Por bianca.lobianco

Rio - Até outro dia, a vida para o médico Carlos Gustavo Coutinho, o Gusttavo Clarão, de 46 anos, era apenas andar por aí com seu violão ao ombro e colecionar sambas campeões para a Unidos do Viradouro - foram nove de sua autoria. Mas quis o destino que a sua volta ao Grupo Especial pela agremiação de Niterói não fosse como nos carnavais que passaram. Presidente desde o rebaixamento em 2010, ele sente agora o sabor de retornar com a escola à elite do samba carioca numa circunstância pela qual jamais imaginou passar.

Presidente da Unidos do Viradouro%2C Gusttavo Clarão fala sobre a posição da escola de NiteróiCarlo Wrede / Agência O Dia

"Aqui estão as consequências. Estou barrigudo, com mais cabelos brancos e com pressão alta. Mas isso faz parte. Foi uma missão que acabei assumindo e ver as coisas agora dando certo é muito gratificante", afirmou o presidente.

O amor pelo carnaval vem de berço. Desde os três anos, Gustavo curtia a festa levado pelos braços do pai. O gosto pelas escolas de samba veio antes mesmo da adolescência.

"Com 9, 10 anos, eu decorava os LPs das escolas. Dali foi um pulo para me aproximar das escolas de Niterói, como Camisolão e União da Ilha da Conceição", contou o presidente, que morou até 13 anos em São Gonçalo antes de se mudar definitivamente para a Cidade Sorriso.

A consequência natural foi atravessar a Baía. E o destino estava ali, a poucos quilômetros do fim da parte carioca da Ponte Rio-Niterói. "Eu e meu pai fomos parar na Estácio de Sá. Isso era 1984. A gente começou a desfilar lá e ganhamos nosso primeiro samba-enredo com "O Boi dá Bode" em 1989".

A partir daí, os caminhos dos concursos de samba e de Gusttavo Clarão se cruzaram definitivamente. Na Estácio, foram mais três vitórias embora não tivesse assinado nas parcerias por estar ocupado com as aulas do curso de medicina, a qual nunca exerceu.

"Todos os sambas da Estácio que tiveram o meu pai como um dos autores também tiveram a minha participação. O mais importante foi o de 1992, "Paulicéia Desvairada", que deu à escola o seu único título no Grupo Especial. Isso é inesquecível para mim".

A vida seguiu... Gusttavo ainda passou pela Ala de Compositores da Mangueira antes de voltar à terra natal, onde entraria de vez para o rol dos grandes compositores das escolas de samba.

"Cheguei na Viradouro para a disputa de 1997. Fui à final com um samba feito com o Rubinho e com o Luiz Carlos da Vila, que, por coincidência, é nosso homenageado em 2015. Perdemos. No ano seguinte, venci com "Bibi Ferreira" e emplaquei uma série de seis anos seguidos vencendo na Viradouro", lembrou Gustavo, autor de, entre outros, "Orfeu Negro do Carnaval", considerado um dos clássicos da história de Niterói.

Depois disso, foram mais três vitórias. Até o momento em que sua vida como sambista mudou da água para o vinho. "A gente via que se, não houvesse uma mudança, a escola ia parar no Grupo B. Iniciamos um processo para assumir a presidência, mas não imaginava o que poderia acontecer. Eu e meus companheiros de diretoria entendíamos de samba, não de barracão, de administração. Quando eu sentei na cadeira de presidente, me deparei com um rombo de três milhões de reais, imagina só!", exclamou.

E para quem não entendia do riscado, Gustavo até foi muito bem. Nos quatro anos em que a Viradouro esteve na divisão de acesso, além do título, obteve dois vice-campeonatos. "Acho que passei no vestibular, né? Mas ainda está uma barra. Ainda temos um milhão e meio de reais em dívida e não é fácil fazer carnaval assim. Só que isso não está interferindo na nossa garra, na nossa disposição. Queremos reescrever a história da Viradouro", afirmou Gustavo, que poderia ter resumido tudo com uma de suas poesias, feita para a escola em 2007: "Sou Viradouro, e vou cantar / Com muito orgulho, com muito amor / Esse jogo vai virar / E eu quero ser o vencedor".

Reportagem de Fred Soares

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