Rio - Era Carnaval de 2004, a Mangueira estava em seu auge, ao lado do renomado Max Lopes. No barracão, três jovens aderecistas em início de carreira viviam a mágica de fazer parte da equipe do grande ‘mago das cores’, como Max é conhecido. Dez anos depois, o carnavalesco encontra novamente aquele trio que tanto o ajudou.
Agora, não mais na condição de simples aderecistas. Os três profissionais cresceram e, neste Carnaval, assinam o desfile da São Clemente, ao lado do grande mestre. Antes da chegada de Max à escola, em setembro, Thiago Martins, João Vitor e Bruno César já haviam preparado tudo sobre o enredo ‘Favela’.
Fizeram pesquisas, criaram protótipos de alegorias e croquis das fantasias. “Já estava tudo mastigado. Os meninos fizeram um ótimo trabalho e mudei pouca coisa”, conta Max, que completa 38 desfiles neste ano.
O trio está na escola há quatro anos, mas o sucesso de agora é tão grande que o presidente da São Clemente, Renato Almeida, decidiu criar o núcleo criativo para batizar os carnavalescos. “A antiga carnavalesca (Bia Lessa) saiu logo após a divulgação do enredo. Foi assustador quando nos vimos sem ninguém, mas conseguimos dar conta do recado”, declara João.
Para este desfile, Max e seu trio querem sair do rótulo de escola crítica e saltar para escola irreverente. “Não vamos falar da criminalidade e nem do lado político da favela. Queremos a exaltação ao morro. O público vai conhecer o lado bom das comunidades”, revela Thiago Martins, o caçula do núcleo, com 28 anos. Para o grupo, o lado bom da favela é a alegria e a música, que terão espaço garantido no quarto e quinto setores.
O carro ‘o som da favela’, vai ter de escultura gigante de ‘periguete’ até a dança do passinho. A escola já fez convite a dezenas de funkeiros, como Mister Catra, mas até agora, somente MC Serginho e Lacraia confirmaram presença. A alegoria ‘churrasquinho na laje’, do quinto setor, promete copiar a realidade das favelas. Vai ter banho na piscina de plástico e dona de casa fazendo feijoada. “Os componentes vão mergulhar de verdade na piscina”, adianta Max.
E para o desfile ficar idêntico a uma comunidade, as pipas não poderiam ficar de fora. Dezenas delas vão voar sobre o carro. As fantasias de todo desfile estão pra lá de engraçadas. Vai ter porta-bandeira vestida de bacia com roupa, bateria caracterizada de funkeiro, com bermudão, boné e fone de ouvido e passista de ‘periguete’, inspirada na personagem Maria Vanúbia, da atriz Roberta Rodrigues, que participou da novela Salve Jorge, da TV Globo. “Elas virão com cabelão loiro, top e shortinho”, conta João Vitor, responsável pelos adereços.
Da origem até as favelas da China e Índia
O desfile começa com a origem da palavra favela, que é o nome de um cacto. No carro abre-alas, muitos cactos vão dividir espaço com a Guerra de Canudos, época em que se criou a denominação para o conjunto de habitações populares. Dois calangos (espécie de lagarto) gigantescos, parecendo reais, vão guiar a alegoria, que mede 80 metros de extensão.
No segundo setor, a escola faz uma homenagem à primeira favela carioca, o Morro da Providência. As alas virão representando várias comunidades como Rocinha, Salgueiro e Vidigal. No próximo carro, haverá uma construção ao vivo de um barraco com tijolo, cimento e carrinho de areia. Outra alegoria mostrará as favelas da Argentina, Índia e Egito. Madre Teresa de Calcultá virá representada neste carro.
O carro do sétimo setor, que falará sobre movimentos sociais, leva uma grande surpresa dos carnavalescos. O suspense em torno da alegoria é tanto que no croqui de desfile montado na sala de criação do barracão, o último carro, está em branco. “É segredo mesmo!”, afirma o carnavalesco.