Sentado em um banco da Praça General Osório, em Ipanema, Claudio olha ao redor e começa a destacar as peculiaridades da Banda. Foi depois que uns amigos foram para Minas Gerais e assistiram ao desfile da Philarmônica em Boca Dura de Ubá, em 1959, que decidiram: tinham que fazer algo assim no Rio de Janeiro. “Em 65, reproduzimos esse modelo com a Banda. Cada um portava um instrumento. Tenho uma foto dessa época com um trombone. Mas não toco nada, fazia só figuração. Era caótico, quem mais se divertia éramos nós mesmos”, recorda-se ele, que recebia suporte de uma meia dúzia de músicos profissionais, na época.
“Assim foram os primeiros anos. Mas a resposta popular aqui no Rio é fogo. O povo fareja as coisas no ar, se junta e é ele quem comanda a festa”, diz Claudio. Conforme o público foi crescendo, a Banda começou a colecionar histórias e tradições. Criada em uma época onde quase não havia manifestações do tipo pelas ruas da Zona Sul do Rio, ela acabou estimulando a folia na região.
Outros acontecimentos também marcaram para sempre a Banda de Ipanema. Um deles foi a morte de Pixinguinha, em 1973. Já com os músicos na rua, se espalhou a notícia de que o compositor tinha morrido dentro da Igreja da Nossa Senhora da Paz, enquanto apadrinhava um menino. “Quisemos cancelar o cortejo, mas já não dava mais. Quando chegamos na altura entre a Teixeira e a Farme, começou a cair um temporal e todos já sabiam. À frente da igreja, a Banda parou e disse: vamos homenageá-lo. A partir desse momento, começou essa tradição. Todo desfile nosso, paramos naquela esquina e tocamos ‘Carinhoso’.”
Apesar das tradições preservadas com seriedade, muita coisa mudou nessas cinco décadas. Claudio lembra que a música carnavalesca popular era mais valorizada. “Tinha uma revista chamada ‘Modinha Popular’, que a moçada comprava nas bancas para decorar as músicas. Quando chegava o Carnaval, todo mundo saia cantando tudo direitinho”, diz, sem tom saudosista. “É normal que as coisas mudem mesmo. Há pontos positivos nisso também. Antigamente você tinha uma coisa mais formal. Era preciso ter fantasia para sair no Carnaval. Hoje é tudo mais livre. Se quiser se fantasiar, OK. Se não quiser, não tem problema. Respeitamos os costumes e opções individuais de cada um. A única coisa que rejeitamos é qualquer rótulo. Essa festa é democrática, não combina com isso”, avalia Claudio, que define: “O Carnaval tem dessas coisas, transforma tudo sob a máxima liberdade.”