Rio - Teresa Cristina é uma das revelações do samba de raiz carioca. Sua voz dá o toque de doçura às efervescentes noites da Lapa. Uma cena absolutamente inimaginável para uma menina que era fã de Donna Summer, Barry White e de vários artistas da Motown Records (selo no qual vários intérpretes americanos e negros se lançaram). A razão da transformação tem nome e sobrenome: Antônio Candeia Filho, sambista carioca, razão do enredo de 2015 da Renascer de Jacarepaguá e motivo pelo qual, pela primeira vez em sua carreira, a cantora se aventurou a virar autora de samba-enredo.

"Minha vida se divide em A.C. e D.C, antes de Candeia e depois de Candeia. Por isso, quando recebi o convite para participar dessa parceria, não pensei duas vezes. Não dava pra ficar fora", afirmou Teresa.
O convite partiu dos compositores Moacyr Luz e Claudio Russo, diretor de Departamento Musical da Renascer. E o motivo: a verdadeira paixão que Teresa nutre pelo falecido compositor portelense.
"Tenho certeza que o Candeia esteve com a gente na hora de fazermos o samba. Foi impressionante um episódio: não estávamos juntos e pensamos num mesmo verso: “Antônio, filho da flecha certeira”. Isso foi de arrepiar", recordou Teresa, mencionando a parte do samba que diz respeito à religiosidade do homenageado, devoto do orixá Oxossi.
E imaginar que, quando era apenas uma criança, a música de Candeia era motivo de zombaria. "Meu pai, Seu Lula, era feirante. Quando ele ensacava limão para vender, eu zombava daquela música que ele ouvia na vitrola. Era Candeia. Anos depois, achei aquele disco e só entendi a maravilha que aquilo representava. Aquele disco começou a mudar a minha vida", lembrou.

Hipnotizada pela força da obra de Candeia, Teresa Cristina foi a campo para tentar conhecê-lo ainda mais. Aproximou-se de João Batista Vargens, biógrafo de Candeia e da Velha Guarda da Portela. "Eu nem sonhava em virar cantora. Mas a Velha Guarda, e principalmente Monarco, me abraçou. Me dava chance nos shows. Isso eu nunca mais vou ter como pagar", disse a cantora.