Por tabata.uchoa

Rio - Desde as primeiras mamadeiras e chuquinhas, seduzido pelas fanfarras do Carnaval, sou Império Serrano, Emilinha Borba e Bafo da Onça. São estas as minhas preferências como súdito leal da corte do Rei Momo. O Bafo da Onça, por exemplo, definiu em larga medida a minha paixão pelo Rio de Janeiro.

O Bafo foi criado dentro de um botequim de quinta categoria (são os melhores), no bairro do Catumbi, em dezembro de 1956. Seu principal fundador, um carpinteiro chamado Sebastião Maria, costumava sair pelas ruas da região fantasiado de onça-pintada.

Seu Tião Carpinteiro tinha o ritual de começar a tomar uns gorós no dia de Santos Reis, no início de janeiro, e só encerrar os trabalhos na quarta-feira de cinzas. Ocorre que o homem bebia tanto, mas tanto, que acabava ficando com um hálito meio pesado, como se fizesse gargarejo com água do Faria Timbó e comesse carniça.

Foi durante um dos porres bíblicos de Sebastião Maria que um grupo de foliões, sob sua liderança, decidiu fundar um bloco. Combinou-se que todo mundo desfilaria de onça pintada. Em homenagem ao hálito consistente do Seu Tião, o nome da agremiação foi escolhido sem polêmicas: Bafo da Onça.

Uma das grandes atrações do Carnaval carioca das antigas era o encontro entre os foliões do Bafo e do Cacique de Ramos. O pau quebrava de forma inapelável; onças e índios se atracavam nas ruas do Centro da cidade e o furdunço não tinha hora pra terminar. Entre mortos e feridos, todos se salvavam e faziam as pazes enchendo a moringa com a água que o passarinho não bebe.

O Bafo da minha infância era, também, sinônimo de muita mulher bonita. O bloco sempre contava com as mulatas do Sargentelli e as gatinhas do show do Bole-Bole, do João Roberto Kelly.
Além do Sargento, do Kellynho e da mulherada, faziam parte do time o compositor Oswaldo Nunes, o puxador de samba Dominguinhos do Estácio e o jornalista Álvaro Costa e Silva. Este último, desde os seis anos de idade conhecido como Marechal, sempre se fantasiava de menino-onça, com bigodes pintados com rolha queimada. Costa e Silva costumava arrumar encrenca com os foliões mais marrentos do Cacique de Ramos, arrancando seus cocares. Em certa ocasião, Marechal colocou para correr, com passos de capoeiragem à Besouro Mangangá, um segurança do próprio Bira Presidente.

Por tudo isso é que mando essas mal traçadas, e abro uma gelada, em louvor aos fundadores do Bafo da Onça. São eles, cariocas que criaram o bloco, heróis civilizadores do Rio de Janeiro e do Brasil. É nessa onda que eu vou, Iaiá!

Foi durante um dos porres bíblicos de Sebastião Maria que um grupo de foliões, sob sua liderança, decidiu fundar um bloco

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