Rio - Com o polêmico enredo exaltando Guiné Equatorial, a Beija-Flor de Nilópolis sagrou-se campeã do Carnaval carioca pela décima terceira vez. A escola resgatou sua alma africana na Marquês de Sapucaí. O diretor de Carnaval da escola Laíla e o intérprete Neguinho da Beija-Flor caíram no choro após a confirmação do título. Neguinho lembrou a volta por cima da escola após o sétimo lugar no ano passado. "Aquele sétimo lugar estava engasgado. Fizemos um desfile lindo. Eu estou muito emocionado".
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Laíla assistiu à apuração fora do box da Beija-Flor, longe das câmeras e da diretoria. Muito nervoso, a todo momento, a cada nota 10, colocava as mãos nas guias de candomblé e dizia, "obrigado meu pai". O nervosismo era amenizado com muita cerveja. "Só quem viveu este ano o barracão sabe o que passamos. Apanhamos muito, injustamente. Mas a escola fez o que sempre faz. Com muita garra, muita dedicação e amor e fez um carnaval impecável", disse o diretor de Carnaval.
"Estava entalado na garganta. Nunca disse que merecíamos o título no ano passado. O Salgueiro merecia. Mas apanhamos demais. Este ano, modéstia à parte e com todos os respeitos às demais, seria covardia tirar da gente", completou.
O presidente de honra da escola, Anísio Abraão David e o ditador de Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, são aguardados na quadra da escola, em Nilópolis. Segundo a direção da Beija-Flor, quinze mil latas de cerveja foram liberadas para a grande festa de comemoração.
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Estima-se que sete mil pessoas lotam a quadra, cantando sem parar o samba que foi vencedor. Entre os mais empolgadados está o mestre de bateria Rodinei Ferreira, 50 anos. "Merecíamos esse título, pois não erramos praticamente nada este ano", afirmou Rodinei, que comemora seu sétimo título à frente da bateria da azul e branca. Dirigentes da escola começam a chegar à quadra para coordenar a festa que promete ir até o dia amanhecer. Seguranças estão tento trabalho para conter a euforia dos torcedores que não param de chegar.
Um dos integrantes da equipe de Carnaval, Fran-Sérgio disse que os jurados este ano deram notas mais justas para as escolas. "Ano passado nós fomos roubados e por isso ficamos mal na colocação geral. Este ano demos a resposta", afirmou o carnavalesco, que comemora seu oitavo título na beija-flor.
Mordida pela sétima colocação no Carnaval de 2014, a Beija-Flor entrou na Avenida com objetivo de resgatar sua alma africana, como exaltava um dos versos do samba. Ao fazer um passeio pela história da Guiné Equatorial, a escola fez uma apresentação praticamente sem erros e se colocou como favorita ao campeonato.
Com fantasias e alegorias bastante luxuosas, a escola impressionou quem estava na Avenida, mérito da comissão de carnaval que concebeu seu melhor trabalho nos últimos anos. O único senão ficou por conta do desenvolvimento do enredo, prejudicado pela falta de leitura de alguns figurinos.
Um dos pontos altos da Beija-Flor foi a passagem do casal de mestre-sala e porta-bandeira Claudinho e Selminha Sorriso. Com uma belíssima fantasia, a dupla mostrou seu habitual entrosamento e desfilou com muita garra, disposta a recuperar os décimos perdidos no último Carnaval.
Sem vencer desde 2011, a Beija-Flor mostrou que não se deixou abater pela polêmica gerada com a escolha do enredo - teria recebido R$ 10 milhões do governo ditatorial da Guiné - e realizou um desfile de alto nível.
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Fotos: AYRTON360, Andréa Simões e Eduardo Frick