Rio - A primeira noite de desfiles da Série A, na Marquês de Sapucaí, foi marcada por drama e tensão para algumas escolas e pelo o luxo e criatividade em outras. Paraíso do Tuiuti e Império Serrano foram os grandes destaques. Caprichosos de Pilares também agradou e corre por fora na disputa pelo título. O trânsito caótico do Rio e problemas com fantasias e alegorias prejudicaram as apresentações de Em Cima da Hora e Unidos de Bangu, que foram as grandes decepções e lutam para não cair.
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União do Parque Curicica e Porto da Pedra fizeram um desfile correto, porém não empolgaram. Hoje, mais oito escolas vão passar pela Passarela do Samba. Entre elas as favoritas Império da Tijuca e Estácio de Sá. Completam a lista, Alegria da Zona Sul, Acadêmicos de Santa Cruz, Inocentes de Belford Roxo, Unidos de Padre Miguel, Renascer de Jacarepaguá e Acadêmicos do Cubango. As duas últimas descem para a Série B e a grande campeã garante vaga no Grupo Especial.
Primeira escola a entrar na Avenida, porém com cinco minutos de atraso, a Unidos de Bangu, da Zona Oeste, enfrentou dificuldades já na concentração. Com o enredo ‘Imperium’, a escola contou a história dos grandes impérios da humanidade e não agradou.
Devido a um contratempo com o segundo carro, que teve problemas para entrar na Sapucaí, a bateria da escola não fez o ‘esquenta’ na concentração. Em algumas alas faltaram fantasias e sobraram reclamações. Alguns componentes sequer desfilaram.
Momentos antes do desfile, a ansiedade tomou conta das baianas. Parte do grupo precisou aguardar na concentração por saias, sapatilhas e perucas que não chegaram a tempo. Até o primeiro mestre-sala ficou sem os sapatos. Ele teve que pegar sapatilhas emprestadas. “Estou inconformada, mas vamos disputar na raça”, animou-se a doméstica Sônia Regina, 68 , da ala das baianas.
O carro abre-alas, representado por um imenso Dragão Chinês, entraria acoplado a um segundo carro. Mas quebrou e se apresentou separadamente. No meio do desfile, os componentes conseguiram reatá-lo. Buracos entre uma ala e outra também foram vistos. Quem chamou atenção foi a musa da escola, Paulina Reis, 29. Ela desfilou com os seios à mostra e ‘causou’ na Sapucaí, atraindo olhares dos torcedores.
Faltando poucos minutos para entrar na Avenida, o clima de tensão tomou conta dos componentes da Em Cima da Hora, segunda escola a se apresentar. Mais de 80% deles não receberam a tempo suas fantasias. Os 250 ritmistas da Bateria 'Sintonia de Cavalcanti' entraram somente com a parte dos ombros e os chapéus. Revoltados, parte deles jogou os chapéus no chão como forma de protesto. Já os 70 componentes da ala 'Tecidos e Tapetes' desfilaram com a roupa do corpo. Para piorar, a escola estorou quatro minutos do seu tempo de desfile e deverá ser penalizada em quatro décimos na apuração.
"A escola inteira ficou agarrada no trânsito e sofremos também com problemas financeiros. Podem acontecer imprevistos com outras agremiações, mas já estamos assimilando a possibilidade real de rebaixamento", disse o diretor de carnaval Junior Santos.
Mesmo com todas as dificuldades, a escola levou para a Avenida a presença árabe no Rio de Janeiro. Com o enredo "No Coração da cidade: Uma história das Mil e Uma noites - O Rio das Arábias" o destaque da Azul e Branco ficou por conta da união de dois quesitos. Flautistas da Comissão de Frente emitiam sons para as serpentes sairem dos cestos, em seguida um tapete vermelho era estendido para a apresentação do casal de mestre-sala e porta-bandeira, Luis Augusto e Naninha.
Com o enredo: ‘Poema aos peregrinos da fé’, que exaltou a religiosidade brasileira, a Império Serrano fez um belo desfile e empolgou o público da Apoteose. A Verde e Branco de Madureira trouxe o sambista Arlindo Cruz em sua ala de compositores. Com algumas fantasias luxuosas e carros bem iluminados, a escola arrancou aplausos logo ao entrar na Avenida, já no Setor 1. O sistema de som falhou por três vezes, mas nada que deverá prejudicar a escola.
Entretanto, uma destaque de um carro alegórico, caiu do alto do veículo e sofreu ferimentos leves. Ela despencou de uma altura de aproximadamente cinco metros e foi socorrida pelo Corpo de Bombeiros. “Trouxemos para a Sapucaí uma escola alegre e aguerrida. Temos condições de voltar ao Grupo Especial. Desfilamos com carros iluminados e 2.800 componentes”, destacou o diretor de Carnaval, Egas Muniz.
Entrar após a Império Serrano era um desafio de fogo, mas a Paraiso de Tuiuti tirou de letra. Fantasias e alegorias luxuosas e o colorido do desfile encantaram o público. O pontos alto da escola de São Cristóvão foi a terceira alegoria, que representou uma comilança tupinambá relatada pelo escritor alemão Hans Staden, inspiração do enredo. Um boneco gigante devorava um viajante europeu. Os bichos papões da comissão de frente também engolia um dos integrantes que saia logo depois em forma de esqueleto.
"A sensação é de dever cumprido. Conseguimos passar a proposta que era representar o imaginário do povo europeu que achavam que os índios eram monstros que comiam gente", disse o coreógrafo da Comissão de Frente Junior Scapin.
Outro fato que chamou a atenção no desfile foram os números de paradinhas da bateria. Os 200 ritmistas fizeram quatro no total, sendo que uma delas, no segundo refrão, durou quase 10 segundos. O público aplaudiu, resta saber se os jurados irão aprovar. "A cadência, a afinação e a divisão equilibrada dos instrumentos são nossos diferenciais. A ideia da paradinha mais longa foi mostrar o canto da comunidade", destacou o mestre Ricardinho que está há oito anos na escola.
Apesar de ter cumprido à risca o tempo determinado para o desfile, a escola teve dificuldade para tirar os carros da área da dispersão e por isso teve que dar uma acelerada no final, podendo assim perder pontos em evolução.
A União do Parque Curicica desfilou no Sambódromo com o enredo ‘Os Três Tenores do Samba’ em homenagem aos sambistas Martinho da Vila, Monarco da Portela e Arlindo da Cruz.
A bateria foi destaque e deu show, empolgando o público em vários momentos da apresentação. Na comissão de frente, 15 bailarinos com sapatilhas de ponta se transformaram em malandros, sempre com muito samba no pé e ganharam aplausos dos jurados.
Um dos homenageados, o compositor Arlindo Cruz desfilou no alto do segundo carro da escola, acompanhado da mulher Babi. A agremiação passou sem problemas pela dispersão, terminando o desfile em 55 minutos. Num carro alegórico, componentes desfilaram fantasiados de Zé Pilintra. “Fizemos um desfile maravilhoso. É bom ser homenageado”, comemorou Arlindo Cruz.
O tradicional Tigre chamou a atenção mais uma vez no desfile da Porto da Pedra, penúltima escola a se apresentar. O enredo "Há uma luz que nunca se apaga", do carnavalesco Wagner Gonçalves, navegou na energia e na luz. O sambista Dudu Nobre, um dos compositores do samba-enredo da agremiação desfilou junto com a diretoria. A atriz Solange Gomes e a rainha de bateria Bianca Leão brilharam com suas fantasias luxuosas.
Um dos destaques foi a apresentação do casal de mestre-sala e porta bandeira José Roberto e Thaís Romi. Com uma fantasia que representava o arco-íris, a dupla esbanjou simpatia e foi muito aplaudida. Eles tiveram um apresentador ilustre: o coreógrafo da comissão de frente da Vila Isabel, Jaime Arôxa. "Foi algo novo para mim. Fiquei tímido, mas gostei do resultado final e acho que eles têm tudo para manterem a nota 10. São incríveis", ressaltou.
A Caprichosos de Pilares encerrou a noite com uma comissão de frente descontraída. A Azul e Branca de Pilares apresentou fantasias alegres e abusou das cores. Com o enredo ‘Na minha mão é mais barato’, que falou sobre o comércio em todas as suas modalidades, a escola causou frisson com sua comissão de frente, grande destaque do desfile. Os bailarinos vestidos de Guarda Municipal faziam coreografias ao lado de uma camelô, representando o famoso ‘rapa’.
A rainha de bateria Milena Nogueira, que teve a sua fantasia representando o ‘Artigo de Primeira’, também encantou por sua beleza e muito samba no pé. No segundo carro alegórico ‘Tem Xepa no Brasil Colonial’, a destaque desfilou com os seios à mostra.
A terceira alegoria, ‘Saudade do Rio Antigo’, falou sobre o trabalho ambulante nas ruas do Rio Antigo. A escola fechou o desfile sem problemas e disputa ao lado de Paraíso do Tuiuti e Império Serrano, o título de melhor escola da noite, embora não tenha empolgado tanto quanto as outras duas agremiações e tenha pecado em alegoria.
O presidente da Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (LIERJ) Déo Pessoa. fez um balanço da primeira noite de desfiles. “Tivemos problemas com som e escolas sem fantasias, mas nada que atrapalhasse a garra destas escolas. Fazer Carnaval em plena sexta-feira é difícil”, concluiu.