Por adriano.araujo

Rio - O último dia de apresentações dos desfiles das escolas de samba da Série A foi digno de Grupo Especial. Diferente de sexta quando algumas escolas apresentaram problemas técnicos e falta de fantasias, desta vez as oito agremiações que passaram pela Marquês de Sapucaí, na madrugada de sábado para domingo, deixaram boas impressões e acirraram ainda mais a disputa pelo título. Unidos de Padre Miguel e Estácio de Sá foram os grandes destaques, terminado suas apresentações com gritos de 'é campeã'. Império da Tijuca também fez um belo desfile e corre por fora. Elas se juntam a Paraíso do Tuiuti e Império Serrano que brilharam na sexta.

GALERIA: Confira fotos do desfile da Série A

Inocentes de Belford Roxo foi bem, mas não empolgou. Acadêmicos do Santa Cruz, Acadêmicos do Cubango e Alegria da Zona Sul fizeram uma apresentação suficiente para não correr risco de rebaixamento. Já a Renascer de Jacarepaguá deve disputar a permanência na série A com a Unidos de Bangu e Em Cima da Hora.

Estácio de Sá levantou o público na SapucaíErnesto Carriço / Agência O Dia

Das oito escolas, quatro prestaram homenagens a nomes da cultura brasileira: Grande Otelo (Acadêmicos de Santa Cruz), Nelson Sargento (Inocentes de Belford Roxo), Candeia (Renascer de Jacarepaguá), e Ariano Suassuna (Unidos de Padre Miguel). O aniversário de 450 anos do Rio também foi lembrado na Avenida pelas escolas Alegria da Zona Sul e Estácio de Sá.

Com o enredo ‘Kari'oca’, a Alegria da Zona Sul, entrou na Avenida celebrando a carioquice e os 450 anos da cidade do Rio, mas teve problemas com o segundo carro alegórico, que demorou quase 10 minutos para entrar na Marquês de Sapucaí. Os integrantes desfilaram com entusiasmo.

A irreverência contada e cantada pela escola já deu o tom logo no carro abre-alas, que trouxe oito modelos plus size e seis homens ‘sarados’.

A comissão de frente retratou o Largo da Carioca, com a correria do dia a dia de personagens da cidade. “O Carnaval é para todos”, disse a componente Larisa torres, de 27 anos, uma das modelos do carro. A escola ainda trouxe alas homenageando o ‘Carioca da Gema’, o Cristo Redentor e os ambulantes.

Segunda escola a desfilar, a Acadêmicos de Santa Cruz homenageou o ator e comediante Grande Otelo, um dos principais comediantes do teatro do século passado, com vasta carreira também no cinema brasileiro. O desfile abordou desde os primeiros passos do artista ainda no circo até os anos dele no rádio e na TV.

A grande surpresa do desfile foi a Bateria Tabajara, comandada pelo Mestre Riquinho. Componentes fizeram paradinhas e correram na Sapucaí, mas não foi por falta de tempo não, fazia parte da coreografia mesmo. A Rainha Jaqueline Maia brilhou a frente dos ritmistas com sua fantasia que representava a paixão de Otelo pelo cinema.

G.R.E.S. Unidos de Padre MiguelErnesto Carriço / Agência O Dia

O abre-alas que representou um grande circo com esculturas de 10 metros de um palhaço, elefante, tigre e um cavalo teve problemas em sua iluminação e por isso a escola pode perder pontos em alegoria. Alguns componentes não cantaram o samba, prejudicando assim também os quesitos harmonia, conjunto e evolução.

Terceira escola a desfilar, a Inocentes de Belford Roxo fez um grande desfile, porém não empolgou. Ela caprichou nos carros-alegóricos e apostou em mulheres bonitas para chamar atenção dos julgadores. Nelson Sargento foi o grande homenageado. Ele chegou à concentração do Sambódromo numa cadeira de rodas.

Durante o desfile, o tradicional mangueirense de 91 anos foi saudado pelo público. Sargento desfilou no último carro da escola ao lado da esposa e num dos momentos da apresentação, teve que beber água após sentir forte calor.

“Ser homenageado é um reconhecimento de que fiz um bom trabalho. Fui coroado”, disse o sambista.

Na comissão de frente, um dos bailarinos simulou tocar violão, homenageando Sargento.

Graciele Chaveirinho, musa da escola, que representou a deusa do ébano, chamou atenção pelo topless e biquíni fio dental.

A Unidos de Padre Miguel foi a quarta escola a desfilar e foi tecnicamente perfeita. O samba sobre o dramaturgo Ariano Suassuna foi entoado com força na Avenida. Na comissão de frente, os integrantes representaram os trabalhadores nordestinos e depois viraram cavaleiros. Teve ainda a figura do cramulhão, uma espécie de demônio que aterrorizava o escritor. A fantasia dos bailarinos era feita de metal, e cada um deles levava um livro preso na cabeça. A surpresa ficou por conta de um tripé com a imagem de Nossa Senhora e de Suassuna.

G.R.E.S. Império da TijucaErnesto Carriço / Agência O Dia

As alegorias chamaram atenção pelo luxo e tamanho. O abre-alas trouxe dois grandes cavalos que se movimentavam e se misturavam com um imenso palhaço. O último carro emocionou com a representação de uma igreja, em seus bancos tinha o lado do bem e o do mal, uma alusão a peça "Auto da Compadecida", uma das principais obras do dramaturgo. Claro, não poderia faltar a Nossa Senhora. Imagens de Suassuna passaram no telão. As fantasias também estavam luxuosas.

A bateria do mestre Dinho empolgou. Representando os heróis de barro, os ritmistas tiveram à frente, a rainha Ana Paula Evangelista, que representava a cangaceira Maria Bonita. No final, a escola acelerou o passo para não estourar o tempo e passou justamente no limite de 55 minutos.

"Há muitos anos que a gente não via essa empolgação até mesmo no Grupo Especial. A Sapucaí virou um grande forró. Fizemos uma apresentação digna de uma escola campeã", destacou o intérprete Marquinho Art Samba.

Mostrando garra para voltar ao Grupo Especial no ano que vem, a Império da Tijuca, com enredo: ‘Império nas Águas Doces de Oxum’, aparece como uma das grandes favoritas ao título. A Verde e Branco da Zona Norte surpreendeu logo no início quando um carro alegórico, utilizando 5 mil litros de água reaproveitada do barracão, surgiu pelo setor 1. Nele, lindas mulheres saíram com os seios à mostra.

Desfile da G.R.E.S. Acadêmicos de Santa CruzJoão Laet / Agência O Dia

Em dourado, azul e branco, o abre-alas simbolizava o reino e tesouro de Oxum. A atriz Erika Januza veio representando Oxum. Na Comissão de Frente, 15 bailarinos evoluíram mostrando a fertilidade da orixá.

No terceiro carro, a atriz e cantora Emanuelle Araújo veio representando Iemanjá. Selminha Sorriso, porta-bandeira da Beija-Flor de Nilópolis, também foi destaque. A escola vestiu as baianas de senhoras das águas doces. Elas soltaram bolinhas de sabão pela avenida.

A Renascer de Jacarepaguá foi a sexta escola a entrar na Sapucaí. Diante de uma leve garoa, a agremiação entrou na Avenida para se manter na Série A. A escola da Zona Oeste homenageou o sambista, cantor e compositor Antônio Candeia Filho, que faria 80 anos em 2015, se estivesse vivo. Com Teresa Cristina no carro de som, o samba foi o destaque do desfile. "Candeia me fez sambista, comecei a cantar por causa dele. Homenageá-lo na Avenida era tudo que pedi a Deus. O coração estava na boca", contou a cantora.

No abre-alas, a destaque Luciana Conceição desfilou com os seios à mostra. Já a segunda alegoria representou a família da Portela, escola de coração de Candeia, onde compôs diversos sambas. Vários portelenses estavam na alegoria, entre eles a Tia Surica, uma das fundadoras da Azul e Branca. "Portela é uma família e o Candeia fazia parte dela. O espírito dele vai iluminar a Renascer", afirmou Surica. Logo após este carro, componentes abriram uma roda de capoeira.

Paraíso do Tuiuti%2C quarta a passar na Avenida%2C surpreendeu o público com fantasias luxuosas e coloridasErnesto Carriço / Agência O Dia

A surpresa ficou por conta de duas alegorias que emitiram sons. A segunda, o ruido da águia da Portela e a quarta os atabaques dos quilombos. Três passistas da ala entre malandros e mulatas chegaram apenas no meio do desfile e podem prejudicar a evolução da escola. "Se tirar em 13º não tem problema devido as dificuldades que tivemos. Fizemos um desfile para não cair e acho que vamos conseguir o objetivo", revelou o carnavalesco Jorge Caribé.

Cantando a realeza africana de Niterói, a Acadêmicos do Cubango foi penúltima escola a desfilar. Com belas fantasias e cores fortes, a escola exaltou a identidade africana e mostrou a relação de sua cidade com o tráfico de escravos. Os integrantes pediram o fim do preconceito e do racismo no Brasil. Cubango se apresentou com fantasias coloridas e luxuosas.

Entre os destaques a comissão de frente, que levou o cortejo do Rei do Congo. Bailarinos fizeram acrobacias tribais com movimentos circences diante dos julgadores.

Uma das grandes atrações foi o grupo de 20 bufões africanos que saudou o cortejo do rei. A curiosidade eram os pés mecânicos usados pelos integrantes. Eles atravessaram a avenida a meio metro de altura em saltos de cinco centímetros. O grupo faz parte do Circo de la Costa, do coreógrafo Roberto de La Costa, responsável pela comissão de frente.

Na bateria do Mestre Maurão, componentes se vestiram de abutres da ganância. A frente dela, a rainha da bateria, Cris Alves, veio vestida de ouro da cobiça. A escola encerrou o desfile com 55 minutos de desfile, porém não deve lutar pelo título, embora esteja longe de ser rebaixada.

G.R.E.S. Inocentes de Belford RoxoErnesto Carriço / Agência O Dia

Última escola a entrar na Avenida, a Estácio de Sá não deixou ninguém dormir. Com fantasias e alegorias luxuosas, a Vermelha e Branca emocionou ao exaltar as belezas do Rio de Janeiro pelos seus 450 anos. A comissão de frente veio com os bailarinos vestidos de malandro e um leão que tocava pandeiro. O grupo ressaltou a importância dos sambistas da escola para o desenvolvimento da folia carioca.

Já o abre-alas contou a história da chegada de Estácio de Sá ao Rio de Janeiro. Uma caravela entrava no meio da ala do mar da Guanabara. Um leão gigante impressionou. A juba do animal foi formada por 62 componentes. A última alegoria também agradou pelo efeito de água com bolhas destacando o Cristo Redentor e por bolos lançados ao público em comemoração aos 450 anos do Rio.

A bateria do mestre Chuvisco veio com metade do seus ritmistas de vermelho e a outra de branco, relembrando as cores da escola. Os ritmistas fizeram três paradinhas e coreografias que levantaram o público. Outra novidade na bateria foi que além da rainha, teve um rei. Luana Bandeira e Mayombe Masai representaram o berço do samba, no caso a própria Estácio de Sá.

O intérprete Dominguinhos do Estácio emocionou a todos com seu grito de guerra. "Tem um monte de gente falando que é campeão aí, mas só se ganha na Avenida. A Estácio está forte na briga", concluiu confiante.

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