Rio - À frente da Mocidade Independente de Padre Miguel, o contraventor Rogério de Andrade, de 50 anos, marcou presença, com pompa e circunstância, na Sapucaí. Sobrinho do lendário presidente de honra da escola Castor de Andrade, falecido, Rogério quis saborear em boas doses a liberdade na Avenida — em vários meses nos últimos 15 anos, esteve foragido ou preso, acusado de envolvimento em homicídios e com a máfia dos caça-níqueis. Ele gastou pelo menos R$ 500 mil para bancar os custos de quatro camarotes, R$ 65 mil, cada um, o equivalente a R$ 260 mil, além bufê e ornamentação, avaliados em R$ 240 mil. O desenho de um castor era destaque da decoração, inserido no escudo da escola.
Nesta segunda-feira à noite, ele chegou apressado para ver a escola, primeira a desfilar no segundo dia. O intérprete Bruno Ribas, ao microfone, fez questão de agradecer ao patrono antes do desfile. Rogério fumava muito e aparentava tensão a caminho do camarote.
O espaço onde ele ficou foi regado à champanhe da marca francesa Moët & Chandon (uma garrafa custa em média R$ 220), vodca (bebida mais consumida pelo contraventor), quitutes, presunto de parma, frutas, mulheres bonitas e seguranças, que não usavam credenciais para não chamar a atenção. Até no banheiro, ele contava com a escolta.
O deleite do bicheiro, na volta ao mundo do samba, começou na Avenida sexta-feira. De camisa social branca justa, marcando os músculos, resultado de tratamento ortomolecular, calça jeans e sapatos de couro, ele curtiu o desfile do grupo de acesso. A cada intervalo do desfile, um DJ mandava ver nas picapes música eletrônica, nova paixão do bicheiro.
Na noite de domingo, no camarote pelo menos 30 pessoas aguardavam a chegada do chefe. O contraventor só deixou a Sapucaí às 5h22. Na saída, ele estava de mãos dadas com uma bela loura.
O camarote recebeu políticos. O primeiro a prestar reverência ao contraventor foi o vereador Marcelo Arar (PT). Outro que fez questão do beija-mão foi o deputado estadual Coronel Jairo (PMDB), que tem forte atuação na Zona Oeste, reduto de Rogério. Em abril do ano passado, ele foi absolvido da acusação de homicídio do primo Paulo Roberto de Andrade.