Por rafael.arantes

Rio - A Caprichosos de Pilares conhece mais do que ninguém o sambista Paulo Renato Lopes Cabral. Foram dez anos, divididos em duas passagens, que mestre Paulo Renato comandou a bateria da Azul e Branca antes de deixar de lado o cenário carnavalesco. Afastado do posto de comandante desde 2004, quando dirigiu os ritmistas da Caprichosos pela última vez, o ex-mestre chegou a marcar presença em desfiles como ritmista e até mesmo destaque, mas acabou decidindo se afastar por questões pessoais. Agora, aos 47 anos, Paulo admite que a paixão pelo samba fala mais alto e o desejo de voltar à Sapucaí já é prioridade em sua vida.

Paulo Renato foi mestre da Caprichososarquivo pessoal

"Não estou mais no Carnaval há alguns anos, mas estou querendo muito voltar a brincar a festa ao invés de trabalhar. Quero viver aquele lado folião. Estou querendo isso. Vou ver se consigo vir em alguma escola tocando na bateria, que é a minha paixão, mas caso não dê, não me incomodarei de vestir uma fantasia e vir curtindo em ala. O que importa é fazer parte do espetáculo novamente", disse Paulo Renato, que também comentou sua trajetória na escola de Pilares.

"Tive duas passagens muito difíceis como mestre da Caprichosos. Primeiro fiquei de 1992 a 1998, mas um desentendimento com o presidente Fernando Leandro acabou fazendo eu me afastar da escola. Depois disso voltei a comandar a bateria em 2002 e fiquei até 2004, nesse caso o presidente era o filho do Fernando, mas acabei tendo que me desligar depois de alguns problemas internos, onde até acusado de muitas coisas injustamente eu acabei sendo. Foi muito complicado, difícil para que eu lidasse, mas continuo torcendo para a escola, sendo um apaixonado pela Caprichosos", disse.

Paulinho e Felipe: Mestre comenta relação com seus 'ídolos'

A trajetória de Paulo Renato no samba começou aos poucos. O sambista começou sendo ritmista e acabou sendo "promovido" ao cargo de diretor pelo então mestre e amigo Paulinho Botelho, na própria Caprichosos, em 1988. A rotina ao lado do veterano fez de Paulo Renato uma grata surpresa. O pupilo de Paulinho evoluiu, mostrou seu potencial e foi o escolhido para substituir o comandante quando se desligou da escola. Todos os passos ao lado do amigo proporcionou a Paulo Renato uma verdadeira transição devido aos aprendizados conquistados.

"Todo o meu contato com o ritmo foi graças ao mestre Paulinho. Eu era ritmista dele até que ele reconheceu meu potencial e me colocou no grupo de diretores. Foi a partir deste momento que eu comecei a crescer ainda mais e acabei sendo convidado para substituí-lo. Devo essa evolução a ele, somos amigos até hoje. Mesmo com um contato mais reduzido, tenho muito carinho por ele", revelou Paulo, que não poupou palavras para exaltar o orgulho de ver seu filho Felipe também figurar o cenário das baterias.

"O Felipe foi se apaixonando naturalmente pelo Carnaval, até porque ele sempre estava comigo. Quando eu comecei ele tinha apenas dois aninhos de idade, mas aos poucos foi crescendo e se ligando a tudo isso. Fico feliz porque ele herdou um dom, é um excelente músico. Hoje o meu papel é literalmente o de pai, o de orientá-lo nesta rotina. Costumo falar sempre que o Carnaval é apaixonante, é bonito, mas não pode ser a única opção da vida. É algo que pode dar certo ou não, mas fico feliz vendo que ele está conseguindo evoluir sempre. Ele me representa, é um orgulho de pai", acrescentou.

Baterias se modificam em busca de notas máximas

Olhando para o cenário atual, o ex-mestre da Caprichosos vê um ponto negativo nas baterias de hoje em dia. Segundo o sambista, grande parte das baterias acabou perdendo um pouco de sua tradição. Marcas registradas como o toque das caixas e até mesmo afinação fazem com que as escolas de samba percam um pouco de sua identidade musical em busca de um modelo padrão.

"Algumas baterias foram crescendo e amadurecendo muito com o tempo, hoje eu vejo a do Salgueiro como uma das melhores do Carnaval, mas de outro lado, sem querer criticar ninguém, vejo que muitas acabaram perdendo sua identidade. Antes nós podíamos estar do outro lado da Avenida Presidente Vargas que saberíamos qual escola estava desfilando pelo toque de sua bateria e hoje em dia isso é raro. A forma de julgamento vem complicando as coisas, as baterias acabam tendo que se enquadrar a um modelo. Isso acaba fazendo alguns diretores a se inspirarem em outros mestres para colocar seu trabalho parecido com outros em busca de grandes notas. O próprio Odilon foi muito imitado como um modelo. Acho que este tem sido o lado negativo", concluiu.

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