Rio - O Rio de Janeiro, esse cartão-postal que não se enquadra em moldura pré-fabricada por turistas deslumbrados, não passa de uma avenida. Cheia de curvas e reentrâncias, serpenteando da Zona Oeste ao Centro com direito a chocalhos de cobra pelas virilhas da orla mais linda do mundo. Aqui inocente não se cria, mas há quem consiga inchar e falir empreendimentos onde o x do problema está exatamente no X.
Também somos um beco. E o que não falta nessas calçadas são tipos preciosos, para o bem ou para o mal. Como aquele que conheci em um Carnaval que passou, quando a gente trocava beijos e gentilezas nos blocos sem levar safanão de pichadores de estátua e se apaixonava na Avenida, independente do enredo. Foi assim:
— Só a do samba: “Doralice, eu bem que te disse que amar é tolice, é bobagem, é ilusão”.
— Falo sério, meu chapa. Doralice parece mulata do Lan. Todos os dentes na boca, peitinhos de amora, coxas de italiana, balaio grande...
Estava musicalmente inspirado, atropelei novamente:
— Conheci domingo, no desfile da Mangueira.
— Como diria o grande Wilson das Neves, “ô, sorte!”.
— E perdi ontem, no embalo da Mocidade.
Adoro essas histórias, desde menino. Vivia pedindo para minha mãe recontar o drama de um corno amigo que se ajoelhou diante da infiel: “Volta e traz quem tu quiser contigo”. Quis saber como é que foi:
— Como ganhei ou como perdi?
— As duas. O importante é competir, sem tapetão.
O folião não regateou:
— Ganhei de um sambista desatento, que marcou bobeira. E perdi para uma loura de cinema, que prometeu a ela uma vaga de rainha de bateria pro ano que vem.
— E Doralice?