Haja fôlego para a maratona de folia que começa agora
Rita Fernandes, presidente da Sebastiana, vive e respira o Carnaval até 15 horas por dia
Por tamyres.matos
Rio - A gente fica exaurido só de ouvir a jornalista Rita Fernandes descrever sua maratona carnavalesca. São 15 horas diárias de trabalho e folia, democraticamente distribuídas entre mais de 20 desfiles de blocos, um baile de carnaval e os dois dias de escolas de samba na Sapucaí. Da Zona Sul à Zona Norte, passando pelo Centro, só dá Rita! A mineira carioca da gema, há uma década à frente da Sebastiana — entidade que congrega 12 dos mais tradicionais blocos carnavalescos do Rio —, tem 51 anos, corpinho de 35, fôlego de 20 e está prestes a ser vovó. Para completar, ela estreia, na próxima quinta, coluna semanal no DIA, que vai se chamar Pelas Ruas. Viva a moça!
“Minhas atividades começam de 15 a 20 dias antes do Carnaval, das 7h às 22 horas. Não abro mão de ir nos 14 desfiles dos blocos da Sebastiana e ainda elejo outros para me divertir”, diz a morena jambo, mostrando felicidade de criança enquanto remexe os longos cabelos castanhos. Rita inaugura a maratona com o Imprensa Que Eu Gamo, que ela ajudou a fundar com outros jornalistas em Laranjeiras e cujo desfile ocorre dois sábados antes das festas de Momo.
No sábado posterior, ela se divide entre dois blocos: o Simpatia é Quase Amor e o Ansiedade. No dia seguinte, lá está a moçoila de novo, com um indefectível arranjo de Carnaval na cabeça, dando o ar de sua graça no Gigantes da Lira e no Suvaco do Cristo, ambos na Zona Sul. Dali, dá uma passadinha no Fogo e Paixão, no Centro, corre para o Escravos da Mauá, na Zona Portuária, e depois se despenca para Madureira. “Não posso deixar de ir ao Timoneiro”, arremata. São nada menos que cinco blocos num único dia. Detalhe: o Carnaval só começa uma semana mais tarde.
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Entre uma puladinha e outra, Rita dá entrevistas e incontáveis telefonemas para resolver pendências de ordem administrativa ou de execução, relativas aos blocos da Sebastiana.
“No Simpatia e no Imprensa, por exemplo, só trabalho. Quando são os blocos da Sebastiana, fico com o olhar mais observador. Mas a minha apoteose do carnaval é no Meu Bem Volto Já, no Leme. Visto a minha baiana azul e sou apenas a foliã. O mundo pode cair, que não saio dali de jeito nenhum”, revela ela, que , em 2014, quer incluir mais blocos das zonas Norte e Portuária no roteiro.
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O combustível da moça é água mineral
Aos 4 anos, na pacata Juiz de Fora, a mineirinha já dava mostras do que seria sua vida adulta. Enquanto seguida a procissão na Sexta-Feira da Paixão, aboletada nos ombros do pai, ela gritava a plenos pulmões: “Viva o Carnaval!”. Como Rita mesma define, o carnaval está no seu DNA.
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Semanas antes das festas, ela e um grupo de amigos vão às compras na Saara, no Centro, onde adquirem grande variedade de artigos para fantasias.
No carnaval desço tudo dos armários. São caixas e mais caixas de arquinhos de cabeça, arranjos, camisetas de blocos, colares. Minha sala vira a Casa Turuna (tradicional loja de fantasias do Rio). Os amigos sempre aparecem para pedir coisas”, conta Rita Fernandes, que já vai para a rua com um kit especial: camisetas dos blocos - sempre customizadas -, porta documento e celular, dinheiro e arranjos de cabeça, que vão sendo trocados de acordo com a cor das fantasias dos blocos.
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A bebida da moça é água. “Tenho que aguentar o rojão, né?”, diz ela. Comer? Apenas um café da manhã reforçado e, no fim da noite, janta com amigos num bar da Zona Sul. “Durante o dia como churrasquinho, queijo coalho e coisas assim. Comida de carnaval. Afinal, sou carioca!”, gaba-se, convincentemente.
Gigantismo indesejado
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O gigantismo dos blocos do Rio de Janeiro, em número de foliões, se deu na década de 90, segundo Rita Fernandes, e foi um dos fatores que motivaram o nascimento da Sebastiana.
“Na década de 2000 os blocos viraram moda na cidade, com muita gente querendo ser dono de um. O boom se deu quando a juventude sacou que não precisava mais ir para Cabo Frio ou Mauá para se divertir e pular Carnaval”, lembra ela.
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De acordo com Rita, o gigantismo dos desfiles nunca foi um desejo ou intenção dos dirigentes dos blocos. “É um fenômeno mesmo. Cada ano mais gente quer isso. Quando se tem uma manifestação que é democrática, na rua, aberta, para o povo, não se tem como fechar uma catraca, uma porta. O gigantismo é uma consequência natural de um desejo que estava aprisionado há muito tempo e que não era só do carioca. Começou com o carioca, mas hoje é o mineiro que vem, o cara de Brasília, é o pessoal do Nordeste, é o japonês... É todo mundo encantado com essa manifestação, essa possibilidade múltipla de diversão”, analisa.
A presidente da Sebastiana concorda que a prefeitura tenha que impor regras. “Impedir que se crie mais blocos em zonas que estão saturadas foi uma decisão acertada. Tem muito bloco legal para se brincar no Rio todo”, afirma Rita Fernandes.