma continuidade ao trabalho de literatura no teatro. "Eu já tinha dirigido um espetáculo chamado 'Dorso', fiz também 'O Balcão' e antes da pandemia 'Malala, A Menina Que Queria Ir para a Escola'. Então, eu queria dar continuidade a essa questão, de trabalhar com esse tipo de dramaturgia que sai de um livro, mas queria falar agora de uma dramaturgia clássica e brasileira. E aí eu cheguei até o Lima Barreto. Também queria trazer para os palcos um autor preto e que falasse de forma mais diferenciada, que falasse de suas questões".

"Cheguei ao Lima Barreto, mas também havia junto uma vontade de fazer humor, fazer uma comédia. E aí, eu, numa livraria, lendo a parte da estante da livraria, com os livros do Lima Barreto, os Bruzundangas meio que saltou para a minha mão. Então, a partir daí, eu já me debrucei sobre os Bruzundangas e falei, é isso, encontrei. Então, convidei o Bruno Mariozz e a Palavra Z Produções Culturais para produzir e já estava combinando com o Dani Ornellas, para a gente já fundar, oficializar uma companhia, já que a gente já tinha essa vontade, já estava trabalhando há mais de dez anos juntos em vários projetos, o Brasileiro, ela, o Hugo Germano, o Jean Marcel Gatti. Foi aí que surgiu a ideia de a gente fazer 'Os Bruzundangas'".

O diretor relatou que foi difícil fazer a adaptação do livro para o teatro. "O livro é uma seleção de crônicas dele, então não tinha um potencial dramatúrgico, o potencial era de crônicas mesmo. Por isso, a gente resolveu fazer um processo em que a adaptação viria dos ensaios, dos encontros. Nós começamos a nos encontrar em setembro do ano passado e a gente resolveu ler o livro inteiro em conjunto, em voz alta. Líamos duas vezes por semana e ficávamos quatro horas lendo semanalmente as crônicas. Isso é uma coisa nova também para a gente e isso foi fundamental para a adaptação, porque a adaptação parte das vozes dos atores, o que cabia mais na voz de um, na de outro, o que funcionava mais, quais eram os assuntos. Íamos lendo e discutindo o que estava sendo dito".

"Quando acabamos de ler, eu fiz uma imersão na dramaturgia e fui escrevendo a partir dessas anotações e leituras que duraram meses. Durante os ensaios, eu e Dani Ornellas como diretores, íamos decupando a cena, vendo o que servia. A dramaturgia foi construída diretamente dos ensaios e a partir dos nossos encontros. Isso foi bem legal também, foi um processo diferente", contou.
De acordo com Carrera, o espetáculo inclui 15 canções, com o todo feito em sala de ensaio. "A música tem um papel fundamental de narrar, também criticar e de atualizar. A gente passa por vários ritmos brasileiros, o forró, o sertanejo, trazendo essa atualidade, esse caminho e essa brasilidade para a peça", disse.
Inovação
A montagem de "Os Bruzundangas" para o teatro é inédita no Brasil e, segundo o diretor, chega aos palcos de forma inovadora. "Trabalhar com o teatro de revista, um musical com dramaturgia brasileira, com músicas brasileiras, com equipe brasileira… Então, acho que isso é inovador, 70% da equipe é preta, estamos mudando essa hegemonia branca. Temos um espetáculo bem específico e único por esse ineditismo da montagem, desta adaptação, e por trazer Lima Barreto aos palcos, aos palcos do CCBB pela primeira vez", finalizou.
Público

Renato espera que o público tenha um conhecimento diferente em relação ao Lima Barreto. "Eu acho que a gente consegue levar ao público uma reflexão através do riso. Alguns teóricos falaram que o teatro educa através da emoção. Então, acho que a partir dessa peça a gente consegue ter uma visão mais crítica sobre o nosso país, para que nas próximas eleições também a gente consiga ter uma posição melhor em relação aos nossos candidatos, em relação ao que a gente pensa e o que a gente quer para melhorar esse país”, refletiu.

Ele ainda explicou como foi a preparação dos atores e falou sobre os desafios enfrentados. "O processo foi intenso e gratificante. Acho que isso você vê no musical, que tem uma coreografia do início ao fim. A peça é marcada, coreografada, e temos o desafio de manter essa estrutura em uma hora e meia".

"O público tem respondido de uma maneira excelente a palavra do Lima, que tem palavras mais rebuscadas, que não usamos no nosso cotidiano. A gente mantém essa palavra, isso também é trazer esse entendimento, essas palavras também cheguem ao público de uma forma natural e com humor, de uma forma próxima, que a gente consiga levar a palavra e a literatura do Lima até o público nos dias de hoje. Estamos conseguindo e tem sido bem feliz", finalizou.
Serviço
Teatro II
Data: até 19 de maio de 2024
Quinta a sábado às 19h | Domingo às 18h
Inteira: R$ 30 | Meia: R$ 15, disponíveis na bilheteria física ou no site do CCBB (bb.com.br/cultura)
Estudantes, maiores de 65 anos e Clientes Ourocard pagam meia entrada
Classificação indicativa | 12 Anos
Duração | 90 min
*Reportagem da estagiária Letícia Montrezor, sob supervisão de Nara Boechat